quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

COMENTÁRIO: A verdade histórica e os democratas

Por 
Pedro Simon* - JB.COM.BR

O Congresso Nacional reparou um erro que até hoje manchava os livros de história do Brasil. Em sessão especial, devolveu simbolicamente o mandato de João Goulart, deposto em 1964 por um golpe militar. Os congressistas também aprovaram, em votação anterior, projeto apresentado por mim e pelo senador Randolfe Rodrigues anulando a ilegal sessão do Congresso de 02 de abril de 1964. Naquela madrugada trágica, graças a uma manobra parlamentar inconstitucional conduzida pelo presidente do Congresso, foi declarada vaga a presidência da República. O pretexto alegado foi que Goulart estava “em lugar incerto e não sabido”. Para substituir Jango, que se encontrava em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, foi colocado no cargo o presidente da Câmara Federal. Dias depois, o poder foi transferido a uma junta militar, dando início à longa noite da ditadura. 
Não há como não lembrar, com referência a esse episódio, a clássica definição de Lincoln, um inestimável ensinamento aos governantes: “Você pode enganar uma pessoa por muito tempo; algumas por algum tempo; mas não consegue enganar a todas por todo o tempo.” A versão dos vencedores de 64, que perdurava inquestionável até hoje, foi finalmente varrida da história oficial. Aos quantos pretendem arguir a utilidade do gesto que o Congresso teve a coragem de tomar, assumindo seu erro passado e restaurando a verdade, é preciso recordar que o destino de uma nação está fundado em sua história. Não é possível construir e manter uma República, e suas instituições democráticas, com base em mentiras e injustiças.
O mais extenso período autoritário vivenciado no país terminou oficialmente em 1985, com a vitória do candidato da oposição à presidência da República, Tancredo Neves. O povo brasileiro vinha de uma memorável campanha pelas eleições Diretas Já e apoiou a escolha; mesmo que pela via indireta, num colégio eleitoral que até então se limitava a chancelar os nomes dos generais-presidentes.
Nessa hora de restabelecimento da justiça histórica, não negligenciemos o papel do PMDB, o partido que liderou a resistência democrática, e seus líderes. Entre eles, Ulysses Guimarães, Teotônio Vilela, Miguel Arraes, Mário Covas e tantos outros, que enfrentaram a violência do autoritarismo em nome de convicções democráticas. Um tempo de homens públicos idealistas, austeros e profundamente compromissados com o seu povo e o seu país. Um exemplo e uma referência aos jovens de hoje.
*Pedro Simon é senador pelo PMDB/RS.

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