sexta-feira, 16 de maio de 2014

NEGÓCIOS: Em meio à crise de energia, três empresas do setor anunciam alta nos lucros

De OGLOBO.COM.BR

Eletrobras teve ganho de R$ 986 milhões, Cemig, de R$ 1,25 bilhão, e Light, de R$ 181 milhões
Estatal mineira não aderiu ao pacote anunciado em 2012 pelo governo para reduzir preços
Linhas de transmissão de energia elétrica Dado Galdieri
RIO - Em meio à crise na energia, três empresas divulgaram nesta sexta-feira lucros bilionários nos três primeiros meses do ano, auge da onda de calor que ocasionou forte redução do nível dos reservatórios e explosão no consumo. A estatal mineira Cemig, que não aderiu ao pacote do governo no ano passado, teve alta de 44,5% no lucro líquido de janeiro a março, frente ao mesmo período do ano anterior, totalizando R$ 1,25 bilhão. Já a Eletrobras obteve ganho de R$ 986 milhões, enquanto no primeiro trimestre do ano passado havia registrado prejuízo de R$ 36 milhões. A Light, por sua vez, divulgou resultado líquido 129,5% melhor: lucro de R$ 181 milhões no período, diante do aumento no consumo na empresa, que vem recebendo repasses do Tesouro Nacional dentro do pacote de socorro do governo.
O socorro ao setor elétrico já soma R$ 24,2 bilhões este ano. E o montante pode não ser suficiente para sanar os problemas por que passa o setor, com um cenário de chuvas escassas e uso intenso de usinas térmicas, uma energia suja e cara. Dos R$ 24,2 bilhões de socorro, entram no cálculo o aporte do Tesouro Nacional de R$ 9 bilhões previsto no Orçamento deste ano — que será custeado via Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), com impacto de 4,6% na conta de luz este ano — e o empréstimo de R$ 11,2 bilhões ao setor via Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Um novo aporte, de R$ 4 bilhões, anunciado em março deste ano, não foi considerado porque ainda não está claro como será custeado.
O crescimento no lucro da Cemig foi puxado pelo aumento de 38,82% no resultado operacional antes do resultado financeiro e impostos, e também pelo aumento de 80,75% nas receitas financeiras na comparação anual. A geração de caixa medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) somou R$ 2,11 bilhões entre janeiro e março, alta de 32,55%, e também acima das expectativas de R$ 1,67 bilhão. A receita líquida da companhia teve alta de 29,45% sobre um ano antes, para R$ 4,76 bilhões. Na divulgação de resultados, a Cemig afirmou que “a situação de abastecimento continua desafiadora” no setor. A estatal registrou um aumento de 7,75% na energia vendida no primeiro trimestre sobre o mesmo trimestre de 2013.
A Light registrou crescimento de 7,8% no consumo de energia, com aumento de 13,6% no segmento residencial e de 8,3% no comercial, diante da alta de 1,3º C na média de temperatura do trimestre ante mesmo período de 2013. A Eletrobras informa que a maior responsável pelo lucro no primeiro trimestre foi a subsidiária Eletronorte, com ganho de R$ 1,1 bilhão.
Além disso, a empresa destaca a reversão das perdas dos investimentos da companhia na Cemat, a companhia de energia de Mato Grosso, que haviam sido provisionados como de difícil recuperação quando esta era administrada pelo Grupo Rede. Como a empresa foi negociada com a Energisa, a Eletrobras reverteu a provisão, no valor de R$ 334 milhões. A venda de energia de Jirau elevou o resultado do trimestre em R$ 258 milhões. A companhia teve um prejuízo líquido no valor de R$ 5,5 milhões no quarto trimestre do ano passado, o que levou a um resultado negativo anual de R$ 6,3 bilhões em 2013.
Relatório do Operador Nacional do Sistema (ONS) que mostra que os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste podem chegar a 15,7% em novembro, início do período chuvoso. O cálculo considera que entre maio e novembro o índice de chuvas seria de 75% da média histórica para o período. O patamar é inferior ao dos piores momentos de 2001, o ano do racionamento, quando o patamar dos reservatórios na mesma região foi de 20%. Atualmente, o patamar dos reservatórios está em 37,7%.
O problema no setor elétrico começou em meados de 2012, quando o governo decidiu forçar uma queda no preço da energia elétrica para famílias e empresas. A redução perseguida era de 20% e seria obtida com a antecipação da renovação das concessões das empresas do setor elétrico, que teriam maior prazo para atuar em troca de uma queda nos preços. Além da Cemig, duas grandes empresas estatais estaduais (Cesp e Copel, sendo as três de estados administrados pela oposição ao governo federal) não aderiram ao programa, mas o governo decidiu, mesmo assim, manter o patamar de redução perseguido, o que iniciou o processo de subsídios no setor.
Em 2013, o país começou a sofrer falta de chuvas e aumento de consumo. Para piorar, diversas obras do setor elétrico estão atrasadas e há casos, inclusive, de geração eólica em funcionamento, mas que não atendem ninguém por falta de linhas de transmissão. Em 2014, mais problemas: a estiagem ficou mais forte e os reservatórios de algumas hidrelétricas chegaram aos piores índices desde o racionamento de 2001. Assim, a conta das termelétricas, cuja energia é mais cara, só fez aumentar: atualmente, quase toda a capacidade disponível deste tipo de energia está em operação. E o governo decidiu não repassar aos consumidores as contas do setor de 2013 devido ao impacto impopular desta medida em ano eleitoral. Isso gerou o rombo bilionário que está sendo coberto agora.

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