quarta-feira, 19 de agosto de 2015

ECONOMIA: Cenário político faz Bolsa fechar em queda de 1,82% e dólar subir a R$ 3,487

OGLOBO.COM.BR
POR ANA PAULA RIBEIRO

Indecisão do Fed sobre elevação dos juros nos EUA ajudou a reduzir desvalorização dos ativos brasileiros
- Chris Ratcliffe / Bloomberg News

SÃO PAULO - A sinalização de que está menor a probabilidade de um aumento de juros nos Estados Unidos no próximo vez trouxerem um certo alívio aos mercados financeiros, mas ainda assim o cenário político e econômico no Brasil fizeram o dólar comercial fechar em alta e a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) cair. A moeda americana encerrou o pregão cotada a R$ 3,485 na compra e a R$ 3,487 na venda, valorização de 0,60% ante o real - na máxima do pregão, a divisa chegou a R$ 3,515. Já o índice Ibovespa caiu 1,82%, aos 46.588 pontos - o recuo chegou a 3% no início da tarde.
Em comunicado, o Federal Reserve (Fed, o bc americano) afirmou que a maior parte dos participantes do comitê de política monetária acreditam que as condições para mudar a política econômica “ainda não foram alcançadas”. No entanto, acrescentaram que “as condições estão se aproximando deste ponto”. Quando ocorrer, essa será a primeira alta desde 2006. Para Italo Abucater, o tom neutro do comunicado retirou pressão sobre a cotação do dólar no Brasil. O efeito só não foi maior devido ao cenário interno mais desafiador.
— A atal ajudou a reduzir o ritmo de alta. O Fed já deu sinais de que está se preparado, mas a situação da China acaba influenciando nessa decisão. Mas os dados da economia americana, com maior emprego e aumento da venda de casas, mostra que internamente eles já estão pronto para isso — disse.
A alta da cotação no Brasil, no entanto, está ligada ao ambiente política e econômico. Segundo Hegedus, da Lopes & Filho, a falta de perspectiva de crescimento e a dificuldade em ajustar as contas fazem com que o mercado de câmbio opere com maior volatilidade.
— O governo até tenta mostrar uma agenda positiva, mas os dados econômicos não estão refletindo isso. Isso contribui para deixar o mercado de câmbio muito volátil — disse.
No exterior, a ata do Fed surtiu mais efeito. O “dollar index” apresentava recuo de 0,67% no momento do encerramento dos negócios no Brasil, queda mais intensa que o 0,18% registrados momentos antes da publicação da ata. Esse indicador, calculado pela Bloomberg, leva em conta o comportamento do dólar em relação a uma cesta de dez moedas.
FALTA DE PERSPECTIVA
A divulgação da ata do Fed também contribuiu para reduzir as perdas na Bolsa local, que operou em forte queda durante todo o pregão com os dados ruins da área econômica (o ICB-Br registrou queda pelo segundo trimestre consecutivo) e o ambiente político conturbado. A possibilidade do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ser denunciado até quinta-feira ao Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção aumentou esse sentimento negativo.
— O mercado está desde o período da manhã com uma forte pressão vendedora. A expectativa de denúncia contra o Cunha contribuiu — afirmou Alexandre Wolwacz, diretor da Escola de Investimentos Leandro&Stormer.
Fatores pontuais contribuíram para piorar o desempenho em setores de forte peso na composição do Ibovespa, como o bancário. As instituições financeiras foram penalizadas nos negócios desta quarta-feira com a possibilidade da volta da discussão da tributação de juros sobre o capital próprio (JCP) e também da utilização dos bancos públicos como ferramenta de estímulo ao crescimento. Julio Hegedus Netto, economista-chefe da Lopes & Filho Consultoria, afirmou que a atuação do Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, foi interpretada como uma medida anticíclica, o que iria contra o discurso de ajuste fiscal do governo.
— Os bancos concederem crédito para empresa que não fizer demissão é uma medida anticíclica. Isso vai contra o ajuste que está sendo feito, embora o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirme que não terá impacto fiscal — explicou.
Os papéis preferenciais (PNs, sem direito a voto) do Itaú Unibanco recuaram 2,04% e os do Bradesco tiveram queda de 2,72%. No caso do Banco do Brasil, a desvalorização foi de 6,16%.
— Ontem os bancos só subiram quando o projeto da JCP foi retirado. Mas mais tarde, começou o rumor sobre a possibilidade da retomada desse projeto de tributação. Mas de qualquer forma, a Bolsa caiu de forma generalizada com as notícias negativas, como o IBC-Br mostrando recessão no segundo trimestre — disse Ari Santos, gerente de renda variável da corretora H.Commcor.
Das 66 ações que fazem parte do índice, 52 fecharam em queda nesta quarta-feira.
PETRÓLEO TEM FORTE QUEDA
No caso das ações da Petrobras, a queda foi de 2,33% nas PNs, cotadas a R$ 8,79, e de 2,49% nas ordinárias (ONs, com direito a voto), a R$ 9,77. A derrocada do preço do petróleo no mercado internacional contribuiu para essa queda. O barril do tipo WTI caía 4,90%, a US$ 40,53, influenciado para divulgação do aumento dos estoques nos Estados Unidos. Já os papéis da Vale recuaram 2,67% (PNs) e 3,32% (ONs).
Pesaram ainda sobre os negócios deste pregão a aprovação, na terça-feira, do projeto de lei que eleva a correção das contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que passará a ter uma rentabilidade igual à da poupança. A avaliação de investidores é que essa aprovação mostra a dificuldade do governo em lidar com o Congresso e que terá algum tipo de impacto fiscal.
As Bolsas americanas também operam em queda, mas em ritmo menos acentuado. O índice Dow Jones caiu 0,93% e o S&P 500 recuou 0,83% - antes, a queda estava próxima a 1%. Já na Europa, o pregão foi de queda - as Bolsas do continente europeu já estavam fechadas quando saiu o documento. O DAX, de Frankfurt, teve desvalorização de 2,14%. O CAC 40, da Bolsa de Paris, caiu 1,75% e o FTSE 100, de Londres, teve variação negativa de 1,88%.

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