Letícia Lins / Fabiana Ribeiro
Mais de 30 cidades brasileiras têm taxas de desocupação acima de 20%
Araçoiaba (PE) e RIO - No mesmo país que reúne 1.133 cidades em condições de
pleno emprego, há outras 32 com taxas de desocupação acima de 20%, apontam os
dados do Censo 2010. É fato que elas são uma minoria, representando menos de 1%
dos 5.565 municípios brasileiros. Mas, sem dúvida, são um retrato das
desigualdades regionais que, mais uma vez, persistem, a despeito do crescimento
econômico dos últimos anos. Enquanto mais da metade dessas cidades está no
Nordeste, o Sul não tem sequer um município com taxa de desemprego tão elevada.
Campo Alegre do Fidalgo, no interior do Piauí, ostenta a pior taxa de
desemprego do país, de 41,82%, de acordo com o último Censo. Na pequena cidade,
moram cerca de 4.600 pessoas, boa parte vivendo na zona rural. A lista dos
municípios com elevada desocupação passa ainda por outros estados do Nordeste e
Norte do país. Pernambuco contribui com três nomes, sendo que o pior cenário
aparece em Araçoiaba, a 60 quilômetros de Recife. Lá, a desocupação atinge taxa
de 23%.
Em Araçoiaba, oferta de trabalho é coisa rara na cidade, onde só há um grande
empregador: a prefeitura. O município, que é dono do pior Índice de
Desenvolvimento Humano da Região Metropolitana, não tem uma só indústria. Seus
21 mil habitantes vivem do pequeno comércio (cerca de 60 lojas) e da agricultura
de subsistência.
Para o secretário de Infraestrutura e Habitação de Araçoiaba, José Rinaldo
Silva Rufino, os números do desemprego levantados pelo IBGE podem estar
defasados, por causa da nova realidade econômica vivida em Pernambuco, onde
estão sendo implantados polos de desenvolvimento na Região Sul (como o complexo
industrial de Suape) e Região Norte do estado (que vem sendo preparada para
sediar a sua primeira indústria automobilística, a Fiat). Ele afirma que o
dinamismo da economia pernambucana começa a mudar o marasmo em que Araçoiaba
vivia antes mergulhada.
— Temos três usinas próximas que empregam mais durante os períodos de
colheita, mas há trabalho na entressafra, quando precisam de lavradores para o
trato cultural nos plantios de cana. Muitas pessoas da cidade estão trabalhando
na construção do presídio de Itaquitinga (cidade vizinha). E há muita gente
empregada na construção da Hemobrás (na cidade de Goiana) e de indústrias que
vêm se instalando no porto de Suape (no litoral sul pernambucano). São
soldadores, montadores, pedreiros e serventes.
Diariamente, quatro ônibus deixam a cidade para conduzir esse pessoal aos
seus postos de trabalho, afirma ele. Alguns dos que têm empregos, como os filhos
de Maria de Lourdes Gomes, só vêm a Araçoiaba nos fins de semana:
— Eles procuraram muito emprego por aqui. Não acharam nada, foram tentar lá
em Suape. Como a passagem de ônibus é cara, ficam por lá mesmo — afirma a
pensionista, referindo-se a Severino Augusto e José Augusto.
Ex-morador de favela, Gerson de Freitas, de 35 anos, mora há dois anos em uma
casa de alvenaria, cedida pelo poder público e construída em um terreno doado
por uma usina. Ele tem cinco filhos e a mulher está doente. Analfabeto, nunca
teve carteira assinada e até já desistiu de procurar emprego:
— Tem dia que trabalho como moto-táxi com uma moto emprestada por um amigo.
Em outros, preparo lambedor (xarope para tosse) para vender em casa. Mas, para
fazer o lambedor, fico feito o menino da abelha, tenho que ir para a mata
procurar mel — disse Freitas, acrescentando que a carteira profissional nunca
teve serventia. — É tão velha que até a foto já se apagou. Mas não tem nada de
emprego escrito.
Prefeitura, maior empregador
Além das 60 lojas que existem na cidade (mercadinhos, farmácias, armarinhos),
das lavouras de subsistência e do corte de cana durante os quatro meses de
moagem, os moradores de Araçoiaba contam apenas com os 737 empregos da
prefeitura, dos quais 419 são efetivos. Os demais — comissionados ou temporários
— são recrutados na cidade, cuja receita mensal (incluindo os repasses) chega a
R$ 2,95 milhões.
Taxas de desemprego muito elevadas, acima de 20%, são a realidade de inúmeras
cidades da Europa, em especial na Grécia e na Espanha. Entretanto, os cenários
são bem distintos. Enquanto as cidades brasileiras sem emprego são marcadas por
boa parte da população sem sequer o nível médio, o contingente de desempregados
na zona do euro tem alto nível de qualificação.
Especialistas lembram, contudo, que o país ainda colhe no mercado de trabalho
as benesses do crescimento econômico dos anos recentes.
— O mercado de trabalho é um ponto de orgulho da economia brasileira. A
fotografia, ainda que tenha sido tirada em 2010, permanece boa. Foi o emprego
que segurou os efeitos da crise internacional e, agora, passado o vale, quando
não houve demissões, mas menos contratações, é de esperar que o país consiga
sustentar esse indicador — afirmou Maria Andreia Parente, economista do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Veja também
- Ranking dos estados no índice do pleno emprego
- Indústria de automóvel com sotaque caipira em São Paulo
- Desocupação assola também cidades americanas
- Califórnia tem taxa de desemprego superior à dos Estados Unidos
- Sumidouro, a única cidade do Rio quase sem desemprego
- Pleno emprego também é divisor de águas do Brasil
Comentários:
Postar um comentário