quarta-feira, 20 de novembro de 2013

COMENTÁRIO: Os excelentes contatos de Eike nas finanças estatais

Do blog do NOBLAT
Por Carlos Tautz

Até que alguma autoridade se digne a desmentir, vale a versão, publicada pelo Valor, que o Banco Votorantim (BV) estava a descoberto em mais de R$ 400 milhões para honrar uma fiança ao empréstimo de R$ 517 milhões tomados junto ao BNDES (dívida honrada pelo BV na sexta passada) pelo falido Eike e sua OSX.
Apesar de parecer, o BV não é 100% privado. Exatos 49,99% do seu capital votante pertencem ao Banco do Brasil, que comprou parte do BV em 2009 por R$ 4,2 bi, numa operação controversa aos olhos do mercado, que já sabia da precária saúde financeira do banco de Ermírio de Moraes.
Mais uma operação corriqueira das finanças brasileiras? Claro que não, e não apenas porque envolve a farsa Eike. Primeiro, porque recentemente o BB desistiu de enterrar mais R$ 2 bi na compra de outros 25% do capital total do BV (que teve prejuízo de R$ 1,98 bi em 2012).
Segundo, porque a OSX e Eike continuam com excelentes contatos nas finanças estatais. Em outubro, já havia conseguido renovar por 12 meses, apesar da sucessão de derrotas financeiras que seu conglomerado vem sofrendo, um empréstimo R$ 461,4 milhões com a Caixa Econômica Federal.
O dinheiro está sendo gasto na construção do megaestaleiro no Porto do Açu, no extremo norte fluminense, obra já denunciada pelo Ministério Público do Rio como violadora de direitos de agricultores da região e responsável por graves impactos ambientais.
Está subjacente a toda essa história muito mais do que o evidente favorecimento do governo federal a um empresário que faz dos lances de marketing sua grande estratégia para gerar expectativas e ganhar com elas – em vez de retirar sua fortuna da produção propriamente dita.
O exemplo de Eike, que se verifica em várias outras oportunidades com um pequeno e frequente número de corporações financeiras privilegiadas pelo Estado, prova que o modelo econômico instalado no Brasil ainda se baseia na escolha de grupos chamados de “campeões nacionais”. São eles que, alimentados por subsídios de todos os tipos proporcionados pelo Estado, continuam dar a cara e o tom da vacilante expansão econômica brasileira.
As retribuições aos gestores estatais, por parte desse atores econômicos, vão desde vantagens pessoais (vide a dança do lencinho do Cabral, em Paris, com Cavendish, da Delta) até a formação de blocos de sustentação política que se reproduzem ao longo de anos, quando o projeto beneficiado é de alta monta.
É o caso da construção da hidrelétrica Belo Monte, cuja viabilidade financeira já está motivando a saída de pelo menos um dos sócios privados do consórcio Norte Energia, mas que segue recebendo financiamento do BNDES.
Está em jogo, ali no Xingu, o apoio comprado pelo governo ao PT e ao PMDB de Sarney, que controlam a Eletronorte, pelas próximas décadas.
Aqui, o Eike agora de pires na mão, que já sonhou fazer uma espécie de refundação do capitalismo brasileiro à la século 21, continua milionário e tentando agregar mais três zeros à sua fortuna, fazendo bem o que sabe fazer bem: vendendo falsas expectativas e contando com os apoios no caixa do Estado brasileiro.
Mas, só fazendo o que faz porque o Estado que ainda temos foi feito para fazer isso, ao passo que nenhum partido político sequer propõe uma mudança em suas estruturas.



Carlos Tautz, jornalista, é coordenador do Instituto Mais Democracia – Trabnsparência e controle cidadão de governos e empresas.

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