segunda-feira, 14 de julho de 2014

COMENTÁRIO: Uma presidente atônita

Por Raul Monteiro - POLÍTICA LIVRE



Foto: Agência Brasil/Arquivo
Dilma e Blatter: vaias e xingamentos para todos os lados
A Dilma Rousseff que falou à Globonews com exclusividade na última sexta-feira é a mesma que emergiu com as propostas mirabolantes frente aos protestos que tomaram as ruas do país em junho do ano passado e das quais ninguém lembra mais. Quando repete o argumento do seu antecessor e mentor, Lula, de que o desrespeitoso xingamento que recebeu no Itaquerão, na abertura da Copa, e se repetiu ontem, na final, partiu da elite branca, a presidente demonstra que continua tão atônita como naquela época. Ou que aprendeu muito pouco desde então. Não se trata apenas de dividir o país entre pobres e ricos para um suposto bom proveito do PT.
Na verdade, não deixa de ser um contrasenso que o ex-presidente e sua sucessora, que se auto-arvoram defensores dos pobres, tenham se empenhado pela realização no país de um evento cujos ingressos só podem ser comprados pelos ricos, conforme o argumento defensivo de ambos deixa claro. Dilma deve saber o preço que pagou por ter ameaçado não comparecer ao Maracanã ontem, levando sua assessoria e marketing a apostarem no tempo e em outras circunstâncias incontroláveis, como o resultado dos jogos, para decidir o que ela faria à final do Mundial, em que a presença do presidente do país que sedia a festa é naturalmente esperada.
Aliás, seu desconforto só deve ter aumentado no momento em que, muito diferentemente dela, a primeira-ministra alemã, Angela Merkel, fez questão de anunciar ao mundo que estaria presente ao último jogo do selecionado alemão, que enterrou o sonho do hexa do time brasileiro, derrotado por sua própria incompetência e arrogância, coincidentemente, características que se encontram à larga no perfil e no governo da petista. As alternativas que Dilma vislumbra para a crise da seleção brasileira só ampliam o sentimento de que a presidente não está batendo lá muito bem da bola.
Francamente, não se pode levar a sério um gestor que aparece com a idéia de impedir que os craques brasileiros possam jogar no exterior como forma de mantê-los no país e, assim, assegurar público pagante para alguns dos estádios que se assemelham a elefantes brancos, construídos sob a justificativa da realização da Copa. A presidente pretende por acaso cassar o passaporte de Neymar para obrigá-lo a ficar num país sob o seu comando? Como alguém que não conseguiu realizar uma reforma sequer num país tão carente de reformas se digna a propor algo nestes termos para o esporte mais popular do país?
Por tudo que aconteceu até agora em sua gestão, Dilma continua mostrando que é uma péssima administradora de crises, senão uma das grandes responsáveis por elas. Jogar no descompasso econômico internacional a culpa pelo pífio crescimento do país, a manutenção dos juros em patamares indecentes, o endividamento da população e a inflação que volta a ameaçar o brasileiro infelizmente não é apenas tática de quem está tergiversando, mas típica resposta de quem tem dificuldade concreta de compreender a dimensão dos problemas que precisa enfrentar no comando de uma nação complexa como a brasileira.
Legado
Incapaz de ter apresentado até agora um motivo razoável para pedir, por meio de ofício, isto é, formalmente, ao prefeito ACM Neto que suspendesse a licitação do transporte coletivo em Salvador, o governo do Estado vai continuar com fama de querer ingerir nos assuntos do município com sua proposta de criar um órgão para regular os serviços das cidades da região metropolitana. Uma medida, sem dúvida, temerária para quem está entrando numa campanha eleitoral apontando o respeito à independência política e administrativa dos adversários como um de seus principais legados.
* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia.
Raul Monteiro*

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