segunda-feira, 21 de maio de 2018

MUNDO: Eleição de Maduro na Venezuela sofre rejeição internacional

OGLOBO.COM.BR
POR O GLOBO / AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Governos estrangeiros não reconhecem resultado; poucos aliados celebram vitória do presidente

Apoiadores do presidente venezuelano Nicolás Maduro comemoram reeleição - CARLOS GARCIA RAWLINS / REUTERS

CARACAS - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, foi alvo de novas repreensões internacionais após o órgão eleitoral anunciar sua reeleição na noite de domingo em uma votação denunciada como uma fraude que solidifica a crise político-econômica no país. Aos 55 anos, o sucessor de Hugo Chávez obteve sua vitória "contra o imperialismo", mas seus principais opositores não reconheceram o resultado e o pleito teve a sua menor taxa de comparecimento às urnas (46%) desde a chegada do chavismo ao poder, em 1999. Logo nas primeiras horas após a divulgação do resultado, pelo menos quatro países não reconheceram o resultado, e blocos regionais realizavam consultas para estudar posições conjuntas.
Considerando a votação uma "farsa", os Estados Unidos não reconheceram as eleições que dão um novo mandato de seis anos a Maduro e ameaçam impor mais sanções ao país, sobretudo contra o setor petroleiro, já em profunda crise devido a forte queda da produção, falta de profissionais e deterioração da infraestrutura.
"A farsa eleitoral não muda nada", escreveu o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, no Twitter. O senador republicano Marco Rubio, forte crítico de Maduro, clamou pelo isolamento do presidente venezuelano e disse que apoia "todas as opções políticas" para que o país retome o caminho da democracia.
Num duro comunicado, o Grupo de Lima — integrado por Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru e Santa Lúcia — não reconheceu o pleito e concordou que membros do bloco reduzam o nível diplomático de suas relações com a Venezuela, além de coordenar ações para evitar que organizações financeiras concedam empréstimos ao país, exceto em casos de ajuda humanitária.
Em sua crítica, o presidente chileno, Sebastián Piñera, foi contundente sobre o resultado:
— A eleição na Venezuela não cumpre os padrões mínimos da verdadeira democracia — criticou. — Como a maioria das nações democráticas, o Chile não reconhece essas eleições.
Seu posicionamento foi seguido pelo Panamá e Costa Rica, que disseram logo após o resultado que também não reconheceriam a reeleição.
ESPANHA VAI CONSULTAR UE
Ao longo do processo eleitoral, a União Europeia e países latino-americanos alertaram reiteradamente sobre o avanço de condições injustas entre os candidatos. A Espanha, que passou por um recente impasse diplomático com a Venezuela, que contou a expulsão mútua de embaixadores, informou que vai tomar "as medidas oportunas junto ao bloco europeu e que seguirá trabalhando para aliviar o sofrimentos dos venezuelanos". O presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, disse que não foram respeitados padrões democráticos.
"No processo eleitoral da Venezuela, não se respeitaram os padrões democráticos mínimos. A Espanha estudará junto aos parceiros europeus as medidas oporturnas e continuará trabalhando para amenizar o sofrimento dos venezuelanos", disse Rajoy no Twitter.
Por outro lado, Cuba e El Salvador, países aliados da Venezuela, principalmente devido aos laços comerciais no setor energético, enviaram cumprimentos ao presidente reeleito. O presidente boliviano Evo Morales se manifestou no Twitter a favor da eleição venezuelana, lançando uma crítica aos Estados Unidos:
"O povo venezuelano soberano triunfou novamente sobre o golpismo e intervencionismo do império norte-americano. Os povos livres jamais nos submeteremos. Felicidades ao irmão Nicolás Maduro e ao valioso povo da Venezuela", disse Morales.
COMEMORAÇÃO DE APOIADORES
Milhares de apoiadores de Maduro, muitos com boinas vermelhas, se abraçavam e dançavam do lado de fora do Palácio Miraflores, sede do governo de Maduro, sob confetes nas cores amarela, azul e vermelha, da bandeira nacional.
— A revolução veio para ficar — disse Maduro, eufórico, à multidão, prometendo priorizar a recuperação econômica após cinco anos de recessão no país com 30 milhões de habitantes.
Os apoiadores do presidente entoavam "Vamos, Maduro!" na festa que passou da meia-noite no centro de Caracas.
— Não devemos ceder a nenhum império ou ir correndo ao Fundo Monetário Internacional, como a Argentina. A oposição deve nos deixar em paz para governar — disse a chavista Ingrid Sequera, aos 51 anos, usando uma camiseta com um desenho dos olhos de Chávez.
VANTAGENS E DESAFIOS DE MADURO
A principal aliança de oposição a Maduro decidiu boicotar a eleição após dois de seus mais importantes líderes serem banidos do pleito. Autoridades do governo proibiram a coalizão e vários de seus partidos de concorrem, e o quadro eleitoral foi dominado por chavistas.
O governo socialista usou amplos recursos estatais durante a campanha e pressionou funcionários públicos a votar. O resultado oficial indicou que Maduro recebeu 5,8 milhões de votos contra 1,8 milhão para o principal concorrente, Henri Falcón, ex-governador que furou o boicote da oposição para disputar a Presidência.
De acordo com o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), o comparecimento às urnas foi de 46%, bem menos do que os 80% registrados na eleição de 2013.
Falcón não reconheceu o resultado, pedindo uma nova eleição e reclamando dos quase 13 mil de centros pró-governo, chamados de "pontos vermelhos", perto das seções eleitorais pelo país.
Foi exigido dos venezuelanos mais pobres apresentar a "carteira da pátrias" nos pontos chavistas após votar na esperança de receber uma "recompensa" de Maduro. O documento é emitido pelo governo e necessário para obter benefícios estatais, como caixas de comida e transferências de dinheiro.
O presidente reeleito agora enfrenta a tarefa colossal de reverter a economia em falência, sem oferecer nenhuma reforma específica das políticas estatais que já perduram há duas décadas. O bolívar venezuelano recuou 99% ao longo do ano passado, e a inflação atual está em torno de 14.000%, segundo a Assembleia Nacional.
Além disso, os vários credores da Venezuela estão considerando acelerar processos por dívidas não quitadas, enquanto a petroleira ConocoPhillips está tomando a ação agressiva de confiscar bens da petroleira estatal PDVSA.
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