terça-feira, 11 de setembro de 2012

COMENTÁRIO: O extraordinário Valério


Por SAMUEL CELESTINO - A TARDE

O mensalão é, por si só, um desses acontecimentos criminosos que movimentou centenas de milhões de reais a partir de uma quadrilha que agia à sombra do Palácio do Planalto e, muito provavelmente, com o conhecimento da cúpula do governo como pouco a pouco fica comprovado. É extraordinário como um publicitário mineiro, Marcos Valério, até então desconhecido, assessorado por sócios, estabeleceu-se na República para praticar, com bancos e políticos, lobbies inimagináveis urdidos no eixo entre Belo Horizonte e Brasília. Já tinha prática. Trabalhou de igual maneira para o ex-governador Azeredo, do PSDB. Suas práticas não vieram à luz e, então, ofereceu os seus serviços também ao PT.
Com Lula na presidência e José Dirceu na Casa Civil, Valério estava à vontade para agir com as suas melhores técnicas e começou a arregimentar parlamentares, inclusive o presidente da Câmara, e se infiltrou na alta direção de bancos que “financiavam” centenas de milhões que seriam lavados. A cúpula do PT assumiu a posição que lhe cabia com seus principais nomes: o presidente do partido, José Genoíno, o tesoureiro, Delúbio Soares (que nunca considerou o que praticava crime punível e, sim, uma futura piada) e mais Silvinho Land Rover, que fez um acordo com a justiça e está fora do processo que escandaliza o Brasil.
O escândalo vem de longe, de 2005, mas fica a cada dia mais robusto quando emergem fatos até então desconhecidos pelo grande público. Estavam arquivados em órgãos de investigação e segurança, como a CGU, a Procuradoria Geral da República e a Policia Federal. A extraordinária ousadia de Marcos Valério e a sua convicção de que não haveria punição por atuar sob o guarda-chuva do poder da República chegou a tal ponto que, para ele, não havia porta que não se abrisse, escorado pelos políticos integrantes da máquina do governo. Assim foi que agora se toma conhecimento de que Marcos Valério tinha passagem livre no Banco Central, praticando o que mais sabe, lobby, nos gabinetes para ajudar o Banco Rural. Era o troco pelos favores concedidos pelo último banco.
O jornal “Estadão” conseguiu documentação, liberada pela CGU, comandada pelo baiano Jorge Hage. A CGU identificou as irregularidades praticadas pelo publicitário dentro do governo, e no Banco Central que era usado como contrapartida à conivência do Banco Rural. Os réus dessa grande quadrilha estão sendo sistematicamente condenados (e outras condenações virão) pelo Supremo Tribunal Federal. Não chega a ser por unanimidade, mas é quase.
Uma situação dessa ordem era negada com desenvoltura pelo ex-presidente Lula, que certamente conhecia o que ocorria no seu primeiro governo, que de tudo fez para que o mensalão não fosse considerado como crime, e sim como uma invencionice da oposição. Depois, ao tomar ciência de que não haveria mais como negar, passou a tentar prorrogar para o próximo ano o julgamento, de sorte que o que agora se verifica não tivesse reflexo na campanha político-eleitoral. Também não conseguiu. O que se projeta é uma possível derrota do governo nas principais capitais do País.
Esse fato demonstra um princípio presente em quem assume o poder. Enquanto se está à frente do governo as reverências são totais e o governante distribui cartas como melhor lhe aprouver. Ao deixar o posto, mesmo que com o prestígio de Lula, que fez de Dilma presidente, a mudança não demorou para acontecer o óbvio: o seu poder desmoronar. Esse é um dos grandes princípios do estado democrático de direito, a alternância no poder. Talvez esteja aí a grande diferença da democracia para os estados totalitários. Dessa forma, o PT está a pagar um preço salgado pelo mensalão que bancou e tentou esconder. Por ora, a repercussão alcança em cheio a classe média e setores mais politizados. Mas, como sempre, a tendência (que pode não acontecer) são as consequências se espraiarem para segmentos com menor índice de informação, sobretudo se o julgamento for concluído antes das eleições, como se espera.E a situação piorar para o PT.

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