quinta-feira, 9 de outubro de 2014

CORRUPÇÃO: Alberto Youssef diz que corrupção na Petrobras atingiu alto escalão

FOLHA.COM
FLÁVIO FERREIRA
MÁRIO CESAR CARVALHO, DE SÃO PAULO
SAMANTHA LIMA, DO RIO

O doleiro Alberto Youssef afirmou à Justiça Federal que o esquema de corrupção na Petrobras tinha agentes públicos "mais elevados" que o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa.
Acusado de ser o operador de esquema que fraudou contratos da Petrobras, Youssef fez acordo de delação premiada e prestou depoimento na tarde desta quarta-feira (8).
Deflagrada em março pela Polícia Federal, a Operação Lava Jato descobriu um esquema de desvio de dinheiro da Petrobras que envolveu Costa, doleiros e fornecedores da estatal. Segundo a PF, uma "organização criminosa" atuava dentro da empresa. O esquema teria movimentado R$ 10 bilhões.
"Não sou o mentor nem o chefe desse esquema. Sou apenas uma engrenagem desse assunto que ocorria na Petrobras. Tinha gente muito mais elevada acima disso, inclusive acima de Paulo Roberto Costa, no caso agentes públicos", afirmou Youssef.
O doleiro também revelou que o esquema na Petrobras envolveu as empresas Camargo Corrêa, OAS, Queiroz Galvão, Odebrecht, Engesa, UTC e Jaraguá Equipamentos. Youssef disse ainda que Costa dividia os valores relativos aos contratos para repassar ao PT e ao PMDB.
"Na verdade Paulo Roberto fatiava um pouco essa questão de recebimentos de obras, porque ele também tinha que atender ao PMDB e às vezes alguém do PT", disse o doleiro.
Ainda na quarta, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa disse em depoimento à Justiça que desvios de obras da Petrobras irrigaram as campanhas de três partidos nas eleições de 2010, de acordo com o advogado Antonio Augusto Figueiredo Basto, que defende o doleiro e acompanhou a audiência nesta quarta, em Curitiba.
Segundo a Folha apurou, o executivo se referia ao PT, ao PMDB e ao PP. O dinheiro do suborno, de acordo com o ex-diretor da estatal, correspondia a 3% dos valores líquidos dos contratos. Esse percentual era dividido entre o próprio Costa e partidos políticos, segundo advogados que acompanharam o interrogatório.
Youssef disse que representou o PP na realização dos acertos financeiros relativos à Petrobras depois que o deputado federal José Janene ficou doente. "Eu passei a representar o partido", afirmou.
O doleiro Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa disseram que o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, intermediava os recursos desviados de obras da estatal para o partido. Vaccari negou sucessivas vezes que tivesse tratado de arrecadação de recursos com o doleiro. Ele confirmou, porém, que esteve no escritório de Youssef, em São Paulo, mas não chegou encontrá-lo.
No depoimento de Paulo Roberto, o juiz questionou quem eram os distribuidores da propina em "outras agremiações políticas", além do PP. O ex-diretor da estatal disse que "dentro do PT a ligação que o diretor do PT tinha, de Serviços, era o tesoureiro na época do PT, o senhor João Vaccari Neto. A ligação era diretamente com ele."
O diretor de serviços, na época, era Renato Duque, que deixou a empresa em 2012 depois de oito anos comandando a área.
Já na declaração de Youssef à Justiça, o doleiro afirmou que "tinha uma outra pessoa que operava a área de serviços, que se eu não me engano era o Sr. João Vaccari". Youssef disse ainda que as empresas que faziam contratos com as áreas de abastecimento e de serviços da Petrobras tinham que pagar propina de 1% sobre dos valor do contratos.
O juiz Sergio Moro, responsável pelo processo do caso, indagou se o valor de 1% dos contratos da área de serviços passava por Paulo Roberto Costa e o Youssef respondeu: "Não, isso era para outro partido".
O doleiro citou ainda que o lobista Fernando Soares fazia essa intermediação para o PMDB e que ele próprio cuidava dos recursos que ia para o PT. "Tinha Fernando Soares que operava com Paulo Roberto Costa para o PMDB."
Costa saiu da prisão no última quarta-feira (1º), como parte do acordo em que decidiu que contaria o que sabe sobre corrupção na Petrobras em troca de uma pena menor —a perspectiva de seus advogados era que ele fosse condenado a 50 anos de prisão.
O executivo foi preso em 20 de março pela PF. O ex-diretor também citou, em outro depoimento, segundo a revista "Veja", os nomes de 12 parlamentares que recebiam propina do esquema, entre os quais o do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Todos negam com veemência que tivessem recebido recursos.

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