terça-feira, 18 de abril de 2017

LAVA-JATO: Padilha tratou de propina sob FHC, Lula e Dilma, diz delação

FOLHA.COM
CAMILA MATTOSO
BELA MEGALE
LETÍCIA CASADO
DE BRASÍLIA

Alan Marques - 22.dez.2016/Folhapress 
O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, participa de cerimônia no Palácio do Planalto

Delatores da Odebrecht afirmaram nos depoimentos que o ministro da Casa Civil do governo Michel Temer, Eliseu Padilha, pediu, recebeu e gerenciou propinas e caixa dois durante os últimos três governos federais.
De Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), passando por Lula (2003-2010), até Dilma Rousseff (2011-2016), o atual chefe da Casa Civil foi, de acordo com as delações, o encarregado de arrecadar ao menos R$ 11,5 milhões junto à empreiteira.
Padilha é mencionado por pelo menos seis executivos, que lhe atribuem importância relevante no trato com o grupo baiano e o colocam em exposição maior em relação aos outros sete ministros de Temer que também são alvos de investigação em razão dos depoimentos.
O relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, autorizou dois inquéritos para apurar as condutas da Padilha.
Ele é citado como autor de pedidos, cobranças ou recebimentos de propina vinculados a três obras: na Eclusa Lajeado, em Tocantins, na Trensurb, ferrovia do Rio Grande do Sul, e no aeroporto do Galeão, no Rio.
Os delatores afirmam que as solicitações ocorreram como contrapartida por ajuda dada pelo hoje ministro em licitações que consagraram a Odebrecht vencedora.
Em depoimento, Benedicto Junior, ex-presidente de Infraestrutura da empreiteira, disse que Valter Lana, ex-diretor de contratos da empresa, contou do pedido de propina de Padilha relacionado a uma licitação de 2001.
"O executivo (Lana) me disse que foi procurado pelo Eliseu Padilha, que alegou a ele ter ajudado a Odebrecht no processo licitatório [de 2001], portanto fazia jus ao pagamento de 1%", afirmou.
Lana corroborou a versão: "Ele [Padilha] também dizia que havia combinado com a empresa que se isso virasse, teria direito, ao que me recordo, era também um percentual maior, alguma coisa em torno de 1% do valor do contrato".
Segundo Lana, a negociação de 2001 rendeu pagamentos nos anos seguintes ao peemedebista. Ele menciona reunião em 2008 com Padilha. "Tem registrados pagamentos em 2010. O codinome dele era Bicuira, nesse caso fui eu quem dei."
O escritório de Padilha em Porto Alegre, em funcionamento até hoje, aparece nas planilhas dos delatores como local de entrega de de R$ 1 milhão, em março de 2014.
Ex-executivos da empreiteira dizem ainda que o ministro gerenciou os repasses autorizados por Marcelo Odebrecht para campanhas do PMDB em 2014, assunto que foi tratado em jantar no Palácio do Jaburu, com Temer.
A quantia acordada foi de R$ 10 milhões, dos quais R$ 6 milhões foram diretamente para a candidatura de Paulo Skaf (PMDB-SP) ao governo de São Paulo, enquanto R$ 4 milhões ficaram sob a responsabilidade de Padilha, de acordo com a delação.
O delator Cláudio Melo Filho afirmou ainda que no período em que o hoje chefe da Casa Civil ficou sem cargo público, por alguns meses em 2011, fez um pedido de ajuda para que seu escritório de advocacia fosse indicado internamente na empreiteira para prestação de serviços. Segundo o delator, não houve aceitação por parte da diretoria da Odebrecht.
O QUE DIZEM OS DELATORES
Pelo menos seis dos 77 delatores falam de Padilha
Marcelo Odebrecht, ex-presidente e herdeiro do grupo
"O que Cláudio [Melo Filho] me dizia era: Eu acerto com [Romero] Jucá, e está resolvido o PMDB do Senado, acerto com Eliseu Padilha está resolvido o PMDB da Câmara."
Claudio Melo Filho, ex-vice-presidente de Relações Institucionais da empreiteira
"O momento em que de fato eu realizei que Padilha era preposto de [Michel] Temer foi durante um jantar que aconteceu no [Palácio do] Jaburu".
Benedicto Júnior, ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura
"O executivo me disse que foi procurado pelo Eliseu Padilha que alegou a ele ter ajudado a Odebrecht no processo licitatório [de 2001], portanto fazia jus ao pagamento de 1%.
Paulo Cesena, ex-presidente da Odebrecht Transport
"Eliseu Padilha e Moreira Franco eram arrecadadores do PMDB. Se era para o partido ou pessoal, eu não sei dizer"
OUTRO LADO
Eliseu Padilha foi questionado sobre as acusações feitas pela Odebrecht e se limitou a dizer que tem confiança nas instituições do país.
"O ministro disse que confia nas instituições brasileiras, razão pela qual registra que tem certeza de que com a abertura das investigações lhe será garantida a oportunidade para exercer amplamente seu direito de defesa", informou ele, por meio de sua assessoria de imprensa.
A Folha perguntou se ele recebeu algum dinheiro da Odebrecht e qual o seu papel nas licitações da Trensurb e do Galeão. A reportagem questionou ainda qual era a relação de Padilha com os delatores Marcelo Odebrecht, Claudio Melo Filho, Paulo Cesena, José Carvalho Filho, Valter Lana e Benedicto Júnior.
Ele não respondeu sobre seu papel na assinatura do contrato da Eclusa de Lajeado, em Tocantins, e nos serviços do seu escritório para a Odebrecht. Também não se manifestou sobre seu escritório aparecer como endereço de entrega de dinheiro.

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