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Projeção para inflação em 2013 diminui mas permanece acima da meta. Para 2014, a projeção se manteve estável, mas acima da meta de 4,5%
BRASÍLIA, RIO e SÃO PAULO - Sem se comprometer com os próximos passos da política monetária, o Banco Central indicou que pode estar próximo do fim dos aumentos da taxa básica de juros(Selic). Nesta quinta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) publicou a ata da reunião da semana passada, quando decidiu elevar os juros em 0,5 ponto percentual para 10% ao ano.
No texto, o colegiado lembrou que o controle da inflação é um “processo” e afirmou que os efeitos de mudanças na política monetária demoram a aparecer. Desde abril, o Copom eleva a Selic. O documento reforçou a previsão que o aperto monetário deve terminar no início do ano que vem.
“O Copom pondera que a transmissão dos efeitos das ações de política monetária para a inflação ocorre com defasagens”, diz a ata.
- O fim do aumento de juros está próximo, isso está certo, mas eu fiquei na dúvida se será na próxima reunião que o BC diminuirá o ritmo por causa do que o Copom falou sobre câmbio - afirmou economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio Leal.
Ele chama atenção para um parágrafo da ata do Copom alterado sutilmente. O texto mostra que há mais pressões sobre o mercado de moeda americana. Na leitura de Leal, quer dizer que o BC via uma melhora no câmbio, mas não vê mais.
“O Comitê destaca evidências de acomodação dos preços decommodities nos mercados internacionais bem como a ocorrência, desde a última reunião, de focos de tensão e de volatilidade nos mercados de moeda”, diz o documento.
- A ata é uma sinalização clara que estamos chegando ao final do ciclo de aumento dos juros, mas ela deixou a porta aberta para o BC terminar o ciclo já na próxima reunião em janeiro ou até manter o ritmo de altas de 0,5 ponto percentual, dependendo do cenário econômico - afirmou Flávio Serrano, economista do Banco Espírito Santo (BES), que mantém sua aposta de apenas mais um aumento de 0,25 ponto percentual no início do ano que vem.
Segundo o BC, se os juros continuassem em 9,5% ao ano, a inflação prevista para o ano que vem ficaria estável, mas ainda acima da meta de 4,5%. Nas reuniões anteriores, o Copom alertava que essa projeção estava em ascensão.
No texto, o comitê ainda ressaltou que previa que a gasolina aumentaria 5% neste ano. O aumento anunciado pela Petrobras foi de 4%. Os diretores ainda revisaram para baixo a perspectiva para preços administrados, ou seja, as tarifas. Acham que neste ano, a alta será de 1,2%: 0,3 ponto percentual menor que a projeção anterior. No entanto, mantiveram a aposta de alta de 4,5% no ano que vem por causa do represamento de reajustes feito pelo governo em 2013.
Na ata, a cúpula do BC incluiu os leilões de exploração da áreas de petróleo como um dos fatores de estímulo à demanda agregada. Afirmou ainda que o consumo das famílias continuará em grande expansão.
A economista Alessandra Ribeiro, da equipe de macroeconomia da consultoria Tendências, também concorda que o BC sinalizou que pode haver uma redução do ritmo de alta da Selic em janeiro, embora não tenha se comprometido com isso. Para a economista, a principal variável a ser acompanha pelo BC é o câmbio.
- O BC sinalizou que pode reduzir o ritmo de alta da Selic, já que desde abril elevou a taxa em 2,5 pontos percentuais (de 7,25% para 10% ao ano). Porém, não se comprometeu com isso. O câmbio é a principal variável de risco para a inflação atualmente. Se a pressão cambial subir, o BC pode subir a Selic em mais 0,5 ponto percentual em janeiro - diz Alessandra Ribeiro.
No cenário traçado pela Tendências, o câmbio deve terminar o ano em R$ 2,35 e a Selic seria elevada em mais 0,25 ponto percentual em janeiro, encerrando o ciclo de aperto monetário em 10,25%. A inflação medida pelo IPCA deve ficar em 5,8%, na avaliação da Tendências.
Porém, em comunicado aos clientes, os economistas do HSBC afirmam que o ciclo de alta da taxa de juros deve seguir com viés de alta.
“A referência ao fato de que o Banco Central iniciou o ciclo de aperto em abril lembra que a política monetária afeta a inflação com uma defasagem e reforça nossa visão de que o Banco Central vai aumentar a Selic em apenas 0,25 ponto percentual na reunião do Copom janeiro de 2014” - diz o texto.
De olho na inflação
O Banco Central informou que a projeção para a inflação em 2013 pelo cenário de referência diminuiu, mas permanece acima da meta do governo. Para 2014, a projeção se manteve estável também no cenário de referência, acima da meta de 4,5%. Já para o terceiro trimestre de 2015, a inflação se posiciona acima da meta.
Para estas estimativas, o BC levou em consideração os choques de preços já identificados, e seus impactos, reavaliados de acordo com o novo conjunto de informações disponível e, mais uma vez, mostrando-se vigilante quanto à trajetória de preços.
"Embora reconheça que outras ações de política macroeconômica podem influenciar a trajetória dos preços, o Copom reafirma sua visão de que cabe especificamente à política monetária manter-se especialmente vigilante, para garantir que pressões detectadas em horizontes mais curtos não se propaguem para horizontes mais longo", diz o documento.
O cenário considerou simulações que incluem a projeção de reajuste no preço da gasolina; projeção para tarifa de energia (prevendo recuo de aproximadamente 16%, mesmo valor considerado na reunião do Copom de outubro). Neste caso, segundo o BC, já estão incluídos os impactos diretos das reduções de encargos setoriais anunciadas, bem como reajustes e revisões tarifárias ordinários programados para este ano.
Também estão contidos na simulação um possível aumento de 2,5% no preço do gás de bujão e a redução de 1% na tarifa de telefonia fixa para o acumulado de 2013.
A projeção de reajuste para o conjunto dos preços administrados por contrato e monitorados, para o acumulado de 2014, foi mantida em 4,5%, também o mesmo valor considerado na reunião do Copom de outubro.
- O Banco Central reconheceu na ata que já fez um grande esforço ao aumentar a taxa de juro seis vezes consecutivas. Por isso, o Copom ponderou que a transmissão dos efeitos das ações de política monetária para a inflação ocorre com defasagens. Na prática, o BC deixou a porta aberta para começar a reduzir o ritmo de altas da Selic. - diz o estrategista-chefe do banco japonês Mizuho no Brasil, Luciano Rostagno.
Para ele, no entanto, o BC eleverá a Selic em janeiro, mas ressalta que ainda é cedo para dizer se a alta será de 0,5 ou 0,25 ponto percentual.
- Tudo vai depender de como os preços se comportarem, do câmbio. O próprio recuo de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre pode contribuir para essa redução. O fato é que a Selic vai subir novamente em janeiro - diz Rostagno.
Na avaliação do banco Mizuho, a Selic sobe em janeiro (alta de 0,5 ou 0,25 ponto percentual) e em fevereiro mais 0,25 ponto percentual.
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