quarta-feira, 19 de novembro de 2014

COMENTÁRIO: Tempo de incertezas

Por CELSO MING - ESTADAO.COM.BR

Os raros sinais que nos chegam da presidente Dilma são de que não está disposta a colocar em marcha mudanças substanciais na política econômica; O ajuste, sabe-se lá qual, será gradual, que é para não produzir recessão, como se a situação atual já não fosse de paradeira
O impacto do petrolão deverá aprofundar o descrédito de quem opera a atividade econômica, que já é recorde de baixa. Nesta terça-feira, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) avisou que o nível de confiança do empresário industrial atingiu o nível mais baixo dos últimos 15 anos (veja o gráfico). Tudo indica que não chegou ainda ao fundo. Tem mais para cair.
Os raros sinais que nos chegam da presidente Dilma são de que não está disposta a colocar em marcha mudanças substanciais na política econômica. O ajuste, sabe-se lá qual, será gradual, que é para não produzir recessão, como se a situação atual já não fosse de paradeira, alta inflação, contas públicas degradadas e deterioração das contas externas.
Gradualismo assim concebido é tentativa de fazer omelete sem quebrar os ovos, é deixar o serviço principal para quando der e, portanto, levar os problemas do jeito que for e criar novos, porque a toda hora aparecem encrencas novas à espera de solução.
No próximo ano, o governo terá de lidar com o agravamento de enormes incertezas. Uma delas já vem se aprofundando, é a falta de segurança no suprimento futuro de energia e de água doce. Como investir se não se sabe com quanta energia e quanta água se pode contar?
Outra incerteza é a que vai sendo disparada com o achatamento dos preços das commodities, que derrubará ainda mais o déficit das contas externas, porque as exportações serão atingidas.
Outra, ainda, é a muito provável quebra na disposição das empreiteiras de participar de novas licitações de obras públicas. Por que se sujeitar a ser arrastado pela Polícia Federal a troco de um retorno que o governo entende que tenha de ser o mais baixo possível, na medida em que “a execução de serviços públicos é de risco próximo do zero” – como dizia o secretário do Tesouro, Arno Augustin?
Para não ir mais longe nessa lista, há as novíssimas incertezas que pairam sobre o setor do petróleo e gás, deflagradas agora com os escândalos da Petrobrás.
Tudo poderia partir de um novo patamar se a presidente Dilma se mostrasse disposta a recuperar a confiança abalada de empregadores de mão de obra. Até agora, o máximo que produziu nesse sentido foi alguma retórica para que o empresário exume de dentro de si mesmo o espírito animal e volte a investir. No entanto, desarrumada como está e sem perspectivas de arrumação rápida, a economia não ajuda. Todos os prognósticos para 2015 são de crescimento pífio, inflação estourando a meta e governo refém de uma base política erguida sobre a areia em região pantanosa.Por meses a fio, a Operação Lava Jato deverá expor mazelas. Parece difícil que os empreiteiros prefiram mofar na cadeia, como o empresário Marcos Valério, condenado a 37 anos, a tirar proveito das vantagens da delação premiada. Até agora, não apareceram os nomes dos políticos beneficiados com o butim da Petrobrás.
Ou alguma coisa deve mudar ou aumentará o risco de que o triunfo de Dilma nas eleições se transforme em vitória de Pirro, o general que venceu as batalhas contra os romanos no século 3.º a.C., mas no balanço geral somou mais perdas do que ganhos. A conferir.
CONFIRA:
Quem ainda contava com um bom desempenho do setor de serviços vai se decepcionando. A receita não consegue mais compensar a inflação do período e, menos ainda, a inflação do próprio setor (que está algo em torno de 7% em 12 meses). A perspectiva é de estagnação.

Tamanho da mesada
Apenas um gerente da área de Serviços da Petrobrás, Pedro Barusco, concordou em devolver US$ 100 milhões. Se ele ainda tem essa importância para devolver e se essa foi a parte dele, qual não terá sido a de diretores e a dos políticos de alta patente?

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