De OGLOBO.COM.BR
Investidores reagiram de forma positiva aos indicadores, avaliando que retirada dos estímulos à economia será feita de forma gradual
Ibovespa seguiu alta do mercado internacional e fechou com alta de 0,31%
SÃO PAULO - Os investidores reagiram de forma surpreendente aos números mais positivos do mercado de trabalho divulgados nos EUA nesta sexta-feira. A Bolsa de Valores de São Paulo subiu, acompanhando o movimento dos pregões externos, e o dólar perdeu força frente ao real e a outras divisas de países emergentes. Nos últimos meses, quando foram divulgados indicadores positivos nos EUA, as Bolsas caíram e o dólar se valorizou frente a outras divisas, já que crescia a expectativa de que o Federal Reserve (o banco central americano) fosse retirar em breve os estímulos mensais de US$ 85 milhões à economia dos EUA.
Nesta sexta, o Departamento do trabalho divulgou que foram criadas 203 mil novas vagas de trabalho em novembro, quando o mercado esperava 185 mil. E a taxa de desemprego caiu a 7%, frente a uma expectativa de 7,2% do mercado. É o menor nível em cinco anos. A reação do mercado foi positiva. Na prática, segundo analistas, os investidores começam a se habituar ao fato de que, em algum momento, a política monetária do banco central americano vai mudar, mas de forma suave, sem sobressaltos.
O dólar comercial, que estava em alta desde o início da sessão, passou a se desvalorizar depois do anúncio dos dados do mercado de trabalho nos EUA, pela manhã. A moeda americana terminou a sessão com queda de 1,35% negociada a R$ 2,325 na compra e R$ 2,327 na venda. É a maior queda percentual desde o dia 18 de novembro, quando o dólar recuou 2,33%. Na máxima do dia, a divisa foi cotada a R$ 2,376 ( alta de 0,72%) e na mínima a R$ 2,325 (queda de 1,40%). Na semana, a moeda americana perdeu 1,18% frente ao real. O dólar também se desvalorizou hoje frente a divisas de países emergentes e do euro.
- Foi uma reação surpreendente do mercado aos números do emprego nos EUA. Cresceu a percepção de que o Fed vai conduzir de forma muito cautelosa a mudança de política monetária, até porque os riscos são grandes. Com a inflação ainda abaixo da meta de 2%, é improvável que os estímulos à economia sejam retirados de forma apressada. O juro também não deve subir tão cedo. Ou seja, o mercado começa a se acostumar à mudança de rota do Fed e avalia que ela será suave - diz o economista Silvio Campos Neto, da consultoria Tendências.
Campos Neto observou que assim que os dados de emprego foram divulgados, nesta manhã, as taxas dos Treasuries (títulos de 10 anos dos EUA) subiram a 2,90%, puxando o dólar. Em seguida, essas taxas recuaram aos níveis dos últimos dias, 2,8% e a moeda americana caiu.
O economista observa também que o anúncio feito ontem de que o BC brasileiro vai manter os leilões de dólares no ano que vem ajudou também na queda do dólar frente ao real. Nesta sexta, o BC ofertou mais US$ 1 bilhão num leilão de linha. Segundo operadores, estrangeiros desmontaram uma parte das posições ‘compradas’ em dólar no mercado futuro com a sinalização do BC sobre a continuidade dos leilões em 2014.
Na avaliação da equipe de macroeconomia do Itaú Unibanco, a remoção (parcial) dos estímulos nos EUA, que deve ocorrer até março, “tende a gerar impacto limitado sobre os mercados, até porque uma parte já foi antecipada pelos investidores”, afirmam em relatório distribuído a clientes. Segundo eles, o Fed deve reforçar a sinalização de juros baixos por um longo período de tempo (entre zero e 0,25% ao ano).
De acordo com o analista Christoph Balz, do Commerzbank, embora os dados de emprego tenham surpreendido positivamente, eles não devem ser suficientes para que o Federal Reserve reduza o volume das compras mensais de títulos na reunião dos dias 17 e 18 dezembro.
"O crescimento do número de vagas criadas em novembro não foi substancialmente maior que a média mensal até então, de 188 mil novas vagas. A taxa de desemprego caiu mais rápido que o previsto, mas o Fed já reduziu a importância desse indicador nos últimos meses", comenta Balz.
Além disso, lembra o analista, a inflação está em 1,1%, muito abaixo da meta de 2% do Fed. E o núcleo de inflação atrelado aos gastos dos consumidores caiu 0,1% ponto percentual em outubro.
"Como os preços continuam ‘na direção errada’, é mais provável que o banco central deixe para reduzir as compras de ativos em março do ano que vem", aponta Balz.
O gerente de câmbio da corretora Treviso, Reginaldo Galhardo, também avalia que apesar dos dados positivos não haverá mudança na politica monetária do Fed este ano.
- O mercado está interpretando que os números de emprego, embora mais fortes que o esperado, ainda não são suficientes para o início da retirada dos estímulos à economia na reunião do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, da semana que vem. Se retirar os estímulos agora, o Fed poderia provocar um estrago financeiro no fim de 2013. Portanto, é mais provável que a redução dos estímulos só aconteça no primeiro trimestre de 2014 - disse Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso corretora.
Ele lembra também que a nova presidente do Fed, Janet Yellen, só vai assumir o cargo em janeiro. Com isso, o atual presidente, Ben Bernanke, não deve mexer na política monetária este mês, sob o risco de causar problemas a Yellen.
Para o presidente da unidade regional do Fed Chicago, Charles Evans, o banco central americano precisa ver mais sinais de recuperação do mercado de trabalho antes de reduzir o programa de estímulos. Evans disse que gostaria de ver "uns dois meses de bons números" antes de anunciar a redução dos estímulos.
Além dos dados do emprego, outros números positivos foram divulgados nos EUA. O gasto dos americanos cresceu em outubro (0,3%), embora a renda pessoal tenha diminuído (0,1%), ao contrário da expectativa, que era de avanço. O gasto do consumidor representa cerca de dois terços do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA. A confiança do consumidor dos Estados Unidos também subiu em dezembro acima do esperado. Pesquisa elaborada pela agência de notícias Reuters/Universidade de Michigan mostrou que o índice subiu para 82,5 em dezembro ante 75,1 em novembro.
Ibovespa se mantém em alta após números de emprego nos EUA
O Ibovespa, principal indicador do mercado de ações brasileiro, abriu em alta e perdeu força após a divulgação dos números da economia americana. Depois retomou o fôlego, acompanhando os mercados externos, que reagiram positivamente aos números de empregos dos EUA, e fechou em alta. O Ibovespa subiu 0,31% aos 50.944 pontos e volume negociado de R$ 5,9 bilhões, com alta limitada pela desvalorização da Petrobras. Na semana, o Ibovespa se desvalorizou 0,58%. As Bolsas europeias subiram e os pregões americanos também apresentavam alta expressiva na tarde ontem. O S&P500 se valorizava 1,14%, o Dow Jones tinha ganho de 1,19% e o Nasdaq subia 0,80%.
- A bolsa brasileira teve uma semana muito ruim e, de certa forma, o mercado já vinha antecipando a retirada dos estímulos nos EUA, com as quedas recentes. Hoje, o mercado reagiu diferente aos números mais fortes do emprego nos EUA, com os investidores tomando mais risco. O Ibovespa seguiu esse ritmo, limitado pela queda da Petrobras - diz o estrategista da corretora SLW, Pedro Galdi.
Entre as ações mais negociadas do Ibovespa, Vale PNA subiu 0,30% a R$ 32,98; Petrobras PN teve queda de 2,26% a R$ 17,28, a terceira maior baixa da Bolsa; Itaú Unibanco PN se valorizou 1,06% a R$ 31,45 e Bradesco PN teve perda de 0,06% a R$ 29,00. Os papéis ordinários da Petrobras recuaram 2,12% a R$ 16,15, a segunda maior baixa do pregão.
Segundo um operador de Bolsa, Petrobras recuou depois da informação divulgada pelo sindicato que representa trabalhadores da unidade de refino Repar, no Paraná, de que a paralisação da refinaria, após um incêndio em 28 de novembro, poderá reduzir a produção de combustível do país em mais de 10% por até um mês. as ações da Petrobras já haviam sido castigadas, no início da semana, após um reajuste de combustíveis abaixo do esperado pelo mercado e pela falta de transparência da nova metodologia de aumento de preços, que não foi detalhada ao mercado.
A maior alta do pregão foi apresentada pelos papéis ordinários da LLX Logística, com ganho de 15,52% a R$ 1,06. Ontem, a LLX concluiu o aumento de capital de R$ 1,3 bilhão que possibilitou a entrada do grupo americano EIG no controle da companhia. A EIG respondeu por 86,7% dos novos papéis emitidos e injetou R$ 1,12 bilhão na companhia. A participação do grupo americano passou a 52,82%, enquanto a participação de Eike Batista caiu de 53,5% para 20,9% após o aumento de capital.
As ações da OGX Petróleo subiram 15,78% a R$ 0,22 após a empresa ter informado através de fato relevante que, na quinta, deu-se início à produção no campo de Tubarão Martelo, localizado nos blocos BM-C -39 e BM-C-40, através do poço horizontal TBMT-8H. A informação divulgada pelo jornal ‘Valor Econômico’ de que o empresário Eike Batista deverá reduzir sua participação na empresa, já que está em curso uma proposta de acordo com os credores internacionais, detentores de títulos da OGX, também ajuda na valorização das ações da petrolífera.
Inflação cai em relação a outubro e juros futuros recuam
No mercado doméstico, a inflação oficial medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) as taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DIs) recuaram acompanhando a desaceleração da inflação para 0,54% em novembro, abaixo da taxa de 0,57% registrada em outubro. Os números mais fortes do mercado de trabalho americano não provocaram impacto nos juros. Os contratos de Depósito interfinanceiro com vencimento em janeiro de 2015 recuaram de 10,68% para 10,63% com a queda da inflação. Já os contratos com prazo de vencimento em janeiro de 2017 caíram de 12,28% para 12,25% e os contratos com vencimento em janeiro de 2021 recuaram de 12,87% para 12,78%.
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