quarta-feira, 16 de março de 2016

CASO PETROBRAS: Delcídio afirma que é 'profeta do caos' e Mercadante, 'amigo da onça'

FOLHA.COM
NATUZA NERY, DE EDITORA DO PAINEL

Ueslei Marcelino - 28.abr.15/Reuters 
O senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), que firmou acordo de delação premiada

Em "Batman, o Cavaleiro das Trevas", Coringa dialoga com um rival e diz: "Introduza um pouco de anarquia. Perturbe a ordem estabelecida e você cria o caos. Eu sou o agente do caos".
Nesta terça (15), após o teor de sua colaboração premiada atingir alguns dos principais gabinetes de Brasília, o senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) citou sua própria versão da célebre frase proferida pelo vilão da saga.
"Eu não sou vilão. Eu não sou bandido. Eu sou um profeta do caos", disse, expressando um certo orgulho.
Em entrevista à Folha, o senador ironizou Aloizio Mercadante (Educação), ex-colega de Legislativo que, segundo o senador, tentou evitar a delação oferecendo apoio financeiro e lobby junto ao STF (Supremo Tribunal Federal).
Refutou a ideia de que o ministro de Dilma Rousseff oferecera ajuda por amizade.
"Amigo? Ele é amigo da onça! Onde ele era meu amigo? Minha história toda no Senado é de briga com ele. Todo mundo sabe disso", rebateu.
Mercadante sustenta ter oferecido auxílio por "solidariedade", jamais para comprar o silêncio do senador.
Tal qual um "agente do caos", Delcídio diz que as ofertas de Mercadante expostas na gravação feita por um assessor fazem "cair por terra" a tese de que o governo não tentou interferir no curso da Operação Lava Jato.
Essa ideia, aliás, é central nos depoimentos feitos por ele à força-tarefa.
Além de Mercadante, o ex-líder do governo no Senado mira no também petista Edinho Silva, ministro da Secretaria de Comunicação Social e tesoureiro da campanha de Dilma nas eleições de 2014. "Esse aí não aguenta um empurrão", disparou.
Edinho classifica as declarações de Delcídio como "mentira escandalosa". Auxiliares do ministro reclamam do fato de o senador fazer ilações sem apresentar provas do que diz.
SAÍDA
Delcídio solicitou oficialmente a sua desfiliação do PT. Em uma mensagem curta e direta, pediu as providências para o desligamento.
"Sirvo-me do presente para informar minha decisão de desfiliação do Partido dos Trabalhadores", escreveu.
A saída já estava programada para acontecer no mesmo dia em que o Supremo homologasse a delação premiada que ele fez após ter sido preso, em novembro do ano passado, sob a acusação de ter tentado atrapalhar as investigações da Lava Jato.
Na prisão, Delcídio reclamava do abandono do PT e de falta de solidariedade por parte dos correligionários. Agora, deverá se concentrar na defesa contra a cassação do seu mandato.
Pelo acordo de delação, o senador terá que devolver aos cofres públicos R$ 1,5 milhão por seu envolvimento no esquema da Petrobras.
"O acordo de colaboração celebrado também teve por fim a recuperação do proveito das infrações penais praticadas pelo colaborador, no valor de R$ 1,5 milhão", disse o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, no pedido de homologação.
As informações de Janot foram reproduzidas pelo ministro do STF Teori Zavascki na decisão desta terça.
O valor da multa poderá ser dividido em dez anos. O senador teve que dar um imóvel como garantia.
Ainda pelos termos do acordo, Delcídio ficará dois anos e meio em prisão domiciliar e, depois, seis meses de prestação de serviço. Ficou definido que a pena máxima aplicada a ele será de 15 anos.
Para a Procuradoria, Delcídio forneceu provas sobre "crimes praticados pelas organizações criminosas no âmbito do Palácio do Planalto, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados, do Ministério de Minas e Energia e da companhia Petróleo Brasileiro S/A [Petrobras]".
Segundo Janot, Delcídio informou que houve envolvimento do ex-presidente Lula e do pecuarista José Carlos Bumlai na compra do silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.
Colaboraram AGUIRRE TALENTO, MÁRCIO FALCÃO e MARIANA HAUBERT, de Brasília

GRAVAÇÃO 

O que disse o ministro ao assessor de Delcídio

DELAÇÃO

  • Aloizio Mercadante - "O que é que tem que você acha que eu possa ajudar?"
  • Eduardo Marzagão - "Ministro...”
  • AM - "De verdade. Tô falando assim. Eu tô aqui. Ó, eu falei: Eu não quero nem saber o que o Delcídio fez.(...) Eu acho que ele devia esperar, não fazer nenhum movimento precipitado (...)"
(...)
  • AM - Eu acho que precisa esfriar o assunto dele. Vão vir outros. Vai vir Andrade Gutierrez, não sei quem, não sei quem, o Zelada, o caralho, vai vir merda pra caralho toda hora. Aí vai diminuindo. Precisa esfriar o caso dele. Segundo: ele tando lá, não tem inquérito no Senado. Não tem como cassar um senador preso
Otávio Azevedo 
Ex-presidente da empreiteira, que também fechou acordo de delação premiada
Jorge Zelada 
Ex-diretor da Petrobras, preso na Lava Jato

AJUDA FINANCEIRA

  • EM - [Estão vendendo coisas para] Arrecadar dinheiro. Os carros, a casa (...) 
  • AM - Patrimônio da família. (...)
  • EM - Patrimônio, as dívidas que ele tem. (...) 
  • AM - Bom, isso aí também a gente pode ver no que é que a gente pode ajudar, na coisa de advogado, essa coisa. Não sei. Pô, Marzagão, você tem que dizer no que é que eu possa ajudar. Eu só to aqui pra ajudar. Veja o que que eu posso ajudar

AJUDA JURÍDICA

  • AM - Eu conversei com vários senadores. Eu falei: vocês se acocoraram!
  • EM - Foi.
(...) 
  • AM - Aí veio a nota do PT. Que nota do PT? Onde que o Rui Falcão agora dirige o plenário do Senado? (...) 
  • EM - Abriu uma porteira.
  • AM - Vai abrir a porteira. Então, vocês precisam repensar o encaminhamento. Talvez o Senado fazer uma moção, à mesa do Senado, ao Teori, entendeu? Um pedido: olha, nós demos autorização considerando o flagrante, considerando as condições etc, mas não há necessidade pá, pá, pá - pá, pá, pá. E tentar construir com o Supremo uma saída.  (...) Eu posso tentar ajudar nisso aí no Senado. Vou tentar conversar com o Renan e ponderar a ele de construir uma, entendeu, uma moção… 
Rui Falcão
Presidente do PT, que divulgou nota dissociando partido de Delcídio após sua prisão, em novembro
Teori Zavascki
Ministro do STF e relator da Operação Lava Jato

AJUDA JURÍDICA

  • AM - Vou tentar um parecer jurídico que tente encontrar uma brecha pra que o Senado se pronuncie junto ao Supremo com o pedido de relaxamento da prisão (...). (...) Precisa conversar com o Lewandowski. Eu posso falar com ele pra ver se a gente encontra uma saída
Ricardo Lewandowski
Atual presidente do STF

OUTRAS POLÊMICAS DE MERCADANTE 

  • Aloprados: Às vésperas das eleições de 2006, integrantes da campanha de Mercadante ao governo de SP foram presos com R$ 1,7 milhão, que seria usado para comprar dossiê contra o adversário José Serra (PSDB) no caso que ficou conhecido como “escândalo dos aloprados"
  • 'Irrevogável': Em 2009, o petista ameaçou deixar a liderança do Partido dos Trabalhadores no Senado, dizendo em sua conta no Twitter que anunciaria sua renúncia "em caráter irrevogável"; no dia seguinte, entretanto, voltou atrás
  • Professores: Em 2012, Mercadante, no Ministério da Educação, envolveu-se em polêmica com o então governador do RS Tarso Genro (PT) ao aumentar o piso salarial dos professores: gaúcho o alfinetou publicamente, acusando-o de ter opinião "totalmente furada"
  • Enem: Reportagem do jornal "O Globo" revelou, em 2013, falhas na correção de redações do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), de 2012, em que texto 

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