De OGLOBO.COM.BR
Para fugir de restrição da lei eleitoral, Executivo dá ajuda de última hora
BRASÍLIA - Às vésperas do início da campanha eleitoral e da vigência das
restrições impostas pela legislação, que proíbe assinaturas de convênios do
governo federal com as prefeituras entre julho e outubro, o Palácio do Planalto
autorizou a liberação de R$ 450 milhões em emendas parlamentares de anos
anteriores para obras e projetos de até R$ 750 mil. Esses recursos atenderão as
emendas para as chamadas “obras paroquiais”, com grande “capilaridade
eleitoral”, pois são executadas diretamente nas cidades.
A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, informou ontem que o
governo está fazendo “um mutirão” nos ministérios para liberar os recursos já
autorizados em anos anteriores. E também para fazer, até sexta-feira, o maior
volume de empenhos (promessas para pagamento futuro) das emendas ao Orçamento de
2012 — sexta-feira é também o último dia para os empenhos, que só voltarão a ser
feitos em novembro e dezembro.
Ideli fez uma ressalva: lembrou que a liberação até esta sexta-feira vai
depender da “operacionalidade dos ministros” e das “condições das prefeituras”,
que podem ter problemas de inadimplência ou falhas nos projetos para as
obras:
— Não vamos ter 100% de empenho, por vários motivos que fogem ao nosso
controle. O que estava ao nosso alcance fizemos.
A presidente Dilma Rousseff não está muito disposta a subir nos palanques
este ano, segundo Ideli. A ministra disse que Dilma não vai participar de
campanhas, mas que os ministros estão liberados “fora do expediente”:
— Nós (ministros) podemos participar, desde que não atrapalhe o trabalho no
ministério. A presidente não pensa em se envolver. A melhor maneira dela ajudar
nas eleições é o Brasil ficar bem.
A fala da ministra não acalmou os parlamentares que se preparam para o início
da campanha eleitoral e visitas às bases, com mais frequência, a partir do
recesso legislativo, dia 18. Na Câmara, a oposição decidiu obstruir as votações
em plenário, em protesto contra o baixo empenho das emendas de seus deputados.
Na reunião de líderes, ao avisar que PSDB e DEM iriam entrar em obstrução, o
líder do Democratas, ACM Neto (BA), afirmou, segundo presentes:
— DEM e PSDB não aceitam ser considerados deputados de segunda categoria, por
isso vamos obstruir.
O líder do PSDB, Bruno Araújo (PE), também criticou:
— O problema não são os valores envolvidos, mas a diferença. O governo
procura massacrar a oposição.
Oposição acusa governo de privilegiar base
De acordo com levantamento feito pela liderança do DEM, dos R$ 20,8 bilhões
de emendas parlamentares aprovadas no Orçamento deste ano, só R$ 1,078 bilhão
tinha sido empenhado até 28 de junho, com ampla vantagem para os parlamentares
governistas.
Considerando a execução dos convênios do governo federal com as prefeituras,
em levantamento feito pelo PSDB, R$ 257,4 milhões foram empenhados até o último
dia 26. Desse total, segundo os tucanos, a oposição conseguiu para os municípios
que representa R$ 1,4 milhão, enquanto os da base aliada conquistaram
99,47%.
Mesmo contemplada, a base está insatisfeita. Os aliados reclamam também dos
valores já pagos de emendas de anos anteriores, os chamados “restos a pagar”.
Segundo os dados já levantados, estavam empenhados (prontos para serem pagos) de
três anos anteriores mais de R$ 11 bilhões. Até 25 de junho, o governo pagou
cerca de R$ 1,5 bi. Com muito esforço, esse total passará um pouco de R$ 2
bilhões.
Líder do PR na Câmara, Lincoln Portela (MG) disse que é desrespeito do
governo não cumprir a lei orçamentária e liberar a verba das emendas:
— O problema não é a Ideli, ela tenta ser a solução, o problema é o governo
que não quer (liberar). As bancadas da Câmara estão todas insatisfeitas. O
liberado até agora é ridículo em relação ao que foi votado — reclamou
Portela.
Vice-líder do governo e do PTB, o deputado Alex Canziani (PR), prefere
acreditar que a situação poderá melhorar até sexta-feira:
— Até agora, está muito aquém das expectativas e há muitas insatisfações.
Mas, até o final da semana, melhora. Sentimos que há interesse dos ministérios
em ajudar. Até a oposição vai ser contemplada, em percentual menor, mas
será.
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