quinta-feira, 1 de junho de 2017

ECONOMIA: Para economistas, ainda é cedo para decretar fim da recessão

ESTADAO.COM.BR
Anna Carolina Papp, O Estado de S.Paulo

Apesar das comemorações de Temer e Henrique Meirelles com fim de resultados no vermelho, analistas ponderam que situação ainda é preocupante

O presidente Michel Temer ao lado do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles Foto: Marcos Corrêa/PR

Apesar das comemorações do presidente Michel Temer e do ministro da Fazenda Henrique Meirelles de que a alta do PIB após oito trimestres seguidos no vermelho crava o fim da recessão – a mais longa da história do País –, economistas ponderam que o resultado deve ser analisado com cautela e que o ritmo da recuperação ainda é incerto, sobretudo com a crise política desencadeada com as recentes delações da JBS.
Logo após a divulgação dos resultados do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2017, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), Temer escreveu em sua conta no Twitter que "acabou a recessão". O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em nota, classificou o dia como "histórico". "Depois de dois anos, o Brasil saiu da pior recessão do século", afirmou. 
Para a economista Monica de Bolle, pesquisadora do Instituto Peterson de Economia Internacional, ainda é cedo para comemorar. "Ao contrário do que o Meirelles falou, não há nada histórico no dia de hoje, pois o resultado positivo do PIB se deve inteiramente ao setor agropecuário, com a safra recorde de milho. O restante ainda está todo no vermelho, tanto do lado da produção como do lado da demanda – com exceção das exportações, que em parte também refletem a safra recorde", observa. "Essa ideia de que a recessão acabou é não só falaciosa como prematura, diante de uma crise política que só se agrava."
PIB do 1º tri 2017: veja o desempenho por setor

O Brasil entrou na chamada recessão técnica no segundo trimestre de 2015, quando acumulou dois trimestres consecutivos de queda do PIB. Economistas explicam, porém, que o acúmulo de dois trimestres de contração não é a única premissa utilizada para identificar uma recessão econômica – e tampouco o seu fim. "É preciso olhar os indicadores como um todo, para ver se a economia está saudável e reagindo", afirma a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria Integrada. 
Ela explica que a saída de uma recessão depende de uma recuperação consistente da atividade econômica, que não esteja calcada em apenas um setor, como agronegócio. "Temos de fato uma diminuição do ritmo de queda, uma melhora relativa em curso, mas o PIB do próximo trimestre ainda deve ser negativo", avalia. "Considerando a queda de inflação e de juros, essa recuperação deve ficar mais evidente apenas no segundo semestre", diz. 
O economista Roberto Troster aponta também que a avaliação depende da base de comparação. "Se você medir o primeiro trimestre deste ano com trimestre anterior, o PIB é positivo Porém, se você medir com o mesmo período do ano passado, o resultado ainda está negativo. É preciso olhar o cenário como um todo", observa. Na comparação do primeiro trimestre deste ano com os primeiros três meses de 2016, houve queda de 0,4%.
Para a coordenadora de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rebeca Palis, é preciso "esperar para ver o que vai acontecer neste ano ainda" antes de afirmar que a recessão ficou para trás.
"Tivemos um crescimento no primeiro trimestre, até expressivo, só que contra uma base reduzida. Tivemos oito trimestres seguidos de queda. Então vamos ver o que virá aí para a frente", afirmou.
Questionada sobre os efeitos da crise política nas contas do segundo trimestre e também sobre os indicadores antecedentes mais fracos, Rebeca respondeu que "tudo influencia". Ela destacou ainda os efeitos da agropecuária na economia brasileira, que devem continuar contribuindo no período de abril a junho, principalmente, as culturas de soja e o milho.
Para Alessandra, da Tendências, a crise política deve afetar variáveis mais sensíveis a confiança, como investimento, sobretudo em bens de capital, mas deve ter influência pequena no resultado do PIB como um todo. "Temos fatores determinantes um pouco melhores para consumo, como queda de inflação, aumento do rendimento médio real e o crédito, que mostrou uma reação já em janeiro, e isso deve equilibrar a conta do número final", afirma. A consultoria projeta crescimento do PIB de 0,3% para 2017.
/Colaboraram Daniela Amorim, Fernanda Nunes e Vinicius Neder

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