segunda-feira, 7 de agosto de 2017

VIOLÊNCIA: Bandido que fez caminhoneiro refém na Avenida Brasil só se entregou com chegada da mãe

OGLOBO.COM.BR
POR GABRIEL OLIVEIRA / MARCELLE CARVALHO

Caso revela medo e indignação de motoristas de caminhões

Homem que sequestrou caminhoneiro na Avenida Brasil é levado por homens do Bope à Cidade da Polícia Civil - Pedro Teixeira / Agência O Globo


RIO - Emerson Garcia de Miranda, de 19 anos, o bandido que manteve como refém um motorista de caminhão que transportava produtos de uma empresa de alimentos congelados, na Avenida Brasil, altura da Vila Militar, em Deodoro, só se entregou após a chegada da mãe, Fabiana Garcia dos Santos. A vítima, Antônio Euclides Ribeiro, de 36 anos, foi liberada após quase três horas de tensão, já na madrugada desta segunda-feira, depois de uma longa negociação com os policiais.
A mãe do suspeito estava em casa quando foi informada pela polícia de que ele só se renderia com a presença dela. Fabiana chegou ao local do crime às pressas e pediu para que o filho baixasse a arma que apontava para a cabeça do motorista. Com a chegada da mãe, ele - que não portava nenhum documento - aceitou finalmente se entregar. O sequestrador, que havia sido baleado na perna, foi levado para o Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, antes de ir para a Delegacia de Roubos e Furtos de Carga (DRFC), na Cidade da Polícia, no Jacarezinho, na Zona Norte.
A mãe de Emerson acompanhou a chegada do filho à unidade hospital, mas foi embora pouco após o criminoso dar entrada no local. O sequestrador deixou o hospital, por volta de 1h40m, junto com policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope).
Já o caminhoneiro, que trabalha para a transportadora mineira Coopertral, acabou atingido por estilhaço de bala na coxa esquerda e estilhaços de vidro no braço. Após ser libertado, ele também foi encaminhado para o hospital.
O motorista foi rendido pelos bandidos na altura do bairro da Penha. Um taxista informou aos PMs da região sobre a tentativa de roubo ao caminhão da PIf Paf
De acordo com a assessoria da Polícia Militar, o caminhão de alimentos congelados foi roubado na BR-040 (Rodovia Washington Luiz), na altura da Penha. Um taxista que viu a abordagem dos bandidos informou aos PMs da região, que iniciaram uma perseguição. Com isso, os criminosos entraram na Avenida Brasil. Houve troca de tiros, e vários pneus do caminhão foram perfurados na Avenida Brasil, já na altura de Deodoro, onde Emerson sequestrou o caminhoneiro e o manteve como refém. Os outros bandidos conseguiram fugir.
Por questões de segurança, a Avenida Brasil ficou interditada nos dois sentidos, das 21h48m à 1h, na altura de Deodoro. A via foi liberada após ação da PM no local.
O crime aconteceu um dia depois da Operação Onerat, que reuniu cerca de 5 mil homens das Forças Armadas e das polícias do Estado do Rio. As equipes atuaram em seis favelas da Zona Norte do Rio, com o objetivo principal de reprimir quadrilhas que realizam roubos de cargas.
MOTORISTA RELATA HORAS DE TENSÃO
Morador de Visconde de Rio Branco, em Minas Gerais, e pai de dois filhos, o caminhoneiro Antônio Euclides Ribeiro não está acostumado a dirigir no Rio de Janeiro. Motorista cooperado da transportadora Coopertral, ele calcula que tenha vindo ao estado pela terceira vez na vida, e não esconde o medo que sente todas as vezes que é escalado para algum trabalho na capital fluminense.
Há 10 anos, o caminhoneiro rodava apenas dentro do próprio estado, mas desde que se tornou cooperado e passou a dirigir carretas - caminhões de grande porte e mais modernos - a rotina de trabalho mudou. Ao mesmo que passou a ganhar melhor pelo transporte de maiores distâncias e com cargas mais valiosas, o temor pela própria segurança cresceu. Na noite deste domingo, durante o sequestro na Avenida Brasil, ele só pensava na família em Minas e em manter a calma, apesar do medo
— Ele, o bandido, estava mais nervoso do que eu. Quando ele apontou a arma para a minha cabeça, só tentei não ter nenhuma reação, pois estava com muito dele se descontrolar e acabar atirando. Mantive a fé em Deus e pensei muito na minha família, nos meus dois filhos. Essa profissão é cada vez mais perigosa. Se eu tivesse minha própria carreta, nunca viria para cá. De todos os estados que já fui, aqui com certeza é o mais perigoso — conta.
Sentado em um dos bancos da Central de Garantias da Cidade da Polícia, o caminhoneiro demonstrava tranquilidade ao falar sobre os detalhes do sequestro. Embora tenha sido atacado por um grupo de assaltantes, Antonio só conseguiu ver de Emerson, que entrou no caminhão e o manteve como refém por quase três horas. Após o desfecho do sequestro e o atendimento no Hospital municipal Albert Schweitzer, o caminhoneiro entrou em contato com os irmãos para falar sobre o sequestro.
— Já falei com o meu irmão e com a minha irmã. A minha mãe ficaria muito nervosa se soubesse. Ela não se liga muito em TV, e talvez acabe nem percebendo que o caminhão que apareceu no sequestro era o que eu dirijo. Só tenho a agradecer a Deus por ter acabado tudo bem - relata.
O caminhoneiro tem consciência de que, apesar dos riscos da profissão, recusar trabalho pode trazer prejuízos financeiros que têm consequência direta no sustento da família. Por isso, mesmo com medo, ele encara o perigo diário de conduzir cargas que atraem o interesse das quadrilhas que atacam nas estradas brasileiras, e principalmente, fluminenses
— Eu sou cooperado, e não posso ficar recusando viagem, pois aí colocam outro no meu lugar e eu perco dinheiro. Sei que é muito perigoso, principalmente aqui (no Rio), mas é o que eu sei fazer, e é de onde tiro o sustento da minha família
REPRESENTANTE DE COOPERATIVA FALA DE ROTINA DE ROUBOS
Representante no estado do Rio da transportadora Montenegro, que, a exemplo da Coopertral, tem sede em Minas Gerais e presta serviços à Pif Paf, Leandro Batista fala com choque e indignação da tentativa de sequestro. Ele, que acompanhou os momentos finais da tentativa do sequestro e estima que a carga que Antônio Euclides Ribeiro levava poderia valer até R$ 250 mil, conta que caminhoneiros têm cada vez mais medo de vir ao Rio. Apesar de o roubo de cargas ser uma realidade em vários estados, ele lamenta a enorme reincidência dos casos em território fluminense.
— Já houve meses que só a nossa cooperativa sofreu 16 roubos em apenas um mês. Em um único dia, num intervalo de menos de 12 horas, perdemos quatro cargas. Está cada vez mais difícil de trabalhar no Rio, e já existem donos de carretas que recusam viagens para cá por causa do medo de assaltos. Ninguém mais quer trabalhar aqui — critica.

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