terça-feira, 22 de janeiro de 2013

POLÍTICA: Brasil, o país do artigo indefinido

Do POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

Assim, de repente, não mais que de repente, de fontes sempre mantidas ocultas, fica-se sabendo, entre outras coisas que a presidente Dilma Rousseff não gostou do aval dado pelo assessor especial Marco Aurélio Garcia aos arranjos da Venezuela para empossar Hugo Chávez em um novo mandato de corpo ausente; do imbróglio provocado pelas mágicas fiscais do fim de ano para maquiar o superávit primário; das escolhas do PMDB para comandos na Câmara e no Senado, especialmente a possível indicação do deputado fluminense Eduardo Cunha (RJ) para a liderança do partido na Câmara; e outras cositas mas. Traduzindo, nada que não tenha boa repercussão agrada à presidente. É uma nova versão do que "é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde" do ex-ministro Rubens Ricupero : "o que deu certo é meu, o que deu errado é dos meus auxiliares". Ou o lema de alguns treinadores de futebol: "eu ganho, nós empatamos, vocês perdem". Só que esta versão desmente outra que os assessores presidenciais fazem questão de divulgar de Dilma: a gerentona competente que tudo vê, tudo sabe, tudo cobra, "espanca" coisas mal feitas, não perdoa vacilações. A pergunta é: em que lugar estava esta "onipresença e onipotência" quando os feitos desagradáveis foram perpetrados? A insatisfação da presidente fica no atacado, no artigo indefinido. Há culpas, mas não há culpados. Afinal, pelo seu zelo, todas as políticas são dela. Como culpar alguém de modo definido, no mínimo com um puxão de orelha público e no máximo com a demissão?

Novos rumos
A impressão que o governo em Brasília passa é a de que está sentindo o golpe: a imagem de eficiência da presidente, pelas razões expostas acima, está também sendo atingida. Por isso, é visível neste início de ano a postura mais ativa, para fora, da presidente. A abertura do Palácio do Planalto para conversas públicas, individuais, de Dilma com empresários, rara nos dois primeiros anos de mandato, faz parte desta postura. Desde tempos imemoriais esses encontros nunca funcionaram: as empresas não agem na base da lábia, nem de versões: mas de fatos e ações. Porém, as cenas ajudam a criar a impressão de muita azafama na capital da República. O calendário de viagens da presidência, iniciado com a visita ao Piauí na sexta-feira passada e que deverá, até março, contemplar o Nordeste com mais cinco viagens, foram outras em outros Estados, como a SP, na capital, na sexta-feira, para a festa de aniversário da cidade, tem o mesmo foco. O terceiro ponto deverá ser apressar algumas medidas concretas para, na expressão oficial, "destravar" a economia. Como pano de fundo, cada vez mais notícias de cobranças a ministros e auxiliares, de broncas privadas. Sempre na base do "artigo indefinido".

Velhos problemas
Os problemas fundamentais do governo da presidente Dilma não são a política fiscal, a monetária e nem a cambial. Muito embora nestes itens tenham faltado vigilância cabível ao administrador público, os problemas tem soluções disponíveis e relativamente rápidas (coisa de meses e não anos como nos tempos da inflação alta e insegurança cambial). Além disso, é difícil imaginar no curto prazo (1 ano) que a economia perca um razoável perfil. O problema essencial do governo Dilma é a quase absoluta ausência de prioridades estratégicas e boa capacidade de execução de planos, obras e programas. Não à toa é o investimento o item mais capenga da equação do crescimento uma vez que aí reside a necessidade de presença do governo como bom estrategista e executor. Só assim, a iniciativa privada será seduzida a acompanhar o governo na tarefa de jogar o PIB para cima por meio de investimentos e não consumo. E o que se vê? O ministro Mantega anuncia a cada semana medidas de estímulo ao consumo, uma clara evidência da falta de sentido estratégico do governo. Até mesmo o "acelerado" setor de construção civil recebe benefícios do governo quando se sabe que nem engenheiros se tem em suficiência para atender a demanda. E onde estão as medidas estratégicas pró-investimento? Provavelmente, não estejam sequer nas gavetas da burocracia brasiliense.

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