quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

ECONOMIA: BC pode estar próximo do fim dos aumentos da taxa de juros, aponta ata do Copom

De OGLOBO.COM.BR
GABRIELA VALENTE (EMAIL)
SÉRGIO VIEIRA (EMAIL)
JOÃO SORIMA NETO (EMAIL)

Projeção para inflação em 2013 diminui mas permanece acima da meta. Para 2014, a projeção se manteve estável, mas acima da meta de 4,5%
BRASÍLIA, RIO e SÃO PAULO - Sem se comprometer com os próximos passos da política monetária, o Banco Central indicou que pode estar próximo do fim dos aumentos da taxa básica de juros(Selic). Nesta quinta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) publicou a ata da reunião da semana passada, quando decidiu elevar os juros em 0,5 ponto percentual para 10% ao ano.
No texto, o colegiado lembrou que o controle da inflação é um “processo” e afirmou que os efeitos de mudanças na política monetária demoram a aparecer. Desde abril, o Copom eleva a Selic. O documento reforçou a previsão que o aperto monetário deve terminar no início do ano que vem.
“O Copom pondera que a transmissão dos efeitos das ações de política monetária para a inflação ocorre com defasagens”, diz a ata.
- O fim do aumento de juros está próximo, isso está certo, mas eu fiquei na dúvida se será na próxima reunião que o BC diminuirá o ritmo por causa do que o Copom falou sobre câmbio - afirmou economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio Leal.
Ele chama atenção para um parágrafo da ata do Copom alterado sutilmente. O texto mostra que há mais pressões sobre o mercado de moeda americana. Na leitura de Leal, quer dizer que o BC via uma melhora no câmbio, mas não vê mais.
“O Comitê destaca evidências de acomodação dos preços decommodities nos mercados internacionais bem como a ocorrência, desde a última reunião, de focos de tensão e de volatilidade nos mercados de moeda”, diz o documento.
- A ata é uma sinalização clara que estamos chegando ao final do ciclo de aumento dos juros, mas ela deixou a porta aberta para o BC terminar o ciclo já na próxima reunião em janeiro ou até manter o ritmo de altas de 0,5 ponto percentual, dependendo do cenário econômico - afirmou Flávio Serrano, economista do Banco Espírito Santo (BES), que mantém sua aposta de apenas mais um aumento de 0,25 ponto percentual no início do ano que vem.
Segundo o BC, se os juros continuassem em 9,5% ao ano, a inflação prevista para o ano que vem ficaria estável, mas ainda acima da meta de 4,5%. Nas reuniões anteriores, o Copom alertava que essa projeção estava em ascensão.
No texto, o comitê ainda ressaltou que previa que a gasolina aumentaria 5% neste ano. O aumento anunciado pela Petrobras foi de 4%. Os diretores ainda revisaram para baixo a perspectiva para preços administrados, ou seja, as tarifas. Acham que neste ano, a alta será de 1,2%: 0,3 ponto percentual menor que a projeção anterior. No entanto, mantiveram a aposta de alta de 4,5% no ano que vem por causa do represamento de reajustes feito pelo governo em 2013.
Na ata, a cúpula do BC incluiu os leilões de exploração da áreas de petróleo como um dos fatores de estímulo à demanda agregada. Afirmou ainda que o consumo das famílias continuará em grande expansão.
A economista Alessandra Ribeiro, da equipe de macroeconomia da consultoria Tendências, também concorda que o BC sinalizou que pode haver uma redução do ritmo de alta da Selic em janeiro, embora não tenha se comprometido com isso. Para a economista, a principal variável a ser acompanha pelo BC é o câmbio.
- O BC sinalizou que pode reduzir o ritmo de alta da Selic, já que desde abril elevou a taxa em 2,5 pontos percentuais (de 7,25% para 10% ao ano). Porém, não se comprometeu com isso. O câmbio é a principal variável de risco para a inflação atualmente. Se a pressão cambial subir, o BC pode subir a Selic em mais 0,5 ponto percentual em janeiro - diz Alessandra Ribeiro.
No cenário traçado pela Tendências, o câmbio deve terminar o ano em R$ 2,35 e a Selic seria elevada em mais 0,25 ponto percentual em janeiro, encerrando o ciclo de aperto monetário em 10,25%. A inflação medida pelo IPCA deve ficar em 5,8%, na avaliação da Tendências.
Porém, em comunicado aos clientes, os economistas do HSBC afirmam que o ciclo de alta da taxa de juros deve seguir com viés de alta.
“A referência ao fato de que o Banco Central iniciou o ciclo de aperto em abril lembra que a política monetária afeta a inflação com uma defasagem e reforça nossa visão de que o Banco Central vai aumentar a Selic em apenas 0,25 ponto percentual na reunião do Copom janeiro de 2014” - diz o texto.
De olho na inflação
O Banco Central informou que a projeção para a inflação em 2013 pelo cenário de referência diminuiu, mas permanece acima da meta do governo. Para 2014, a projeção se manteve estável também no cenário de referência, acima da meta de 4,5%. Já para o terceiro trimestre de 2015, a inflação se posiciona acima da meta.
Para estas estimativas, o BC levou em consideração os choques de preços já identificados, e seus impactos, reavaliados de acordo com o novo conjunto de informações disponível e, mais uma vez, mostrando-se vigilante quanto à trajetória de preços.
"Embora reconheça que outras ações de política macroeconômica podem influenciar a trajetória dos preços, o Copom reafirma sua visão de que cabe especificamente à política monetária manter-se especialmente vigilante, para garantir que pressões detectadas em horizontes mais curtos não se propaguem para horizontes mais longo", diz o documento.
O cenário considerou simulações que incluem a projeção de reajuste no preço da gasolina; projeção para tarifa de energia (prevendo recuo de aproximadamente 16%, mesmo valor considerado na reunião do Copom de outubro). Neste caso, segundo o BC, já estão incluídos os impactos diretos das reduções de encargos setoriais anunciadas, bem como reajustes e revisões tarifárias ordinários programados para este ano.
Também estão contidos na simulação um possível aumento de 2,5% no preço do gás de bujão e a redução de 1% na tarifa de telefonia fixa para o acumulado de 2013.
A projeção de reajuste para o conjunto dos preços administrados por contrato e monitorados, para o acumulado de 2014, foi mantida em 4,5%, também o mesmo valor considerado na reunião do Copom de outubro.
- O Banco Central reconheceu na ata que já fez um grande esforço ao aumentar a taxa de juro seis vezes consecutivas. Por isso, o Copom ponderou que a transmissão dos efeitos das ações de política monetária para a inflação ocorre com defasagens. Na prática, o BC deixou a porta aberta para começar a reduzir o ritmo de altas da Selic. - diz o estrategista-chefe do banco japonês Mizuho no Brasil, Luciano Rostagno.
Para ele, no entanto, o BC eleverá a Selic em janeiro, mas ressalta que ainda é cedo para dizer se a alta será de 0,5 ou 0,25 ponto percentual.
- Tudo vai depender de como os preços se comportarem, do câmbio. O próprio recuo de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre pode contribuir para essa redução. O fato é que a Selic vai subir novamente em janeiro - diz Rostagno.
Na avaliação do banco Mizuho, a Selic sobe em janeiro (alta de 0,5 ou 0,25 ponto percentual) e em fevereiro mais 0,25 ponto percentual.

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