quarta-feira, 12 de novembro de 2014

COMENTÁRIO: A política Dilma

Por MARA BERGAMASCHI - Blog do NOBLAT

Dilma nunca ligou para os deputados e senadores. Até as divisórias do Palácio do Planalto sabem disso.
Dilma nunca ligou para os deputados e senadores. Até as divisórias do Palácio do Planalto sabem disso. E nem eles para ela – as persianas do Congresso que o digam.
Os políticos a viram como neófita nas urnas, que chegou à Presidência como poste de Lula. Foi com o poderoso e carismático ex-presidente e outros articuladores do PT que conversaram durante boa parte do primeiro mandato dela, quando o país seguia em banho-maria.
No fundo, os congressistas desdenhavam de Dilma, sentindo-se superiores. Por ela nunca ter conquistado antes um mandato popular; por a julgarem incapaz de vencer sozinha uma eleição - coisa a que se dedicam com paixão, até perversa, a cada biênio ou quadriênio.
Quem cobre política em Brasília conhece a piadinha que os deputados contam, sorridentes, para mostrar o quanto são espertos: ”o mais bobo aqui enganou sozinho 5 mil” (eleitores, sorry!). É na sucessiva disputa por votos que eles se medem, se reconhecem e se respeitam – inclusive como adversários.
A presidente não era parte deste clube; não gostava da "cachaça" da política. Acostumados a pensar em uma Dilma supostamente inofensiva, por depender do voto e acordos alheios, qual não deve ter sido a surpresa deles ao ver o figurino agressivo que ela envergaria nesta acirrada campanha de 2014! 
Sem a tutela direta de Lula, Dilma desferiu bem sucedidos ataques pessoais, de viva voz, contra seus opositores. E autorizou sim a orquestração de uma campanha pesadíssima. Isso foi novidade.
Como observaria, logo depois dos debates, a jornalista Cristiana Lobo: “no Brasil, a vida pessoal não fazia parte das campanhas eleitorais (pós-1989); agora faz”.
Essa seria, portanto, a marca da Dilma política. O recado indigesto ainda está sendo ruminado por deputados e senadores não só da oposição, mas também da base governista, no escurinho do plenário, já aterrorizado pelos fantasmas da operação Lava-Jato.
Como se sabe, todas as corporações, até a dos presidiários, têm seu código (não-escrito) de honra. Os políticos entenderam que, mesmo sem boa retórica e sem tradição, a ex-noviça Dilma soube escalpelar sem dó raposas felpudas.
A Dilma versão 2015 quer conversar com o Legislativo. Mas acho que nem ela nem eles acreditam que vá rolar tão cedo o tal diálogo direto e produtivo. A indiferença deu lugar à desconfiança. E as conversas estão atravessadas até dentro do próprio partido da presidente. O pior é que nada indica que será fácil empurrar 2015 com a barriga, em silêncio.
Dilma Rousseff, em um dia normal (Imagem: Arquivo Google)

Comentários:

Postar um comentário

Template Rounders modificado por ::Power By Tony Miranda - Pesmarketing - [71] 9978 5050::
| 2010 |