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Mercado sugere que votos dos diretores sobre juros
seja público. A instituição resiste à ideia
Especialista diz que a equipe do presidente do BC, Alexandre Tombini (foto), não tem total independência para agir Valter Campanato / Agência Brasil
Especialista diz que a equipe do presidente do BC, Alexandre Tombini (foto), não tem total independência para agir Valter Campanato / Agência Brasil
BRASÍLIA — A pressão do Palácio do Planalto pela queda dos juros num momento
em que a inflação está em alta e a sinalização do Banco Central (BC) de que
voltará a reduzir a Taxa Selic já na próxima reunião do Comitê de Política
Monetária (Copom) colocaram em xeque a autonomia da autoridade monetária.
Analistas do mercado temem que o BC esteja cedendo a pressões políticas e
abandonando, na prática, o regime de metas de inflação em nome do crescimento
econômico de curto prazo desejado pela presidente Dilma Rousseff, criando, com
isso, um quadro de desequilíbrio para o futuro.
Para melhorar a imagem da instituição, parte do mercado defende a divulgação
do voto dos diretores do BC na reunião do Copom, com o argumento de dar mais
transparência à decisão sobre os juros e, assim, reafirmar que a autonomia
existe de fato. O BC resiste à ideia. Segundo técnicos da equipe econômica, a
abertura dos votos poderia expor a ataques, especialmente do Congresso,
integrantes do Copom que adotassem uma posição impopular.
O fim do sigilo do Copom vem sendo amplamente debatido nos bastidores do
governo em função da entrada em vigor, em alguns dias, da Lei de Acesso à
Informação. A nova legislação vai assegurar à população acesso a documentos
oficiais desprotegidos por sigilo. Por isso, o BC terá de se posicionar sobre a
abertura dos votos. Isso valerá tanto para o futuro quanto para o tratamento a
ser dado a reuniões passadas do Copom.
BC brasileiro é mais vulnerável, diz Langoni
Especialistas ouvidos pelo GLOBO se dividem sobre o tema. Para o
ex-presidente do BC Carlos Langoni e o ex-diretor de Liquidação da instituição
Carlos Eduardo de Freitas, é preciso preservar os membros do Copom de pressões
políticas, porque o BC tem autonomia operacional, mas não independência. Já o
ex-diretor de Política Monetária do BC Carlos Thadeu de Freitas e o
economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, defendem a divulgação com o
argumento que daria mais transparência.
— Com mais transparência, o mercado conhece melhor a visão dos diretores. É
até uma chance de o governo provar que o BC tem independência. O presidente
mostra que a instituição pode se posicionar livremente e que não vai tirar um
diretor só porque ele votou de forma mais ou menos conservadora — disse
Agostini.
O BC argumentou que já é bastante transparente porque divulga, uma semana
após a reunião, a ata do Copom, na qual justifica a decisão sobre e informa se
esta foi ou não unânime. E ressaltou que, dos “20 países que usam o regime de
metas, quatro estão nessa condição (Brasil, Indonésia, República Tcheca e
Turquia)”.
Mas países como Estados Unidos, cujo modelo o Brasil tenta seguir, divulgam
os votos dos diretores. Isso também ocorre no Reino Unido. Segundo Langoni, a
diferença entre esses países e o Brasil é que a equipe de Alexandre Tombini não
tem total independência para agir:
— O BC brasileiro não é independente. Isso gera uma vulnerabilidade
maior.
Os especialistas são unânimes em dizer que o BC não trabalha mais com o
centro da meta de inflação, de 4,5%, e sim com o teto, de 6,5%.
— Existe uma resolução que determina que a meta tem que ser cumprida. Mas os
diretores têm uma visão de que não é necessário trazer a inflação para 4,5% e,
assim, sacrificar o crescimento da economia. Com isso, eles assumem um risco —
disse Agostini.
Em nota divulgada ontem, a instituição rebateu o editorial “O BC
domesticado”, do jornal “O Estado de S.Paulo”. Nela, Tombini afirma que o BC tem
total autonomia para tomar decisões de política monetária, sem interferência de
outros órgãos do governo ou agentes econômicos. E diz que no Brasil vigora a
liberdade de opinião e pensamento e que Dilma já afirmou que a condução da
política monetária é da alçada exclusiva do BC.
Colaborou Geralda Doca
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