segunda-feira, 28 de setembro de 2015

POLÍTICA: Dilma tenta conciliar corte com o apetite do PMDB

OGLOBO.COM.BR
POR FERNANDA KRAKOVICS E ISABEL BRAGA

Para desfazer mal-estar com Temer, presidente teria que dar à legenda sete ministérios

Dilma, entre os ministros Aloizio Mercadante (esquerda) e Ricardo Berzoini, durante reunião com líderes da base aliada na Câmara, no Palácio do Planalto- Agência O Globo / Givaldo Barbosa

BRASÍLIA E NOVA YORK — A semana será decisiva para a presidente Dilma Rousseff, que chega de Nova York na noite desta segunda-feira e tem como tarefas destravar a reforma ministerial e garantir apoio no Congresso para a manutenção dos vetos ao reajuste do Judiciário e à correção das aposentadorias e pensões pelo salário-mínimo. O desafio agora é conciliar o objetivo anunciado da reforma — corte de dez ministérios — com o apetite do PMDB, que travou o anúncio da reforma, na semana passada. Para acomodar todas as correntes do partido e desfazer o mal-estar com o vice-presidente Michel Temer, Dilma teria que dar à legenda um espaço ainda maior: sete ministérios.
Pelo desenho que está sendo costurado, o espaço do PMDB do Senado seria o de manutenção de Kátia Abreu (Agricultura) e Eduardo Braga (Minas e Energia) em seus postos, e a garantia de que Helder Barbalho (Pesca), filho do senador Jader Barbalho (PMDB-PA), será transferido para o comando de outra pasta, na hipótese provável de extinção da Pesca. No caso da Câmara, o líder da bancada, Leonardo Picciani (RJ), insiste que foi a própria presidente Dilma Rousseff quem ofereceu os dois ministérios à bancada.
No domingo, Picciani reforçou que não há qualquer veto do PMDB da Câmara a que Dilma mantenha outros companheiros do partido no Ministério. “Não é fato que a bancada exigiu dois ministérios, este foi um critério definido pela Presidência da República, e isto levei à deliberação, tendo este critério sido aprovado pela ampla maioria da bancada. Noto que a confusão que tenta se estabelecer parte de setores que desejam que a bancada federal do PMDB seja apenas massa de manobra!”, reforçou Picciani pelo Twitter.
“GOVERNO NÃO PODE ERRAR”
Dilma demonstra nos bastidores preocupação em manter o vice-presidente em seu entorno e evitar o fortalecimento da tese do impeachment. Ela tentou um acordo para preservar na reforma o ministro Eliseu Padilha, braço-direito de Temer, que hoje ocupa a Secretaria de Aviação Civil com status de ministro. As bancadas do Senado e da Câmara, no entanto, não concordam em ceder espaços já negociados com a presidente. Segundo lideranças do PMDB, Dilma teria oferecido a presidência da Infraero a Padilha, mas isso significaria, na verdade, o rebaixamento do ministro.
Segundo interlocutores do ministro Ricardo Berzoini (Comunicações), que deverá assumir a articulação política, Dilma deverá concluir a reforma até quinta-feira. O líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), afirma que a reforma ministerial é importante para que o governo conquiste a maioria dos votos no Legislativo:
— Essa reforma, o governo não pode errar. Porque é a chance de fidelizar nossa base nos projetos da área da economia que vão tramitar e que são importantes para sair da crise. Espero que a presidente consiga concluir esta semana.
Enquanto tenta equilibrar a necessidade de cortes nos ministérios e de acomodação dos aliados, Dilma também enfrentará votação importante de vetos no Congresso na quarta-feira. Na semana passada, o governo conseguiu manter vetos importantes e que poderiam provocar impacto grande nas contas públicas, mas a apreciação dos dois vetos mais polêmicos foi adiada: o que garante reajustes entre 53% e 78,5% aos servidores do Judiciário, com impacto estimado de R$ 36,2 bilhões em cinco anos; e o que estende a todos os aposentados e pensionistas do INSS reajustes pelo salário-mínimo, que, segundo o governo, provocaria um impacto de R$ 11 bilhões até 2019.
Nos bastidores, integrantes do PMDB sustentam que, se a reforma ministerial frustrar expectativas, criadas pela própria presidente com a promessa de ministérios, o governo pode ser derrotado.
A negociação direta entre Dilma e Picciani desagradou a Temer, que se sentiu escanteado. Um integrante da cúpula do PMDB ligado ao vice classificou a atuação do Planalto como “amadorismo político” e afirmou que Dilma desautorizou o comando do PMDB ao abrir uma negociação “no varejo”. Aliados de Temer no PMDB também questionam a operação do Planalto lembrando que Picciani apoiou a candidatura de Aécio Neves (PSDB) à Presidência, no ano passado. E citam o fato de o deputado Manoel Júnior (PMDB-PB), um dos indicados de Picciani para assumir o Ministério da Saúde, ter defendido que Dilma renunciasse ao mandato em entrevista a um portal de notícias da Paraíba.
— Negociar com alguém que estava ontem com Aécio, dando a volta na direção nacional do partido, é ter base sólida? Nomear para a Saúde alguém que há 15 dias defendia a saída da presidente? — questionou um peemedebista ligado a Temer.
Embora esteja praticamente certa a extinção da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), Dilma defendeu ontem ações de seu governo na busca da igualdade de gênero. Ela não quis indicar, no entanto, se Eleonora Menicucci, que participa de sua comitiva, perderá o status de ministra.
— Eu vou pedir à minha querida imprensa brasileira, tenho pouco tempo e tenho que falar sobre isso que foi lançado — disse Dilma logo após ter terminado sua apresentação sobre as metas climáticas que anunciara em seu discurso durante a Conferência das Nações Unidas para a Agenda de Desenvolvimento Pós-2015: — Eu vou insistir, eu não vou responder nada a respeito das mudanças na minha reforma administrativa. (Colaboraram Geralda Doca, Henrique Gomes Batista (correspondente) e Catarina Alencastro (enviada especial))

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