sexta-feira, 9 de agosto de 2013

CORRUPÇÃO: ‘Reuniões secretas’ ocorriam de acordo com ‘desejo’ e ‘pressão’ do governo, diz funcionário da Siemens

De OGLOBO.COM.BR
THIAGO HERDY (EMAIL·FACEBOOK)

Em diário, ele relata que encontros entre concorrentes de licitação do metrô de SP eram fruto de pressão do “cliente”
SÃO PAULO. As “reuniões secretas” entre empresas concorrentes na licitação para compra de trens da linha 5 do metrô de São Paulo, um contrato de R$ 620 milhões, ocorriam de acordo “com o desejo” e também “por pressão” do próprio governo estadual, diz um funcionário da Siemens em diário entregue à direção da empresa e encaminhado ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), do Ministério da Justiça.
Escrito em alemão, o caderno traz um relato minucioso de dois anos de negociação entre empresa, concorrentes e governo, citado no documento como “o cliente”. A Siemens entregou às autoridades uma versão traduzida do documento, cujos registros vão de maio de 1998 a maio de 2000, ano em que foi concluída a licitação de compra, durante o governo de Mário Covas (PSDB), morto em 2001.
No processo do Cade, a Siemens identificou o diário como um documento entregue por Peter Rathgeber. Ele seria o único dos seis funcionários que colaboraram com as investigações internas e que ainda faz parte dos quadros da Siemens.
Em 4 de novembro de 1999, o funcionário escreveu, mencionando o governo paulista: “o cliente não quer que o projeto seja prejudicado por reclamações, pedindo então aos participantes que se entendam”. Vinte seis dias depois, relataria: “Paralelamente, ocorrem de acordo com desejo do cliente, as ‘Reuniões Secretas’ entre Alstom, ADTranz, Siemens, Ttrans e Mitsui. O bolo deverá ser repartido entre estes cinco proponentes (idealmente 20% para cada). Bombardier e CAF ficarão de fora”.
Além de mencionar a conivência da administração estadual com a formação do cartel, o funcionário vai além, ao dizer que o próprio governo “pressionava” para que houvesse acordo entre as empresas, apesar dos prejuízos ocasionados pela prática anticompetitiva, que também são citados no diário.
Em fevereiro de 2000, o funcionário escreveu: “por pressão do cliente a união entre Alstom, Ttraz, Adtranz Mitsui e Siemens para divisão do fornecimento torna-se contratual, com planilha de preços, sem data. Alstom é a líder do consórcio, a Siemens um ‘subfornecedor nomeado’.”
Três meses antes, ele escreveu: “se, de acordo com o desejo do cliente, se chegar a um acordo, temos possibilidades em relação à parte da tração num preço alto”, escreveu o funcionário, se referindo ao benefício que a empresa poderia obter.
Apesar de se referir ao governo como “cliente”, o nome do interlocutor do governo com a empresa não é citado no diário.
A licitação foi concluída em 2000 e contou com a participação de várias entre empresas, entre elas Siemens, Alstom, CAF e DaimlerChrysler. De acordo com a previsão do funcionário ao fim do diário, elas formaram um consórcio que concorreu sozinho e venceu a licitação, sem que houvesse livre concorrência na disputa pelo contrato. As empresas Mitsui e T’Trans foram subcontratadas pelo consórcio.
Simens e Alstom informaram por meio de notas oficiais que colaboram com as investigações do Cade e que não poderiam fornecer informações adicionais. O Cade, por suas vez, disse que as investigações correm sob sigilo.

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