De OGLOBO.COM.BR
Ramona Ordoñez / Bruno Villas Bôas
Reajuste da gasolina frustra investidores e ações da petrolífera despencam 8,95%. Início da operação do Comperj é adiado
RIO — “Frustrante, pequeno demais, tarde demais”. É como os investidores
qualificaram ontem o reajuste no preço dos combustíveis anunciado pela Petrobras
na última sexta-feira. Resultado: as ações da empresa despencaram ontem e
tiveram a maior queda desde novembro de 2008, auge da crise financeira
internacional. Os papéis preferenciais (PN, sem direito a voto) recuaram 8,95% e
os ordinários (ON, com direito a voto), 8,33%. Em um único pregão, as ações
perderam R$ 22,3 bilhões de valor de mercado, mais do que vale a Natura (R$ 20
bilhões).
O reajuste nos preços da gasolina (7,83%) e do óleo diesel (3,94%) entrou em
vigor ontem. E, em apresentação para analistas de mercado do Plano de Negócios
2012-2016, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, deixou claro que
os preços terão que sofrer novos reajustes nos próximos anos para garantir os
recursos para os investimentos de US$ 236,5 bilhões previstos no plano. Segundo
ela, a defasagem em relação os preços internacionais não foi totalmente
eliminada, mas o aumento ajudará a companhia a seguir com seu programa de
investimentos.
— O plano aprovado pelo Conselho de Administração da Petrobras pressupõe
paridade de preços internacionais — disse Graça.
Segundo ela, os investimentos também levarão em conta redução de custos,
preço do petróleo e os atrasos nas obras:
— O controlador aprovou o plano de US$ 236,5 bilhões, em que o primeiro item
é a paridade de preços. Nós não passamos a volatilidade dos preços
internacionais ao consumidor, e vamos continuar não passando. Agora, vamos estar
sempre que necessário, pelo menos uma vez por mês, mostrando ao nosso
controlador a nossa condição de dar continuidade aos nossos projetos.
Hersz Ferman, gestor da Yield Capital, explica que o mercado esperava um
reajuste maior, na faixa de 10% a 15%. Segundo estimativas do banco Credit
Suisse, com o reajuste, a defasagem segue elevada na gasolina (7,5%) e no óleo
diesel (18,6%). Além disso, como o governo zerou a Contribuição de Intervenção
no Domínio Econômico (Cide) para não haver repasse ao consumidor do aumento
aplicado nas refinarias o aumento praticado nas refinarias, a companhia terá
cada vez mais dificuldades para negociar reajustes, afirma Emerson Leite,
analista do banco. Isso porque o governo já não tem mais margem de manobra para
evitar impacto na inflação.
— A Petrobras tem um plano de investimentos muito grande e precisa de caixa
para executá-lo. Mas, se foi tão difícil e demorou tanto conseguir um reajuste
na gasolina mesmo sem impacto na inflação, imagine agora — afirma Ricardo
Corrêa, analista da Ativa Corretora. — Muita gente ficou otimista com a entrada
de Graça Foster no começo do ano. Mas a realidade é que a empresa continua um
mecanismo do governo para controle de inflação..
Obra em Itaboraí sem previsão de acabar
Os analistas também não gostaram da apresentação do plano de negócios.
Segundo Gustavo Gattass, do BTG Pactual, a Petrobras fez uma “apresentação para
engenheiro” e não para investidores. Ele explicou que os diretores da companhia
falaram muito sobre gestão e metas e pouco sobre as estratégias da companhia.
Graça embarcou ontem com diretores para apresentar o plano das empresas a
investidores em Nova York, Boston e Londres.
Graça anunciou ontem que a Petrobras adiou o início da operação do Complexo
Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em construção em Itaboraí, no Rio, e
das duas refinarias Premium previstas para serem construídas no Maranhão e no
Ceará. Ela garantiu que os projetos não foram cancelados, mas que seus prazos
sendo reavaliados considerando seus custos e recursos disponíveis. Pelo
cronograma anterior, a primeira refinaria do Comperj deveria entrar em operação
em 2014, e a segunda em 2016. No momento não tem prazo algum definido. Segundo o
último balanço do PAC 2, divulgado em março, até o fim de 2011 o Comperj já
tinha 25% de suas obras realizadas. O governo exigia da Petrobras no balanço do
PAC realizar até 29% das obras até abril. Foram investidos até 2010 (último dado
disponível) R$ 2,9 bilhões no Comperj e a previsão é de mais R$ 19,2 bilhões
para concluir a obra.
— Nenhum projeto foi retirado do plano. No Comperj, estamos reavaliando os
prazos, de uma forma mais detalhada possível — destacou.
Já as refinarias Premium saíram do Plano de Negócios 2012-2016. No plano
anterior, a Premium I, no Maranhão, deveria iniciar produção em 2016 e a Premium
II, no Ceará, a partir de 2017. As obras da Refinaria Abreu e Lima, em
Pernambuco, tiveram atraso de um ano em sua conclusão. A primeira unidade está
prevista para novembro de 2014, contra setembro de 2013 previsto anteriormente.
A segunda entrará em operação em novembro de 2015. Ao detalhar o novo plano de
negócios com novos prazos para todos os projetos da companhia, Graça informou
que o custo passou para US$ 17 bilhões, contra US$ 13 bilhões anteriores.
Empresa não cumpre metas desde 2003
Graça e toda a nova diretoria, apresentaram também as novas metas de produção
de petróleo que foram reduzidas em relação ao plano anterior de 2012-2015. Pelas
novas metas a produção nacional de petróleo caiu para 2,5 milhões de barris em
2015, contra 3 milhões em 2015 previstos anteriormente. Graça fez questão de
demonstrar que, desde o início do Governo Lula, em 2003, a Petrobras nunca
conseguiu cumprir as metas previstas.
Com o tombo das ações da Petrobras, o Ibovespa, índice de referência da Bolsa
de Valores de São Paulo (Bovespa), fechou em queda de 2,95%, aos 53.805 pontos.
Também influenciou um clima externo negativo, com investidores apostando na
falta de resolução na cúpula da União Europeia no fim da semana. O volume de
negócios da Bolsa ficou em R$ 4,6 bilhões, num pregão marcado ainda por sérios
problemas de conexão com o sistema da Bolsa. O dólar comercial fechou em leve
alta de 0,09%, a R$ 2,066. (COLABOROU: Danilo Fariello)
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