quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

MUNDO: Indicação de CEO da ExxonMobil põe interesses de Trump em choque

OGLOBO.COM.BR
POR HENRIQUE GOMES BATISTA, CORRESPONDENTE

Rex Tillerson tem laços estreitos com Putin e pode se beneficiar de contrato bilionário

Bons amigos. Putin (à esquerda) e Tillerson se cumprimentam em cerimônia de acordo entre a Rosneft e a ExxonMobil na Rússia - Mikhail Klimentyev / AP/15-6-2012

WASHINGTON - A nomeação de Rex Tillerson, presidente da ExxonMobil, como secretário de Estado confirmou os temas que devem marcar a fase final do período de transição para Donald Trump: o debate sobre a influência da Rússia na gestão do magnata e a discussão sobre os conflitos de interesse no futuro governo, marcado por milionários em cargos-chave. O indicado à chefia da diplomacia americana não tem experiência em cargo público, é muito próximo de Vladimir Putin (de quem ganhou a medalha da Ordem da Amizade em 2013) e, como presidente da petroleira, fez negócios com países controversos, além de ter sido questionado por suas ações ambientais.
Alguns acreditam que estes debates podem até ofuscar o começo do governo Trump, dia 20 de janeiro. Ele escolheu o executivo texano de 64 anos afirmando que agora “os americanos voltam a ter um líder de classe mundial trabalhando por eles”, de acordo com nota da equipe de transição. O presidente eleito, que passou a campanha presidencial questionando Hillary Clinton por conflitos de interesses — quando ela era secretária de Estado, a Fundação Clinton recebia doações de empresas e países que tinham relação com o governo americano — adotou mais um nome ligado à elite política e econômica do país. Tillerson aparece na posição 25 na lista das pessoas mais importantes do mundo, também contrariando um discurso de campanha, quando dizia que iria “drenar o pântano” de Washington, em referência à influência de pessoas poderosas.
— Ele pode não ter a experiência da burocracia do governo, mas certamente é muito experiente em negociações complicadas e adversas — afirmou ao GLOBO Jordan Tama, especialista em política exterior da American University, lembrando que ainda é cedo para saber o que o secretário pensa da América Latina e do Brasil. — Mas ele tem muitos desafios. O principal é mostrar que servirá aos valores americanos, afastando as dúvidas de seus conflitos de interesse.
Nomeação é mais um sinal à China
Tillerson não apenas é presidente da petroleira onde entrou em 1975, como possui cerca de US$ 200 milhões em ações dela. A amizade com Putin revela outros interesses: se o embargo americano e europeu à Rússia (por causa da anexação da Crimeia em 2014) cair, a ExxonMobil poderá fechar um negócio de até US$ 500 bilhões para a exploração de petróleo na Sibéria e no Ártico, em parceria com a estatal russa Rosneft.
Mas o primeiro dia após a oficialização da indicação de Tillerson foi de sinais trocados. Se na véspera até senadores republicanos se posicionavam contra o executivo, indicando que ele teria problemas para ser aprovado pelo Senado, os principais opositores a seu nome na legenda adotaram tom mais cauteloso. O líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, disse que “espera apoiar” a nomeação de Tillerson. A maior parte dos opositores indicou que quer esperar a sabatina do executivo para depois definir oficialmente suas posições.
Trump precisa evitar que três republicanos votem contra a nomeação de Tillerson — se isso ocorrer, seu nome será rejeitado no Senado, levando em conta que os 48 democratas tentarão barrar sua indicação. É exatamente o número de senadores do partido que já mostraram preocupação com sua indicação: John McCain, Marco Rubio e Lindsey Graham. Mas mesmo os mais ferozes contra seu nome ainda não declararam oficialmente que vão votar contra. A arma secreta do presidente eleito é contar com o apoio de republicanos de peso. A equipe de transição indicou que Tillerson teria sido aprovado pelos ex-secretários de Estado republicanos James Baker e Condoleezza Rice, além de Robert Gates, ex-titular da Defesa.
Além da questão de sua relação com a Rússia — acusada pela CIA de ter influenciado as eleições americanas por supostamente invadir comunicações de políticos democratas — Tillerson terá que negociar o acordo climático de Paris, a guerra na Síria, a relação com a China (outro ponto de polêmica de Trump), o combate ao terrorismo e o pacto nuclear com o Irã, a que o presidente eleito já se mostrou contrário.
— A indicação de Tillerson, um homem de negócios, aumenta as incertezas globais — afirmou Mathew Burrows, especialista em relações exteriores do Atlantic Council. — Se seu nome for aprovado pelo Senado, terá de enfrentar grande pressão dos países do Leste Europeu, que se baseiam no apoio americano e da Europa para evitar o aumento da influência russa na região — disse o especialista, que afirma que não necessariamente é ruim ter alguém com trânsito em Moscou e prevendo que o grande embate da diplomacia no governo Trump será, de fato, com a China.
Em breve nota, John Kerry, atual secretário de Estado dos EUA, felicita a indicação de Tillerson e prometeu ajudar na “transição suave” do cargo.

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