terça-feira, 4 de setembro de 2012

ECONOMIA: Europa e EUA não estão sabendo lidar com crises recentes

De OGLOBO.COM.BR
Danilo Fariello / Eliane Oliveira

Avaliação é de protagonistas da dívida externa brasileira de 1982

BRASÍLIA - Os principais atores da crise da dívida externa brasileira de 1982 avaliam que a Europa e os Estados Unidos não estão sabendo lidar com as crises recentes. Críticos das escolhas feitas pelos governos dos países avançados, eles também comungam da avaliação sobre a situação atual do Brasil: oposta ao que o país viveu no chamado “setembro negro”. Carlos Langoni, que presidia o Banco Central há 30 anos, vê com decepção “a forma desordenada e caótica” como o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) lidou com a crise de 2008, assim como vê o Banco Central Europeu (BCE) inseguro para tratar a crise de sua região.


Diante da atual crise da zona do euro, Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do Banco Central e responsável pelas reservas internacionais em 1982, avalia que Grécia, Espanha e Portugal já não têm mais condições de administrar sua dívida, embora se insista em deixá-los atuando normalmente no mercado financeiro:
— É preciso tirar o país do mercado, numa espécie de concordata para renegociações. Isso poderia ser resolvido de uma forma melhor, se reconhecessem o problema que o mundo inteiro sabe que existe.
Galvêas criticou o fato de, passados tantos anos e tantas crises, os bancos ainda não respeitarem as regras básicas de Basileia (que determinam limites rígidos para volume de crédito emitido em relação ao patrimônio da instituição).
— Nos EUA, por exemplo, houve exageros em créditos para expansão da economia após o 11 de setembro de 2001. Os EUA fizeram algo diferente da sabedoria universal, que é o acordo de Basileia. Os EUA chegaram à alavancagem de 40 vezes (maior do que o patrimônio das instituições). Na Europa, 70 vezes. Os bancos europeus se alavancaram de tal maneira que em determinado momento quebraram. Aí os governos fazem déficit fiscal para salvar os bancos, e o problema é transferido. Em certo momento, nem resolve o problema dos bancos, nem resolve o dos governos, que é o imbróglio atual da Europa — disse Galvêas.
Na visão de Langoni, o desenvolvimento do mercado financeiro ao longo dessas décadas levou a um descontrole sobre quais são exatamente os devedores que sofrem calote em caso de uma quebra.
— A multiplicidade de devedores que o mercado atual permite, por securitização, prejudica renegociações de dívidas. Isso torna todo o processo de controle da crise muito mais complicado, o que explica a grave crise sistêmica com a quebra do Lehman Brothers em 2008 — disse.
O ex-ministro do Planejamento Delfim Netto fez críticas ao Fundo Monetário Internacional (FMI) no tratamento de países em crise. Na sua visão, depois de décadas, a postura do organismo não mudou.
— O problema é que eram e são burocratas economistas. Eles acham que podem dar remédios ao mundo. É de dar risada o diagnóstico do FMI sobre a Grécia: a Grécia comeu demais e agora tem que descomer — disse.
Delfim disse que a economia brasileira ainda tem muito a melhorar, mas que se encontra em franco processo de “recuperação criativa”. Destacou que as instituições fortes, como por exemplo o Supremo Tribunal Federal (STF), são ativos importantes para a imagem do país.
— Ouso dizer que não existe nenhum país emergente que tenha um Supremo com essas condições de independência, que procura fazer justiça e não ouvir a voz da rua, que quer sempre vingança —disse.
Diretor para o Brasil e outros oitos países latino-americanos no Fundo Monetário Internacional (FMI), Paulo Nogueira Batista Junior disse que o Brasil aprendeu, a duras penas, a sair da situação de dependência do mercado externo.
— Trinta anos depois, o Brasil mudou sua posição completamente. Não é mais um país com o pires na mão. Quando assumi o cargo que ocupo hoje no FMI, em 2007, jamais poderia imaginar um cenário como esse — disse.
Em 1982, o Brasil tinha reservas internacionais de apenas US$ 3,9 bilhões. Hoje, as reservas do país somam US$ 376,5 bilhões.
Para Galvêas, os grandes bancos brasileiros estão bem hoje porque respeitam limites de endividamento, sem correr mais riscos do que podem suportar:
— Nós estamos blindados no nosso sistema. Mas aqui está ocorrendo um desastre ainda de proporções incalculáveis, que é o fato de nossa indústria não crescer. Se a indústria não cresce, não faz investimentos e não cria oportunidade de investimento, caminha-se para uma crise.
Trinta anos após o “setembro negro” de 1982, Galvêas, Delfim, Langoni e Freitas continuam na ativa, trabalhando como consultores ou ligados a entidades de classes.
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