De OGLOBO.COM.BR
Delegado aponta que setores do governo Agnelo
teriam ligações com o bicheiro
BRASÍLIA - O delegado da Polícia Federal Matheus Mela Rodrigues, responsável
pela Operação Monte Carlo, apontou indícios de envolvimento do governador de
Goiás, Marconi Perillo, com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Segundo o senador
Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), durante depoimento nesta quinta-feira à CPI do
Cachoeira, o delegado mencionou pelo menos quatro situações que caracterizariam a proximidade do governador com o contraventor. Das conversas gravadas com autorização judicial, a polícia registrou dois telefonemas do governador para o
bicheiro e dois encontros.
Ao longo da operação, a Polícia Federal acumulou 250 mil horas de conversas
interceptadas do bicheiro Carlinhos Cachoeira e integrantes da organização
liderada por ele, disse o delegado. Ele afirmou que na Operação Monte Carlo
foram feitas citações de 81 autoridades e que existem 3.753 gravações que tratam
e envolvem políticos, como Demóstenes Torres (sem partido-GO).
O delegado também apontou o envolvimento da organização criminosa com setores
do governo do Distrito Federal, administrado por Agnelo Queiroz. Segundo a
interpretação de Randolfe, as situações são diferentes. Em Goiás, a suspeita
recai até sobre o governador. No DF, as acusações estão relacionadas a
integrantes do governo.
- Há relações (da organização de Cachoeira) nos governos de Goiás e do
Distrito Federal, mas mais intensamente no governo de Goiás. Há necessidade de o
governador (Marconi Perillo) vir à CPI. O nome de Perillo é citado 270 vezes nas
conversas de Cachoeira e outros integrantes da organização - afirmou
Randolfe.
Randolfe defendeu também a convocação de Agnelo Queiroz. Como aconteceu na
terça-feira com o delegado Raul Alexandre Marques Souza, responsável pela
Operação Vegas, o depoimento do delegado Matheus Rodrigues ocorre a portas
fechadas. A imprensa não tem acesso ao local.
O deputado deputado Silvio Costa (PTB-PE) discordou da versão de Randolfe
sobre o relato do delegado. Eles bateram boca, e deputado chegou a dizer que o
senador estava precisando de “remédio no ouvido”.
- O delegado disse que Demóstenes estava com Marconi, passou o telefone para
o governador e disse que era aniversário de Cachoeira. E Marconi deu parabéns -
disse o deputado, ao que Randolfe retrucou, dizendo que não era isso que teria
ouvido.
- Quando isso tudo sair amanhã Vossa Excelência vai posar de ético na opinião
pública e eu vou posar mal. Só que eu estou posando com responsabilidade - disse
SIlvio Costa.
Delegado afirma que Delta fez pagamentos a Cachoeira
Delta também deve ser ouvida, defende Randolfe. Ele afirma que deve ocorrer a
convocação urgente do ex-presidente da construtora, Fernando Cavendish, e outros
dirigentes da empresa. O senador ficou surpreso com o grau de envolvimento da
Delta com a organização de Cachoeira. Pelas informações do delegado, a empresa
de Cavendish fez vários depósitos para três empresas de Cachoeira em nome de
laranjas: JR, Brava e Alberto Pantoja. A polícia suspeita que a movimentação
fazia parte do processo de lavagem do dinheiro da contravenção.
Pelas anotações do senador Randolfe, a polícia interceptou 250.959 ligações
ao longo da operação Monte Carlo, iniciada no final de 2010. O delegado
coordenador da investigação considerou que 16 mil delas são importantes. São
diálogos relacionados à exploração ilegal de jogos e à corrupção. A partir das
conversas, o delegado preparou um relatório de 300 páginas sobre encontros
"fortuitos", conversas captadas casualmente entre Cachoeira e outros integrantes
da organização com políticos que, por prerrogativa de foro, não podem ser
investigados pela Polícia Federal sem autorização prévia do Supremo Tribunal
Federal (STF).
O delegado revelou também que 30 máquinas caça-níqueis proporcionavam
faturamento de R$ 1 milhão por mês a Cachoeira.
A previsão do relator é que o depoimento do delegado demore mais de sete
horas. Depois dele, ainda falarão os procuradores da República Daniel de Resende
Salgado e Léa Batista de Oliveira, responsáveis pela investigação da
operação.
A reunião começou às 10h35 com 26 parlamentares inscritos para inquirir o
delegado e os procuradores. A previsão é de que cada depoente faça uma exposição
inicial com duração de 20 minutos, seguindo-se as perguntas dos parlamentares.
Cada um deles poderá demorar até 25 minutos na formulação de questões. A
expectativa dos deputados é que seja uma sessão longa
- Oito horas, na melhor das hipóteses - estimou o deputado Odair Cunha
(PT-MG), relator da CPI.
O acesso à reunião será restrito aos parlamentares integrantes da CPI. O
objetivo é evitar o vazamento de informações contidas no inquérito sigiloso que
está sendo analisado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O depoimento de
Carlinhos Cachoeira foi agendado para o dia 15.
Matheus Mela Rodriges e o delegado responsável pela Operação Vegas, Raul
Alexandre Marques de Souza, deverão conferir nesta quinta-feira no Senado se os
volumes relativos às investigações remetidos pela Justiça incluem tudo o que foi
produzido pela Polícia Federal. Em seu depoimento na terça-feira, Raul
Alexandre disse que o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) era braço
político da organização de Cachoeira.
A fala do delegado à CPI complicou a situação do procurador-geral da
República, Roberto Gurgel. O procurador recebeu o relatório da Vegas em 15 de
setembro de 2009 e nada fez. Gurgel só pediu abertura de inquérito contra
Demóstenes no STF em 27 de março deste ano, cinco dias depois de O GLOBO revelar
o conteúdo das ligações entre o senador e Cachoeira. Gurgel
reagiu às críticas sobre sua atuação no caso Cachoeira.
Deputado reclama do formato dos documentos entregues à
CPI
O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), integrante da CPI que investiga as
relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira, reclamou do formato dos arquivos que
compõem a investigação da operação Monte Carlo, realizada pela Polícia Federal.
Segundo o deputado, os arquivos enviados pela Justiça Federal de Goiás estão em
formato de imagem, e não de texto, inviabilizando a investigação. Sampaio disse
que vai pedir verbalmente ao presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB),
para que ele requisite à Polícia Federal os arquivos em formato de texto.
- Foram enviados para cá documentos com imagem e não com texto. Portanto nós
não podemos fazer a busca por uma pesquisa específica. Tudo que formos fazer
temos que consultar página por página. Isso é impossível e inviabiliza a
investigação.
Na manhã desta quinta, os dois delegados da PF que devem depor à CPI
estiveram na sala-cofre onde estão guardados sob sigilo os documentos das duas
investigações, checando se todo o material já estava disponível aos membros da
CPI.
Alguns parlamentares, como o próprio Sampaio, vem reclamando que não estão
conseguindo encontrar o material da Operação Vegas, realizada pela PF em
2009.
- Os delegados estão certificando, olhando as máquinas, vendo o armazenamento
das imagens, as informações, os textos, os inquéritos. Estão tomando
conhecimento cada um das suas operações - disse o presidente da CPI, senador
Vital do Rêgo.
- Eles vão falar hoje, dar uma resposta à presidência da CPI -
acrescentou.
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