sexta-feira, 18 de julho de 2014

MUNDO: Rússia e separatistas ficam sob forte pressão após acidente de avião da Malaysia Airlines

De OGLOBO.COM.BR
POR O GLOBO / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Duas caixas-pretas da aeronave são encontradas pelos serviços de emergência da Ucrânia
Pertences pessoais são vistos no local do acidente do voo MH17 da Malaysian Airlines - MAXIM ZMEYEV / REUTERS
HRABOVE, Ucrânia — A derrubada do avião da Malaysia Airlines por um míssil no Leste da Ucrânia na quinta-feira deixou a Rússia e separatistas sob forte pressão da comunidade internacional. Os lados opostos do conflito ucraniano — russos e rebeldes contra o governo central de Kiev e o Ocidente — fizeram acusações mútuas sobre a autoria do suposto ataque. Após uma busca entre escombros espalhados por quilômetros, os serviços de emergência da Ucrânia encontraram nesta sexta-feira duas caixas-pretas, segundo a agência Interfax, que citou um assessor do governo da região de Donetsk, no Leste. Até o momento, 181 corpos dos 298 passageiros que estavam a bordo do voo MH17 foram recuperados, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores ucraniano. O Itamaraty informou que não há confirmação de brasileiros entre os passageiros do avião.
Para facilitar a investigação do acidente em uma área da Ucrânia controlada por rebeldes, a chanceler alemã, Angela Merkel, pediu nesta sexta-feira um cessar-fogo no país, apelo que foi repetido pelo presidente russo, Vladimir Putin. Durante a tradicional entrevista coletiva de verão em Berlim, ela cobrou uma solução política e culpou a Rússia pela crise ucraniana.
— O importante agora é realizar uma investigação independente o mais rápido possível. Para isto, um cessar-fogo é necessário e isto é crucial para que os responsáveis (pela tragédia) sejam levados à justiça — disse Merkel, admitindo ter “divergências” com Putin, mas destacou que os pontos de vista podem “convergir”. — Esses fatos nos mostraram mais uma vez que é necessária uma solução política e, acima de tudo, a Rússia é responsável pelo que está acontecendo na Ucrânia no momento.
Putin, por sua vez, declarou nesta sexta-feira que está em contato com o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, e espera que a crise no país se resolva de maneira definitiva, informaram as agências russas de notícias.
— Espero que possa propor a todo o povo ucraniano, independentemente de onde viva, um meio (...) que permita alcançar uma paz definitiva, completa e duradoura neste território — disse o presidente russo.
Críticas também vieram da ex-secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, que defendeu medidas enérgicas caso se comprove uma ligação da Rússia com a derrubada do avião. Durante uma entrevista ao jornalista Charlie Rose, ela afirmou que a Europa deve liderar uma resposta ao acidente.
SEPARATISTAS PERMITEM ACESSO A LOCAL DO ACIDENTE
De acordo com a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), os separatistas pró-Moscou permitirão que investigadores internacionais acessem o local do acidente. Eles prometeram proteger o local e permitir a recuperação de corpos. Suspeita-se que um míssil Buk terra-ar tenha sido utilizado para abater a aeronave, que saiu de Amsterdã com destino a Kuala Lumpur.
A recuperação das caixas-pretas gerou polêmica, com agência Interfax relatando anteriormente que uma delas havia sido encontrada por combatentes separatistas na quinta-feira e entregue a Moscou. Observadores disseram que a entrega, se confirmada, poderia causar controvérsia internacional. A Rússia, no entanto, negou que tenha planos de buscar o equipamento que teria sido capturado por separatistas.
— Apesar do que Kiev está dizendo, não temos planos de pegar essas caixas-pretas. Não pretendemos violar os padrões internacionais vigentes para essas situações — disse nesta sexta-feira o chanceler russo, Sergei Lavrov, em entrevista à televisão estatal russa.
Homem deposita flores em frente à embaixada da Malásia em Moscou - ALEXANDER NEMENOV / AFP
Uma análise preliminar confidencial da Inteligência dos EUA concluiu que o míssil foi provavelmente disparado por separatistas, de acordo com um funcionário da Defesa dos EUA, que falou sob condição de anonimato. O primeiro-ministro ucraniano, Arseniy Yatsenyuk, classificou a derrubada do voo MH17 um “crime internacional” e uma “guerra contra o mundo”.
— Todos os limites foram ultrapassados — disse ele.
O Conselho de Segurança da ONU reúne-se nesta sexta-feira em caráter de urgência para discutir a tragédia, atendendo a uma solicitação do Reino Unido. O secretário-geral Ban Ki-moon havia pedido uma “investigação internacional completa e transparente” sobre a fatalidade. O primeiro-ministro da Austrália, Tony Abbott, disse suspeitar que os rebeldes apoiados pela Rússia estavam por trás do disparo contra o avião.
Mais cedo, os Estados Unidos afirmaram que o Boeing 777 da Malaysia Airlines foi derrubado por um míssil, segundo fontes do governo aos principais meios de comunicação americanos. O voo MH17 partira da Holanda às 12h14m (horário local) com 295 pessoas a bordo, sendo 283 passageiros e 15 tripulantes. Segundo as autoridades ucranianas, não parece haver sobreviventes. Os EUA se disseram “horrorizados” e pediram uma investigação “rápida” e sem obstáculos' sobre queda de avião.
Pelo menos cem corpos foram observados num raio de 15 quilômetros. Entre as vítimas estava o cientista holandês Joep Lange, figura internacional da luta contra a pandemia. Além dos 154 holandeses, o avião transportava 43 malaios, incluindo 15 membros da tripulação, 27 australianos, 12 indonésios, nove britânicos, quatro alemães, cinco belgas, três filipinos e um canadense. Estavam na aeronave 80 crianças. A nacionalidade de 39 passageiros ainda não foi confirmada.
Muitos passageiros viajavam para uma conferência mundial sobre a Aids que acontecerá no fim de semana em Melbourne, anunciou o diretor UNAIDS (agência da ONU para o combate ao HIV), Michel Sidibe.
Um sistema de radar teria detectado um míssil terra-ar seguindo a aeronave pouco antes de ela cair, informou uma fonte à rede CNN. Um segundo sistema detectou um rastro de calor. Os Estados Unidos analisam agora a trajetória para saber de onde a arma foi disparada, disse a fonte.
A informação reforça a declaração que o vice-presidente Joe Biden deu em viagem a Detroit.
— Aparentemente...E digo aparentemente porque não temos todos os detalhes ainda, foi derrubado. Não foi um acidente. Houve uma explosão no ar — disse Biden.
O presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, também descartou um acidente e determinou a criação de uma comissão para investigar o caso.
— Isso não é nem um acidente, nem uma catástrofe, é um ato terrorista — afirmou o porta-voz, Sviatoslav Tsegolko, no Twitter, atribuindo a declaração a Poroshenko e usando uma expressão normalmente utilizada para se referir aos separatistas.
COMUNIDADE INTERNACIONAL PEDE INVESTIGAÇÃO CONFIÁVEL
O primeiro-ministro ucraniano, Arseni Yatseniuk, acusou a Rússia diretamente nesta sexta-feira.
— Os russos foram longe demais. É um crime internacional cujos responsáveis devem ser julgados em Haia — afirmou.
Já o presidente dos EUA, Barack Obama, pediu uma investigação rápida e sem obstáculos durante uma conversa por telefone com Mark Rutte, primeiro-ministro da Holanda, de onde procediam 154 passageiros que viajavam no avião. A imprensa holandesa denunciou um crime atroz.
O governo dos Estados Unidos exigiu a todas as partes envolvidas — Ucrânia, separatistas pró-Moscou e Rússia —um cessar-fogo imediato. Serviços de inteligência americanos afirmaram que as informações estão sendo revisadas para determinar se o míssil foi ou não lançado por separatistas pró-Rússia.
Para o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, o que aconteceu é consequência de uma crise na Ucrânia alimentada pelo apoio russo aos separatistas, inclusive com armas, material e treinamento. Putin, por sua vez, afirmou em conversa telefônica com o primeiro-ministro holandês que a tragédia demonstrou de novo a necessidade de uma solução urgente e pacífica para a crise aguda na Ucrânia.
A imprensa russa questiona a identidade dos responsáveis pela tragédia. Mensagens incluídas em sites dos rebeldes, rapidamente apagadas, e conversas interceptadas pelos serviços de segurança ucranianos dão a entender que o avião pode ter sido derrubado por engano pelos insurgentes, que teriam confundido o Boeing com um avião militar ucraniano. Se for confirmada a hipótese, que deve ser encarada com prudência no contexto de uma violenta guerra de propaganda e desinformação, a posição dos separatistas e de seu aliado, o presidente Putin, sofreria um abalo considerável.
PUTIN: REBELDES NÃO TÊM CONDIÇÕES DE OPERAR EQUIPAMENTO
Tanto o governo russo, quanto os separatistas do Leste ucraniano e também Kiev negaram envolvimento na queda do avião. A Rússia e a Ucrânia possuem mísseis Buk, e funcionários do Ministério da Defesa e da Segurança Nacional ucranianos informaram que os rebeldes também têm o armamento. Segundo os separatistas, o avião teria sido abatido por um jato ucraniano.
Putin afirmou desconhecer que os rebeldes tivessem lançadores de mísseis Buk. E, segundo ele, mesmo que o possuíssem, não seriam capazes de operá-lo. Uma versão de que o alvo poderia ser o presidente russo foi noticiada pela agência estatal do país.
— Posso dizer que o avião do presidente russo e o Boeing malaio se cruzaram no mesmo ponto e no mesmo nível de voo. Isso aconteceu perto de Varsóvia, numa altitude de 10.100 metros. O avião de Putin estava lá às 16h21m, hora de Moscou, o avião malaio às 15h44, hora de Moscou — disse uma fonte da Aviação Russa.
Putin enviou “profundas condolências” ao primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak, que disse estar “chocado com a notícia”. O premier britânico, David Cameron, também expressou tristeza pelo acidente.
O governo ucraniano resgata os acontecimentos dos últimos dias para provar que se tratou de um ataque.
— Este é o terceiro incidente trágico nos últimos dias depois de aeronaves militares ucranianas An-26 e SU-25 terem sido derrubadas a partir do território russo. Nós não descartamos que este avião também tenha sido abatido e ressaltamos que o Exército não tomou nenhuma ação para destruir alvos no ar — afirmou na quinta-feira o presidente ucraniano, Petro Poroshenko.

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