Charles Platiau/Reuters
O recém-eleito presidente francês, François Hollande, comemora sua vitória. Ele tornou-se o primeiro presidente socialista da França em 17 anos
A eleição do socialista François Hollande à presidência da França pode
aproximar as relações do país com o Brasil, sem que haja, no entanto, mudanças
em relação a temas polêmicos, como a agricultura, segundo especialistas ouvidos
pela BBC Brasil.
Para o cientista político Stéphane Montclaire, da
Universidade Sorbonne, Hollande deverá buscar apoio de grandes emergentes, como
o Brasil, para tentar convencer a Alemanha a revisar o pacto fiscal europeu e
incluir medidas de estímulo ao crescimento econômico.
"As críticas da
presidente Dilma Roussef e de Hollande sobre as políticas de austeridade na
Europa para superar a crise são muito semelhantes", diz Montclaire.
A
presidente brasileira declarou várias vezes que "simples medidas de austeridade
e consolidação fiscal não permitirão superar a crise na zona do euro" e que
também são necessárias políticas de expansão dos investimentos no
continente.
Esse é exatamente o mesmo argumento de Hollande. Em seu
primeiro discurso no domingo, o presidente eleito afirmou que "a austeridade não
pode mais ser uma fatalidade na Europa".
"Hollande vai precisar
demonstrar que as propostas da França também têm apoio fora da União Europeia
por parte de países com peso no cenário econômico internacional", diz
ele.
"O Brasil também precisa de uma Europa forte para exportar seus
produtos. Poderá haver nessa questão um ponto de convergência entre os dois
países", diz o cientista político.
Segundo Montclaire, a aproximação
maior entre o Brasil e a França será por razões estratégicas e irá facilitar
relações que já são "muito boas".
O presidente Nicolas Sarkozy, que
ficará no cargo até 15 de maio, havia firmado com o Brasil, no final de 2008,
uma parceria estratégica que prevê cooperações em várias áreas, sendo a mais
importante a da Defesa.
Conhecimento
O pesquisador Jean-Jacques Kourliandsky, especialista em América Latina do
Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas da França, diz que Hollande
conheceria melhor o Brasil do que Sarkozy e também possui vários interlocutores
no país, o que é um fator positivo.
"Hollande deverá ter uma compreensão
mais rápida dos dossiês envolvendo o Brasil. O contato com autoridades
brasileiras poderá ser mais fácil", diz ele, lembrando que o socialista
participou de edições do Fórum Social Mundial em Porto Alegre e já se encontrou
com o ex-presidente Lula.
Ele ressalta que essa maior proximidade nas
relações entre a França e o Brasil não estão ligadas a questões ideológicas,
pelo fato de Hollande ser socialista, e que posições assumidas pelo Estado
francês não deverão mudar.
"Hollande deverá apoiar a candidatura do
Brasil a uma vaga de membro permanente do Conselho de Segurança da ONU porque
isso é uma posição já assumida internacionalmente pela França", diz
Kourliandsky.
Da mesma forma, diz o especialista, não deverá haver
mudanças na posição francesa em relação às reivindicações do Brasil para obter
maior acesso aos seus produtos agrícolas nos mercados europeus.
"Isso é
uma posição do Estado francês em relação aos seus agricultores e não irá mudar",
afirma.
México
Para o analista, a principal mudança em termos de relações internacionais na
gestão de Hollande poderá ser na relação com o México.
Os laços entre os
dois países ficaram profundamente abaladas depois que Sarkozy começou a fazer
pressão pela libertação de uma cidadã francesa, Florence Cassez, condenada no
México a 60 anos de prisão por sequestro.
A pressão provocou um imbróglio
diplomático entre os dois países, que acabou levando ao cancelamento do Ano do
México na França.
Segundo o especialista, ao França estaria tendo
atualmente dificuldades para discutir com autoridades mexicanas a reunião do G20
- grupo de países desenvolvidos e grandes emergentes - que ocorre no México em
junho.
Ele afirma que Hollande, prevendo sua vitória, já teria enviado
colaboradores ao México para tentar resolver a crise com o país.
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