DE OGLOBO.COM.BR
Ana Lucia Valinho
CNN e Fox News noticiaram que mandato individual tinha sido declarado inconstitucional
RIO - A corrida para dar a decisão da Suprema Corte sobre a reforma de saúde
apresentada pelo presidente Barack Obama, uma das notícias mais importantes do
ano para os americanos, levou duas grandes emissoras ao erro. Até o próprio
Obama passou alguns minutos acreditando que tinha sofrido uma dura derrota
política graças à “barriga”, jargão jornalístico que se refere às inverdades
publicadas erroneamente. As redes de TV CNN e Fox News noticiaram, antes do fim
da decisão, que o mandato individual, artigo que determinava que todos os
cidadãos tivessem seguro de saúde, tinha sido declarado inconstitucional. Na
verdade, ele
teve sua constitucionalidade afirmada.
Obama, que acompanhava o julgamento pela CNN no Salão Oval da Casa Branca,
ficou até calmo com a (falsa) notícia, segundo assessores. Alguns minutos
depois, a conselheira da Casa Branca Kathy Ruemmler chegou fazendo o gesto de
positivo com os dois polegares para cima. Ela já sabia da informação correta
graças a um advogado do governo que estava na Suprema Corte e ao Scotusblog.com,
mantido pela Suprema Corte e pela Bloomberg.
Obama abraçou Kathy e, aliviado, pediu que um assessor lhe parabenizasse pela
vitória.
A falha das TVs aconteceu porque a decisão estava empatada em 4 a 4 e o voto
que decidiria era o do presidente da Suprema Corte, John Roberts.
- O artigo da Lei de Reforma da Saúde que exige que certos indivíduos paguem
multa por não obter seguro-saúde pode ser caracterizado como um imposto. Como a
Constituição permite tal imposto, não é nosso papel proibi-lo ou aprová-lo -
afirmou Roberts, confundindo os mais apresados.
O erro das emissoras repercutiu amplamente na mídia e, claro, nas redes
sociais dos Estados Unidos. A tela da CNN exibiu em seu rodapé que o mandato
individual tinha sido derrubado e declarado inconstitucional pela Suprema Corte.
O âncora Wolf Blitzer e a repórter Kate Bolduan estavam no ar e comentaram sobre
como a decisão era um “golpe” para Obama.
E em tempos de imprensa multiplataforma, o erro não ficou restrito à TV: a
informação foi replicada em todos os canais da emissora: no site, no Twitter, no
aplicativo de celular. A CNN atribuiu o erro a um produtor que estava no
tribunal. No Twitter, o post corrigindo a informação demorou 13 minutos para ir
ao ar.
A Fox News, embora com o erro menos comentado nos EUA, também chegou a
veicular que a lei tinha sido declarada inconstitucional, com Bill Hemmer no ar.
O âncora Bret Baier chegou a tuitar a informação. Mas, então, a jornalista Megyn
Kelly pediu para os produtores mudarem a frase na tela após ver as notícias que
chegavam através do Scotusblog.com.
- Damos à nossa audiência a notícia como aconteceu... A Fox reportou os
fatos, do jeito que eles vieram - afirmou Michael Clemente, vice-presidente
executivo da Fox para jornalismo.
A CNN também foi obrigada a pedir desculpas. “Em sua fala, o presidente da
Suprema Corte (John) Roberts inicialmente disse que o mandato individual não era
um exercício válido do poder do Congresso sob a cláusula comercial. A CNN
noticiou esse fato, mas então noticiou erroneamente que, portanto, a corte tinha
derrubado o mandato como inconstitucional”, afirmou a rede em um comunicado.
“A CNN se arrepende por não ter esperado para noticiar a opinião completa
sobre o mandato. Fizemos uma correção após poucos minutos e pedidos desculpas
pelo erro”, conclui a nota.
Além do presidente, vários membros do Congresso foram “enganados” pela
notícia. Buck McKeon, Dennis Ross, Bob Brady, Virginia Foxx e Tom Rooney, entre
outros, chegaram a tuitar sobre a inconstitucionalidade do mandato individual,
mas apagaram suas mensagens ao saber da verdade. O site Politwoops, que reúne, tuítes deletados
pelos políticos americanos, registrou as gafes.
Não é a primeira vez que uma “barriga” jornalística causa furor nos Estados
Unidos. Há 64 anos, o “Chicago Tribune” publicou em sua manchete que o
governador de Nova York, Thomas E. Dewey, tinha vencido as eleições
presidenciais, em vez de Harry S. Truman. Fazendo troça, Truman exibiu a edição,
dizendo que o erro ia entrar para a História. Agora, em uma montagem que circula
pela internet, Obama segura um iPad exibindo o site da CNN com a informação
errada.
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