terça-feira, 25 de novembro de 2014

MUNDO: Violência explode após júri livrar policial que matou adolescente negro em Ferguson (eEUA)

OGLOBO.COM.BR
POR O GLOBO / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Chefe da polícia local afirma que distúrbios após anúncio do veredicto foram muito piores do que as manifestações depois da morte de Brown; bombeiros registram 25 incêndios
Bombeiros tentam apagar fogo em restaurante incendiado por manifestantes após anúncio do júri no caso Michael Brown - SCOTT OLSON / AFP
CLAYTON E FERGUSON, MISSOURI — Com prédios ainda queimando em Ferguson, o prefeito de St. Louis, Francis Slay, afirmou nesta terça-feira que irá preparar melhor a segurança após a eclosão de violentos protestos contra a decisão de um grande júri que livrou um policial branco de ser processado pela morte de um adolescente negro. Tanto o prefeito quanto o chefe da polícia local, Sam Dotson, prometeram durante uma entrevista coletiva que não vão tolerar atividade criminosa. Após horas de caos e fúria dos manifestantes, a queda da temperatura, o cansaço e a chegada da Guarda Nacional parecem ter acalmado as tensões.
— Não vamos tolerar atividade criminosa, apedrejamentos. Isso não é protesto. É ação criminosa — afirmou Dotson.
O prefeito citou saques e danos ao patrimônio:
— As pessoas que estavam cometendo violência, saques, quebrando janelas, isso não é protestar. Isso é conduta criminosa. Não vamos tolerar.
O veredicto sobre a morte de Michael Brown, de 18 anos, baleado pelo policial Darren Wilson, em 9 de agosto, provocou manifestações em várias cidades dos Estados Unidos. O chefe de polícia Jon Belmar disse que os distúrbios de segunda-feira à noite e madrugada desta terça-feira foram “muito piores” do que os protestos logo após a morte de Brown.
Multidões furiosas se reuniram em torno do departamento de polícia de Ferguson, um subúrbio de St. Louis, após o grande júri determinar que não havia razões para indiciar Wilson. As forças de segurança se equiparam com artilharia pesada na área perto de onde Brown foi baleado e usaram gás lacrimogênio durante enfrentamentos com manifestantes, que atiraram objetos contra os policiais aos gritos de “sem justiça não há paz”. Vitrines foram quebradas, lojas saqueadas e carros e 25 edifícios incendiados, incluindo um salão de beleza e uma pizzaria.
O governador do estado de Missouri, Jay Nixon, convocou a Guarda Nacional para restaurar a ordem e já havia reforçado o número de policiais nas ruas ante a possibilidade de protestos. A violência explodiu apesar dos apelos de contenção do presidente americano, Barack Obama, que se juntou à família do adolescente pedindo calma e exortando os americanos a aceitarem a decisão de júri.
Jon Belmar disse que ouviu cerca de 150 tiros durante a noite. Ao menos 61 pessoas foram detidas e 13 ficaram feridas nos confrontos — dois por bala.
— Assassinos, vocês não são nada além de assassinos — gritava uma mulher usando um megafone em Ferguson.
Protestos também foram registrados em Nova York, Chicago, Seattle, Los Angeles, Oakland e Washington, num caso que chamou atenção para a longa data de tensões raciais não apenas na predominantemente negra Ferguson, mas em todo o país. Em Los Angeles, vídeos e fotos mostram policiais disparando balas de borracha contra manifestantes.
A família de Brown não escondeu o desapontamento com a decisão do júri, mas pediu calma aos manifestantes.
“Estamos profundamente decepcionados de que o assassino do nosso filho não tenha que sofrer as consequências de seus atos”, declarou a família de Brown em um comunicado, no qual pediu “respeitosamente que qualquer manifestação seja pacífica”.
PROMOTOR: DEVER DE JÚRI É SEPARAR FATO DE FICÇÃO
Os 12 jurados, nove brancos e três negros, escutaram 70 horas de depoimentos de quase 60 testemunhas, examinaram centenas de fotografias e ouviram três médicos legistas.
— O dever de um grande júri é separar os fatos da ficção. Os juízes determinaram que não há razão suficiente para apresentar acusações contra o policial Wilson — afirmou o promotor de St. Louis, Robert McCulloch.
O veredicto foi anunciado após a morte no fim de semana em Ohio, no Norte do país, de um adolescente negro de 12 anos. A vítima foi atingida por tiros de policiais quando estava com uma pistola de brinquedo, o que provocou o temor de novos protestos violentos.
O episódio da morte de Brown aconteceu após a denúncia de um roubo em uma loja de Ferguson. As testemunhas afirmam que o adolescente, um estudante do ensino secundário, estava com os braços para o alto quando foi baleado. Wilson alegou que agiu em legítima defesa por temer um ataque.
Depois de ser baleado, o corpo do jovem permaneceu na rua durante horas, um fato que foi considerado pelos manifestantes como um sinal de desprezo das forças de segurança pela população negra. Quase 70% da população de Ferguson é negra, mas as autoridades políticas e policiais são majoritariamente brancas.

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