terça-feira, 15 de março de 2016

MENSALÃO: Delcídio diz que Aécio maquiou dados do mensalão e recebeu propina de Furnas

OGLOBO.COM.BR
POR ANDRÉ DE SOUZA, VINICIUS SASSINE E EDUARDO BRESCIANI

Em delação, senador petista diz que tucano estava preocupado com quebra de sigilos do Banco Rural

Senador Aécio Neves (PSDB-MG) durante discurso no Plenário - Ailton de Freitas / Agência O Globo

BRASÍLIA - O senador Delcídio Amaral (PT-MS) acusou o presidente do PSDB, o senador Aécio Neves (MG), de receber pagamentos ilícitos de Furnas e de ter atuado para maquiar dados do Banco Rural obtidos pela CPI dos Correios. Isso porque a quebra dos sigilos da instituição financeira, envolvida no escândalo do mensalão, comprometeria vários políticos tucanos, entre eles o próprio Aécio. Delcídio diz, inclusive, que a operação teve participação do atual prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), na época deputado pelo PSDB e integrante da CPI, que funcionou de 2005 a 2006 e era presidida por Delcídio. As informações fazem parte do acordo de delação premiada homologado pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Em depoimento prestado em 14 de fevereiro, quando ainda estava preso, Delcídio relatou que, durante a CPI dos Correios, houve incômodo por parte do PSDB em relação à quebra dos sigilos do Banco Rural. "Aécio Neves enviou emissários para que o prazo de entrega das quebras de sigilo fossem delongados, com a justificativa 'entre aspas' de que não haveria tempo hábil para preparar essas respostas; que, um desses emissários foi o então secretário-geral do PSDB Eduardo Paes", diz trecho do termo de colaboração de Aécio. Delcídio disse ter sido convencido, achando que o pedido era razoável, mas depois percebeu que fora enganado. "Foi com surpresa que o declarante percebeu, a receber as respostas, que o tempo fora utilizado para maquiar os dados que recebera do Banco Rural", diz parte do termo.
Em outro trecho, o termo de colaboração anota que Delcídio "ficou sabendo que os dados eram maquiados porque isso lhe fora relatado por Eduardo Paes e o próprio Aécio Neves" e que "os dados atingiriam em cheio as pessoas de Aécio Neves e Clésio Andrade, governador e vice-governador de Minas Gerais". Delcídio relata que se encontrou com o próprio Aécio no Palácio do governo de Minas Gerais, em Belo Horizonte, ocasião em que trataram do tema. Após a reunião, o senador diz que Aécio cedeu o avião do governo mineiro para que ele fosse ao Rio de Janeiro. Na cidade, Delcídio disse ter ouvido do deputado José Janene (PP-PR), que viria a falecer em 2010, que Aécio era "beneficiário de uma fundação sediada em um paraíso fiscal, da qual ele seria dono ou controlador de fato". Tal fundação seria sediada em Liechtenstein, na Europa, e poderia estar no nome de Aécio ou da mãe dele.
O mensalão - um esquema de desvio de dinheiro público e compra de apoio parlamentar durante o primeiro mandato do governo Lula - teve sua origem na gestão do tucano Eduardo Azeredo como governador de Minas Gerais (1995-1998). Por isso, diz Delcídio, os dados do Banco Rural comprometeriam Aécio. Apesar de ter descoberto a fraude, Delcídio não fez nada e, segundo suas próprias palavras, "segurou a bronca". O parlamentar afirmou ainda que outros parlamentares, como o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), sabiam da maquiagem dos dados. Delcídio disse não saber se os donos do Rural tinham participado da maquiagem, mas declarou que eles sabiam que isso tinha ocorrido.
Em outro depoimento, prestado em 12 de fevereiro, Delcídio afirmou que Aécio recebeu "sem dúvida" pagamentos ilícitos de Furnas, empresa estatal do setor elétrico que faz parte do sistema Eletrobrás. Segundo ele, Aécio possui vínculo “muito forte” com Dimas Toledo, ex-diretor de Engenharia de Furnas.
"Questionado ao depoente quem teria recebido valores de Furnas, o depoente disse que não sabe precisar, mas sabe que Dimas operacionalizava pagamentos e um dos beneficiários dos valores ilícitos sem dúvida foi Aécio Neves, assim como também o PP, através de José Janene; que também o próprio PT recebeu valores, mas não sabe ao certo quem os recebia e de que forma", diz trecho o termo de colaboração de Delcído.
ESQUEMA DE FURNAS
O esquema em Furnas, segundo ele, "funcionava de maneira bastante 'azeitada' e de maneira bastante competente". Dimas Toledo foi diretor de engenharia de Furnas, cargo que, segundo Delcídio, era "joia da coroa" da Eletrobras, uma vez que era usada sistematicamente para repassar valores a partidos, como PSDB, PP e PT. Segundo o termo de colaboração do senador, "não há dúvidas que Furnas foi usada sistematicamente para repassar valores para partidos" e que "o que se vê hoje na Petrobras ocorreu sem dúvida em Furnas em vários governos, e talvez a figura mais emblemática neste sentido seja o próprio Dimas, que passou muitos anos na diretoria, tendo grande longevidade".
Delcídio relata um diálogo que teve com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 6 de maio de 2005. Segundo o senador, Lula perguntou quem era Dimas Toledo. Delcídio respondeu que era um companheiro do setor elétrico bastante competente. Lula então disse: "Eu assumi e o Janene veio pedir pelo Dimas. Depois veio o Aécio e pediu por ele. Agora o PT, que era contra, está a favor. Pelo jeito ele está roubando muito!". De acordo com Delcídio, Lula disse isso porque seria necessário muito dinheiro para fazer pagamentos a três partidos importantes.
O senador também fez comentários sobre a lista de Furnas, divulgada na época da CPI dos Correios, que investigou o mensalão. A lista teria sido falsificada, uma vez que ele não acredita que o próprio Dimas a teria assinado. Mas afirmou que o conteúdo, embora pudesse ser exagerado, tinha informações verídicas. A lista trazia lista de repasses a vários políticos.
DILMA
Em sua delação, Delcídio compromete a presidente Dilma Rousseff. Mas em relação a Furnas, o senador diz que ela sanou a estatal. Segundo ele, Furnas tinha tantas irregularidades - "a coisa passou da conta", nas suas palavas - que Dilma teve fazer praticamente uma intervenção. A atual diretoria, diz Delcídio, é técnica e de confiança e Dilma.
"Questionado até quando durou o esquema de ilegalidades de Furnas, respondeu que até uns quatro anos atrás, quando Dilma mudou a diretoria, ou seja, até a penúltima diretoria", diz trecho do termo de colaboração do senador.
OUTRO LADO
Aécio Neves negou as acusações, tanto em Furnas quanto no mensalão.
- Nunca indiquei (Dimas Toledo). É um absurdo essas declarações sempre de ouvir falar. Essas denúncias sobre Furnas fazem parte de novo da velha e requentada tentativa de nos envolver. Essa denúncia, sempre a partir de terceiros, já foi arquivada pelo Ministério Público - afirmou Aécio.
- Jamais tive qualquer contato com o Delcídio , seja em relação a CPI ou outra questão que não fosse congressual ou republicana. Cabe a ele provar essas graves acusações que faz, e que tem o objetivo de desviar o foco central dessa grave crise. São declarações absurdas e irresponsáveis. Eu desconheço qualquer assunto do Banco Rural que pudesse ser de interesse do meu governo. Ele (Delcídio) vai ter que provar - acrescentou.
O prefeito Eduardo Paes, por meio de sua assessoria de imprensa, negou que tenha sido procurado por Aécio Neves à época da CPI dos Correios para pedir a postergação da quebra de sigilo bancário ou por qualquer representante do Banco Rural para tratar do assunto.
"Ele desconhece que tenha havido maquiagem em quaisquer dados, mesmo porque o trabalho de investigação fora acompanhado por técnicos do Tribunal de Contas da União e do Banco Central. De qualquer maneira, quem deve esclarecimentos sobre eventuais contas no Banco Rural é o Senador Aécio Neves. Paes reitera que tem muito orgulho de ter participado da CPI dos Correios com sub-relator e ter ajudado, com as investigações e fatos apurados, a denunciar esquema de desvio de dinheiro público", diz a nota.

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