quinta-feira, 1 de setembro de 2011

COMENTÁRIO: Sombras da crise global e pressões políticas

Por José Paulo Kupfer - O Estado de S.Paulo


O pessimismo em relação à economia global, explicitado no comunicado divulgado ao fim da reunião do Copom, muito mais do que as dúvidas sobre o ritmo de reajuste da economia brasileira a uma demanda menos aquecida, determinou a surpreendente decisão do Copom de iniciar - e com força - um novo ciclo de corte na taxa básica de juros.
A inflação, em 12 meses, bateu no pico agora em agosto, começará a recuar a partir de setembro, mas ainda roda em zona desconfortável, mais perto do teto da meta do que do centro. A taxa de desemprego encontrou o fundo do poço em julho, tende agora a subir, mas não avançará muito rápido para o ponto em que deixe de pressionar a demanda. Idem para o ritmo de concessão de crédito, outro fator de pressão de demanda. Embora perdendo velocidade mês a mês, ainda resiste acima de níveis suficientemente baixos para não esquentar os preços.
É nesse ambiente que as projeções para o PIB, mesmo declinantes, não chegam a apontar para um desabamento. Nada, portanto, que exigisse do Banco Central ações expansionistas imediatas.
O fato é que, nas atuais circunstâncias, nem o desaquecimento interno já evoluiu até um sinal amarelo, nem os possíveis impactos da crise global tomaram forma, mal começando a atuar sobre as expectativas. Não havia, salvo grande engano, motivo para afobação.
Mas, ao se estender, também de modo incomum, no comunicado emitido no fim da reunião do Copom, o Banco Central passou a mensagem de que, na sua visão, os riscos de contágio da economia brasileira pela crise global são muito maiores do que até aqui se vinha imaginando. E que era o caso de começar logo a descer a ladeira dos juros.
Como, pelo menos até aqui, a preocupação do Banco Central com os riscos de contágio da crise parece excessiva, é incontornável supor que, além das sombras projetadas para a economia global, pesaram na decisão do BC as pressões políticas, comandadas pela própria presidente Dilma Rousseff, para que fosse logo iniciado um corte nos juros.

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