quarta-feira, 16 de julho de 2014

COMENTÁRIO: Depois daquele junho

Por Ronald Carvalho - O Globo
Do blog do NOBLAT


"As manifestações de rua mostraram de modo inequívoco que estão quebrados os canais de comunicação de imensa porção da sociedade com as instituições que deveriam representá-la.”
“Os sete dias que mudaram o Brasil” é o título da edição histórica da revista “Veja” lançada às bancas no dia 26 de junho de 2013.
Há um ano e alguns dias, o primeiro parágrafo deste texto abria a edição histórica de “Veja” e chamava atenção para um processo revolucionário, que se instalava na nascente classe média brasileira.
Um ano já passou e a população brasileira, em pleno circuito eleitoral, pode ainda não saber o que quer, mas já sabe o que não quer. Pede mudanças, mas não vocaliza a troca de peças; grita de medo, porém não sabe quem melhor a socorra; revolta-se com a corrupção, entretanto, não sabe quem é o verdadeiro vilão.
No início do semestre, por necessidade acadêmica, o pós-doutor Ricardo Wahrendorff Caldas, diretor do Centro de Estudos Avançados da Universidade de Brasília, aplicou uma pesquisa em mais de dois mil eleitores brasileiros. Ele queria saber exatamente o que o povo espera que mude no Brasil, para se viver melhor. A pesquisa deu a resposta sobre as mudanças que a população quer.
Dilma, Aécio e Eduardo Campos, medidos em uma técnica política matemática ponderada, em aferições a 60 dias da eleição, guardam distancias modestas um do outro, mas nenhum deles disse ainda ao povo, com clareza, qual seu papel na mudança.
O primeiro que aparecer com uma bala para matar a onça pode largar com imensa vantagem. Trocando em miúdos, isto significa que cairá nas graças do povão aquele que primeiro disser por que é diferente do resto, por que pode representar a mudança e, sobretudo, por que vai aliviar a angústia que o povo sente, mas não consegue falar.
A pesquisa do doutor Ricardo Caldas deu um resultado interessante. Revelou que povo está com muito medo e teme bastante pela educação e segurança de seus filhos. Segundo se pode concluir das informações da pesquisa, a bala que pode matar a onça tem quatro recheios.
Os brasileiros estão com medo de andar na rua e temem a violência que cerca suas cidades; sentem-se paralisados pelo caos no trânsito de suas cidades e a inexistência de transporte urbano, que os obriga a perder, em média, uma hora por dia no deslocamento para o trabalho; vivem a aflição de ver seus filhos não terem educação decente e estudarem em escolas mal equipadas com professores mal pagos e não estimulados; e estão apavorados com as drogas e o alcoolismo que chegam às escolas e às suas casas.
Quem quiser transformar esses sintomas em terapia talvez não precise pensar muito para imaginar que o medo das ruas se pode resolver pela federalização da inteligência da segurança pública; o transporte público, pela plena ativação da Agência Nacional de Transportes Terrestres; a aflição das mães dos alunos, por um bom Fundo Nacional de Professores que poderia estimular um melhor corpo de pedagogos e doutores em educação, além de modernizar as escolas; e, quanto ao pavor às drogas, isso merece uma melhor reflexão.
O alcoolismo é a dependência química que mais afeta os pobres e desagrega as famílias. Uma campanha que venha em socorro das mães e mulheres, que sofrem por ter filhos e maridos perdidos pelo álcool, atinge em cheio a família típica brasileira. Fora isso, o combate ao alcoolismo é festejado pelo setor produtivo, que vê nessa dependência química um vetor importante de prejuízo à produtividade.
O crack e a cocaína são as drogas da juventude e de todas as idades. É preciso o Estado atender a aflição da sociedade como questão de saúde pública. Hoje, o que há de mais moderno e revolucionário no mundo são os tratamentos que utilizam a socioterapia.
O método é de fácil disseminação e já tem equipes treinadas para implantá-lo em todo o país. Essa metodologia é a melhor do mundo e se baseia na interação terapêutica de pacientes e membros da comunidade de recuperação, onde se inclui principalmente a experiência de outros dependentes químicos.
Como ensinou Sergio Ricardo, na letra da música do filme “Deus e o diabo na Terra do Sol”: “Está contada minha história, verdade, imaginação e espero que o senhor tenha tirado uma lição, porque assim mal dividido, esse mundo anda errado: a terra é do homem, não é de Deus nem do diabo.”
A pesquisa do professor Caldas talvez possa ter alguma utilidade para os candidatos, porém é necessário que cada um tenha imaginação suficiente para saber fazer com que desses quatro gritos saia um som audível, que se transforme em uma palavra de ordem, para uma real mudança na sociedade.
Ronald de Carvalho é jornalista

Comentários:

Postar um comentário

Template Rounders modificado por ::Power By Tony Miranda - Pesmarketing - [71] 9978 5050::
| 2010 |