terça-feira, 3 de setembro de 2013

COMENTÁRIO: Surpresas e erros

Por José Paulo Kupfer - O Estado de S.Paulo

É possível que as estimativas para a variação do PIB em 2013, já com ajustes para cima como registrado no boletim Focus desta semana, ainda avancem alguns degraus nas próximas semanas, apenas em razão do resultado do segundo trimestre acima das expectativas. Depois dos surpreendentes números do segundo trimestre, divulgados pelo IBGE na semana passada, aumentaram as chances de que o crescimento da economia acabe alcançando alguma marca no entorno de 2,5% - em lugar dos 2% ou um pouco menos antes previstos.
Quando a realidade surpreende especialistas, que podem lançar mão de sofisticadas ferramentas de previsão, devia ser hora de refletir sobre a qualidade desse trabalho e, mais do que isso, sobre seus impactos nas decisões dos agentes econômicos. Erros - o nome mais adequado para "surpresas" nesse campo - não são sem consequências.
Pessimismos e otimismos - sentimentos que, na economia, são acionados pelas trajetórias das projeções dos indicadores - operam, em última análise, como variáveis econômicas. Eles afetam expectativas e graus de confiança e estes direcionam decisões de investir, consumir, poupar, etc., etc. Os processos econômicos estão repletos de episódios marcados por "profecias autorrealizáveis", em que acaba acontecendo o que se deseja ou se considere que acontecerá. Em surtos inflacionários, por exemplo, preços tendem a aumentar mais e mais rápido com base na percepção de que aumentarão.
Não se pode transitar pelo movediço ambiente das expectativas sem reconhecer que os muitos impasses e vulnerabilidades com os quais a economia brasileira se debate no momento compõem um retrato em tons preocupantes da realidade. Mas o problema não é de que lado se deve estar na balança das percepções. Se o pessimismo recente produziu a "surpresa" positiva do PIB do segundo trimestre, um certo otimismo estava presente na "surpresa" negativa do PIB do trimestre anterior, quando a economia cresceu 0,6%, mas a mediana das projeções apontava para uma variação de 0,9% - com não poucas projeções de alta de 1,5%.
Parece claro que, de modo geral e com raras exceções, os muitos departamentos de pesquisas econômicas de bancos, as inúmeras consultorias independentes e os diversos grupos de conjuntura de escolas de economia estão devendo revisões e ajustes em seus modelos de previsão. Desse esforço, igualmente, deveria se ocupar o governo, incluído o Banco Central.
Prestigiosos centros de análise de conjuntura, às vésperas do anúncio da variação do PIB no segundo trimestre, divulgavam projeções de crescimento inferior à metade do 1,5% encontrado pelo IBGE. Mas mesmo na equipe econômica do governo, a distância da projeção à realidade não era muito menor. Esperava-se, em Brasília, que a expansão ficasse entre 0,7% e 1,1%, enquanto o IBC-Br, do Banco Central, projetava alta de 0,9%, em sintonia com a mediana das previsões de mercado, coletadas pelo serviço AE Projeções, do Broadcast.
O pessimismo que prevaleceu depois da "surpresa" negativa do primeiro trimestre ainda não parece ter sido abalado pela "surpresa" positiva do trimestre posterior. Suas sombras, por enquanto, escurecem as estimativas para o terceiro quarto do ano. Elas estão variando de uma pequena retração a uma modesta expansão. É para acreditar?
Acelerar revisões seria uma providência saudável até porque os riscos de desencontros entre estimativas e realidade aumentaram - e não somente em razão das divergências já conhecidas. A partir do terceiro trimestre, o IBGE vai incorporar os resultados da nova Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) ao cálculo das variações do PIB. É justamente no setor de serviços que a inexistência de um número suficiente de informações antecedentes dificulta a obtenção de projeções mais precisas, ajudando a distanciar o conjunto das previsões da realidade constatada.

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