De OGLOBO.COM.BR
com agências internacionais
Contra destituição, camponeses fecham estradas em
várias regiões do país
ASSUNÇÃO - A mobilização dos paraguaios a favor do presidente destituído
Fernando Lugo ganha força no país. Além da manifestação em frente à TV pública,
iniciada na noite de sexta-feira, estradas também estão sendo ocupadas por
partidários do ex-bispo. Lugo anunciou nesta terça-feira que não irá mais à
cúpula do Mercosul na Argentina, para “não influenciar” os chefes de Estado do
bloco.
Em frente à TV pública, único veículo de comunicação que permite a expressão
dos paraguaios pró-Lugo, sempre há um grupo de prontidão. À noite, mais
manifestantes se juntam e formam grupos de até cinco mil pessoas. Além das
organizações estudantis que iniciaram o protesto, a cada dia chegam mais
camponeses para engrossar o coro da chamada Frente Nacional para a Defesa da
Democracia. Dentro da emissora, o clima também é de tensão: os funcionários
pedem a volta do ex-diretor Marcelo Martinessi, demitido pelo novo presidente,
Federico Franco. Eles afirmam que a nova direção quer modificar a programação do
canal.
Um site, Paraguay resiste, informa as manifestações
programadas. Para esta quarta-feira, estão previstos protestos em pelo menos
três departamentos.
- A resistência pacífica cresce a cada dia. Uniram-se à Frente pela Defesa da
Democracia 15 das 16 organizações camponesas do país. Faremos bloqueios de
estradas, manifestações em praças públicas... E muito particularmente em frente
à TV pública, onde já houve várias tentativas de censura. A resistência será
permanente até que se restabeleça o Estado de direito - afirma Ricardo Canese,
secretário-geral da Frente Guazú, coalizão de esquerda responsável pela
candidatura de Lugo à Presidência.
A Associação Nacional de Carperos - organização de camponeses envolvida no
episódio que matou 17 pessoas em Curuguaty, considerado o estopim para a
destituição de Lugo - já bloqueia várias estradas. Seu líder, José Rodríguez,
diz que o movimento vai crescer e acusa o novo presidente, Federico Franco, de
ter um único objetivo, “a obsessão doentia” por se manter no poder.
- Não lhe importa que haja violência nem as repressões massivas que possam
acontecer - afirma Rodríguez, que reclama também que a grande imprensa não
divulga as manifestações no interior do Paraguai.
Contudo, o líder dos camponeses não acredita que a classe tenha sido
especialmente bem tratada pelo governo Lugo. E acredita ser esta a razão pela
qual, no dia da destituição, milhares de camponeses tenham optado por ficar em
casa ao invés de viajar até a capital para protestar.
Na terça-feira, houve protestos nos departamentos de Concepción, San Pedro,
Caaguazú, Guairá, Caazapá, Misiones, Alto Paraná, Itapúa e Ñeembucú. No distrito
de San Juan Nepomuceno, cerca de 1.500 pessoas fecharam uma estrada de acesso ao
local em protesto contra “o golpe de Estado contra o presidente Lugo”.
Os partidários de Federico Franco estão reagindo ao movimento: já começaram a
se concentrar na praça do Congresso e convocaram para esta quarta-feira uma
manifestação de apoio ao novo presidente, que diz querer evitar uma guerra
civil.
Fernando Lugo quer percorrer o Paraguai, como na última campanha eleitoral,
para “informar aos cidadãos o que aconteceu de fato”. E ele quer atuar também na
frente decisiva: apesar da desistência de ir ao encontro dos chefes de Estado
dos países vizinhos, Lugo garantiu que continuará em contato com eles.
A Organização dos Estados Americanos vai enviar uma missão especial ao
Paraguai e a vizinhos para avaliar a crise política. A ideia teve o apoio de
quase todas as delegações, exceto Venezuela, Nicarágua, Bolívia e Equador, que
queriam uma Assembleia Geral extraordinária imediatamente.
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