quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

ESPORTES: A crise bate à porta do futebol brasileiro

De OGLOBO.COM.BR
CARLOS EDUARDO MANSUR (EMAIL·FACEBOOK·TWITTER)

Gasto excessivo nos últimos anos, penhoras e calendário esfriam o mercado
Só o Corinthians, gastou mais de 20 milhões de euros em reforços no início de 2013
Alexandre Pato custou R$ 43 milhões ao Corinthians Ueslei Marcelino / REUTERS
RIO - No início de 2013, o Corinthians gastou mais de € 20 milhões em reforços, a começar pelos R$ 45 milhões que trouxeram Alexandre Pato. O Grêmio, ao longo do ano, montou um ataque de R$ 3 milhões mensais de salário. Meses antes, o Botafogo trouxera Seedorf, o São Paulo pagara R$ 24 milhões ao Santos por Paulo Henrique Ganso. O céu parecia o limite no futebol brasileiro. Vivia-se o impacto de novos contratos com a TV e incrementos de receita. Em tese, ótimas notícias. No entanto, o limite parece ter sido extrapolado. E o mercado de pré-temporada em 2014 tem a marca da recessão. O cenário mudou. Os custos de folhas salariais altíssimas se mostraram insustentáveis e as penhoras de receitas foram o sinal de que pagar impostos é preciso. Para completar, a exceção dos seis clubes que estão na Libertadores, os demais terão poucos jogos relevantes a disputar antes da Copa do Mundo. Para eles, o ano “começa” em julho.
O consultor em marketing e gestão esportiva Amir Somoggi chama de “gastança desenfreada” o que se viu no país de 2011 a 2013. Nesse período, por exemplo, o Flamengo assumiu com Ronaldinho Gaúcho um compromisso de R$ 750 mil por mês, depois elevado para mais de R$ 1 milhão.
Novos valores
O aquecimento do mercado era turbinado pelos novos contratos de TV. Clubes como Flamengo e Corinthians praticamente viam suas receitas triplicarem. Em menos de dez anos, o faturamento dos principais clubes do país com direitos de transmissão cresceu de R$ 300 milhões para R$ 1,5 bilhão. Além disso, em 2012 eram pagas luvas previstas no novo contrato.
— O problema é que esta receita deveria ter sido administrada. E os clubes gastaram tudo. O Grêmio recebeu R$ 35 milhões de luvas, fechou 2011 no azul, mas em 2012 e 2013 encerrou no vermelho. O Corinthians, que recebia R$ 35 milhões por ano da TV, fechou 2012 com R$ 150 milhões. Mas não era um número real, incluía luvas. Muitos clubes gastaram e ainda pegaram financiamentos em bancos — alerta Somoggi. — Vivemos uma readequação financeira, que vai até o mercado se reequilibrar.
Especialistas no mercado alertam para outro ponto. Até há algum tempo, dever ao governo era confortável. Afinal, a conta raramente chegava. Agora, as penhoras se intensificaram, retendo receitas. Vasco, Fluminense e Atlético-MG foram casos recentes mais emblemáticos. Para completar, um acordo de renegociação com o governo se avizinha, o que obrigará, em breve, clubes a terem que incluir no orçamento parcelas próximas de R$ 1 milhão para evitar futuras penhoras.
— Será um peso. As receitas cresceram muito, mas não se diversificaram. Continuam baseadas em TV, sócio-torcedor, patrocínio e bilheteria. O futuro passará pelo marketing — diz Somoggi.
Quem atua diretamente no mercado de jogadores nota claramente a recessão. E entende que, passo a passo, jogadores e técnicos irão rever seus valores.
— Os clubes viveram a época dos novos contratos de TV, das luvas... Muitos estavam há muitos anos sem recolher imposto. Quando a Receita Federal apertou, tiveram que renegociar dívidas, o fluxo de dinheiro diminuiu. O mercado todo terá que se reposicionar. Ainda teremos vendas elevadas de jogadores, atletas ganhando salários altos. Mas vai diminuir o número. Não é possível manter este padrão — avalia o empresário Carlos Leite.
Para empurrar o mercado rumo à recessão, clubes que investiram alto em 2013, como Grêmio e, principalmente, Corinthians, deixaram a desejar na relação custo-benefício. E agora, o futebol brasileiro vê no horizonte um 2014 peculiar. Quem não está na Libertadores vê poucas razões para investir alto até julho, data do fim da parada do calendário para a Copa do Mundo e de reabertura da janela internacional. Até lá, haverá Estaduais, fases iniciais da Copa do Brasil e só nove rodadas no Brasileiro.
— A nova mentalidade é o fator principal, mas o calendário, com a parada de um mês no meio do ano, influi — lembra Leite.
Até agora, a grande transação do futebol brasileiro foi feita com recursos de um fundo de investimento: o obscuro Doyen Sports, sediado em Malta, que pagou R$ 41 milhões ao Internacional por Leandro Damião, valor que é mais do dobro da melhor oferta já feita pelo mercado convencional ao jogador. A volta do dinheiro estranho ao futebol, hoje combatida na Europa, gera preocupação.
— Vejo com péssimos olhos. O Brasil teve negócios nebulosos no passado com desfecho ruim. O Santos sequer questionou a origem do dinheiro, o risco para a sua marca — diz Somoggi.

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