terça-feira, 18 de abril de 2017

LAVA-JATO: Serra recebeu via operador por obra do Rodoanel, afirma delator

FOLHA.COM
MARIO CESAR CARVALHO, DE SÃO PAULO

Mateus Bruxel - 31.out.2010/Folhapress 
O ex-diretor de engenharia da Dersa Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, em entrevista

Um dos delatores da Odebrecht, o executivo Luiz Eduardo Soares, diz em depoimento que o ex-diretor do Dersa Paulo Vieira Souza, conhecido como Paulo Preto, devolveu R$ 4 milhões para a empresa em 2010. Posteriormente, o equivalente a esse valor em dólares, US$ 2 milhões, teriam sido depositados para José Serra em conta no exterior do empresário Jonas Barcellos, dono do grupo Brasif.
Os R$ 4 milhões foram pagos pela Odebrecht por causa da obra do Rodoanel Sul, segundo o delator.
Em 2010, Serra foi candidato à Presidência pelo PSDB e perdeu a disputa para Dilma Rousseff (PT). Paulo Preto é acusado por delatores de intermediar repasses ilícitos no Dersa a favor de Serra e do atual ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira -o que ambos negam com veemência.
O senador afirma em nota à Folha que a história contada pelo delator não faz o menor sentido e negou que tenha beneficiado a Odebrecht quando ocupou cargos públicos.
O empresário citado pelo delator é dono da Brasif, empresa que administra free-shops em aeroportos.
Barcellos é apontado por delatores da Odebrecht como o quarto empresário a emprestar contas para que Serra recebesse recursos da Odebrecht. Os outros são Márcio Fortes, ex-tesoureiro do PSDB, Ronaldo Cezar Coelho, amigo de Serra, e José Amaro Pinto Ramos, acusado de ser lobista ligado aos tucanos paulistas. Todos negam que Serra seja o beneficiário desses depósitos.
DEVOLUÇÃO
Soares diz que a devolução dos R$ 4 milhões foi acertada por ele e Roberto Cumplido, executivo da Odebrecht que gerenciava o contrato do Rodoanel Sul, na sala de Paulo Preto no Dersa.
"Ele [Paulo Preto] estava querendo devolver um numerário para nós e fui lá combinar como seria a retirada desse dinheiro", diz Soares.
Ele diz que a Odebrecht acionou um empresário que trabalhava como doleiro para a empresa, Alvaro Novis, que retirou os R$ 4 milhões na casa de Paulo Preto.
Semanas depois, ainda de acordo com o delator, Benedito Junior, que presidiu a construtora do grupo, convocou-o para ir ao Rio acertar o depósito com o empresário da Brasif. Soares afirma que não se falou em Serra na reunião com Barcellos na sede da Brasif, no Leblon. Mas, segundo Soares, Benedicto Junior lhe disse que "esse dinheiro pertenceria ao Serra".
A rigor, segundo o delator, não foi uma devolução, mas sim uma troca, já que o mesmo valor teria sido pago no exterior. "Eu entendo que queriam colocar [o dinheiro] em um lugar mais seguro", disse.
Outros delatores da Odebrecht afirmaram em seus acordos que Serra foi beneficiado com repasses no valor de R$ 15,9 milhões na obra do Rodoanel.
Pedro Novis, ex-presidente do grupo, diz que transferiu R$ 23,3 milhões para Serra a partir de 2010.
RELAÇÃO
Barcellos foi apontado pela jornalista Mirian Dutra como o responsável por fazer pagamentos a ela por ordem do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Mirian teve um relacionamento com o ex-presidente nos anos 1990. Ela diz que recebia uma mesada de US$ 3.000 mensais, o que é negado por FHC.
OUTRO LADO
O senador José Serra (PSDB-SP) atacou a versão contada pelo delator da Odebrecht Luiz Eduardo Soares e negou que tenha beneficiado a empreiteira.
"A confusa história relatada pelo delator não faz nenhum sentido", afirma nota enviada pelo parlamentar.
"O senador José Serra jamais teve relações com boa parte dos personagens citados e, como afirmou o ex-presidente da Odebrecht Pedro Novis em depoimento, nunca tomou medidas nos cargos que ocupou que tenham beneficiado a empresa".
"A abertura da investigação é útil para comprovar a lisura de sua conduta", afirma Serra.
Jonas Barcellos diz que "as empresas Brasif não comentam processos sobre os quais não tiveram conhecimento".
No ano passado, quando a Folha revelou que Mirian Dutra apontara a Brasif como autora de pagamentos de FHC, a empresa disse que o ex-presidente não tinha relação com os depósitos e que a jornalista fora contratada para fazer pesquisas em aeroportos europeus. A Folha não conseguiu obter contato com Paulo Preto.

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