terça-feira, 17 de março de 2015

COMENTÁRIO: O labirinto de Dilma

Por Samuel Celestino - BAHIA NOTÍCIAS
ATARDE.COM.BR
A presidente Dilma teria a obrigação de estar à frente da entrevista coletiva de domingo último, mas preferiu, por temor, transferir a missão a dois dos seus ministros. A eles coube a missão de explicar o que agora ela pretende fazer a partir da sublevação da população nas ruas de todos os estados da federação e de um número ainda incalculável de municípios Brasil afora. De certo modo, os ministros apenas repetiram as mesmas promessas que a presidente já fizera muito antes, nas manifestações de 2013. E não cumpriu nenhuma delas. Incluem-se entre tais um pacote de medidas de combate a corrupção, a velha e batida reforma política, além do impedimento de empresas privadas patrocinarem campanhas de candidatos e de partidos. Ela não compareceu diante das câmeras certamente para não ficar à frente de um pelotão de jornalistas. Ser-lhe-ia difícil anunciar as mesmas mentiras.
Uma chefa de estado que se esconde para não comparecer a público, evita a obrigação por temor ou vergonha de explicar-se à população do País em convulsão, de norte a sul. Se assim é, já não está em condições de governar. Não foi uma manifestação pequena. O Brasil assistiu durante todo o domingo à mobilização mais intensa desde as Diretas Já, o primeiro grito da República pelas eleições diretas no início dos anos 80. Dilma se escondeu no seu labirinto palaciano para não tremer e claudicar frente às câmeras, sabendo que as ruas estavam apinhadas de manifestantes. Além do mais, qual seria a nova mentira que teria a oferecer aos brasileiros?
Usou, então, dois ministros como escudos: o da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o secretário-geral da Presidência, Miguel Rossetto. Cumpriram a missão que lhes cabiam e nada disseram além do que o Palácio do Planalto já havia anunciado. Assim mesmo, enquanto se explicavam diversas capitais do País manifestavam-se com mais um panelaço de revolta, na verdade dirigido à presidente, tal como ocorrera no domingo anterior.
A situação da presidente Dilma Rousseff só se compara, num retrocesso político não tão recente, mas também não tão distante, ao que ocorreu com a rejeição nacional de Fernando Collor, agora envolvido (novamente) em corrupção, de acordo com a lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Com uma diferença: Collor caiu pelo impeachment, porque havia consistência constitucional para isso. Dilma, no entanto, está no governo, em segundo mandato, há dois meses e meio. Ela não cometeu nenhum pecado maior, a não ser empurrar o País para a sarjeta da economia neste pequeno período. Assim, fica protegida pela Constituição da República. Por ora. A corrupção que levou a maior estatal brasileira, a Petrobras, a uma situação insustentável, ocorreu no seu governo anterior e, até agora, ainda não surgiram indícios fortes que a incriminem.
Assim como no período Collor, a presidente já não tem sustentação congressual. O seu partido, o PT, está além de dividido mergulhado num processo de decadência e rejeição do qual dificilmente sairá, assim como aconteceu com o extinto PFL, hoje uma mistura de arrivistas batizado como DEM. O problema da presidente se complica porque ela, por ora, já não encontra sustentação no Congresso Nacional, onde a sua recente base de apoio, como o PT, PMDB e PP à frente, enfrenta uma erosão política até pouco tempo inimaginável. Sua interlocução é quase zero. Ela própria, Dilma Rousseff, uma governante de temperamento difícil e complicado por não saber o que é verdade e o que é mentira, ajudou a levantar o muro que hoje separa o Palácio do Planalto - o labirinto onde se isola - e o Congresso Nacional.
Seus interlocutores políticos são muito fracos, senão incompetentes. De tal sorte que ela e Lula, por ela responsável (agora arrependido) se estranharam na semana passada numa conversa que chegou aos gritos. De uma parte e de outra. O seu criador considera o ministério dela muito fraco, e de fato é. Aconselhou-a, há menos de três meses do início do seu segundo mandato, a realizar uma reforma para recompor as forças políticas que formavam a base de sustentação no Senado e na Câmara.
Talvez já seja uma situação difícil de remediar. À frente da Câmara está Eduardo Cunha e o Senado é comandado pelo maculado Renan Calheiros, ambos dela distanciados. Sem o Congresso Dilma não governa. Se não conseguir apoios das duas Casas, seu segundo mandato enfrentará problemas de tal ordem que, diante do futuro, o que ocorreu nas manifestações deste domingo último será um episódio menor. Para ela permanecer no governo, terá que reunir forças além do imaginável.
Ninguém em política corre atrás de quem está perdendo. É o jogo. Se ela chegar ao isolamento político, “o futuro a Deus pertence”, como assinalou um antigo e já falecido político.
* Coluna publicada originalmente na edição desta terça-feira (17) do jornal A Tarde

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