quinta-feira, 20 de novembro de 2014

COMENTÁRIO: Operação eu existo

Por CELSO MING - ESTADAO.COM.BR

Três autoridades do governo Dilma saíram a público nos dois últimos dias para avisar o distinto público que a política econômica não está entregue ao deus-dará
Três autoridades do governo Dilma saíram a público nos dois últimos dias para avisar o distinto público que a política econômica não está entregue ao deus-dará.
Na terça-feira, foi o diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Carlos Hamilton Araújo, que anunciou, como há meses nenhum diretor do BC anunciara: que vem aí mais uma carga de juros para asfixiar a inflação. A medir pela ênfase do anúncio, na reunião do Copom, marcada para o dia 3 de dezembro, a alta não seria inferior a 0,5 ponto porcentual, o que elevaria os juros básicos para 11,75% ao ano. Mas o objetivo mais importante da fala de Hamilton pareceu ser o de passar o recado de que, diante do desmonte da política fiscal, a política monetária (política de juros) terá de cumprir seu dever de segurar a inflação. De quebra, a iniciativa poderia atuar na recuperação da combalida credibilidade do BC enquanto agente comprometido com “levar a inflação para o centro da meta no horizonte relevante para a política monetária”.
Nesta quarta, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, comportou-se como autoridade da área econômica, como a suprir a omissão dos que ainda ocupam seus cargos no governo. E foi passando recados. Defendeu a aprovação da complacência fiscal deste ano pelo Congresso e, portanto, a aprovação imediata do projeto de lei que autoriza o governo a fechar o ano com rombos orçamentários. Falou de investimentos públicos e de nova atitude em relação às Parcerias Público-Privadas (PPPs). E anunciou a formação de grupos de trabalho para definir novos estímulos à indústria.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, por sua vez, achou que tinha de mostrar que continua no comando. Comemorou a desaceleração da inflação medida pelo IPCA-15 de novembro e nova queda do desemprego (veja acima e no Confira). E censurou: “Vocês não perceberam a recuperação da economia”.
O governo Dilma tinha um rumo a que chamou de Nova Matriz Macroeconômica ou de política anticíclica, baseado no aumento do consumo alimentado pelo aumento das despesas públicas, pelos juros artificialmente baixos (agora revertidos) e por certa valorização cambial, que tende agora em direção contrária. Os resultados ruins desse arranjo são amplamente conhecidos.
No momento, não tem um rumo claro. O governo se limita a distribuir muletas e a apagar focos de incêndio, como esse de arrancar autorização do Congresso para registrar o mau resultado das contas públicas. Pretende editar novo pacote para estimular o investimento da indústria. Será mais um depois de tantos, porque para garantir o investimento é preciso primeiro inspirar confiança.
O governo Dilma parece afogado pelas denúncias diárias da Operação Lava Jato e precisa retomar a iniciativa. Aparentemente, a área em que poderia criar fatos novos, cujo impacto pudesse ser sobreposto aos escândalos, é a econômica, prostrada não só pelas denúncias, mas também pelos decepcionantes resultados apresentados até agora. Falta saber se a presidente Dilma está mesmo disposta a nomear uma equipe econômica que agregue confiança e, antes disso, se quer virar esse jogo.
CONFIRA:

Aí está a evolução do índice de desemprego no Brasil. A desocupação em outubro caiu a 4,7% da força de trabalho, número que, mais uma vez, aponta para a direção oposta à do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que reflete a contratação com carteira de trabalho assinada e vem mostrando queda.

O mergulho continua
As cotações do minério de ferro caíram nesta quarta mais 2,9% em relação às do dia anterior, para US$ 70 por tonelada. Este é o nível mais baixo desde junho de 2009. No ano, o preço acumula queda de 48%.

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