Do ESTADAO.COM.BR
Fábio Fabrini, Alana Rizzo e Eugênia Lopes, de O Estado de S. Paulo
Ex-vereador contraria versão do governador de Goiás e diz ter comprado casa diretamente do tucano
BRASÍLIA - Em depoimento lido à CPI do Cachoeira, o ex-vereador de Goiânia Wladimir Garcez complicou nesta quinta-feira, 24, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), ao apresentar versão diferente da do tucano para a venda de uma casa no condomínio Alphaville, em Goiânia. Preso na Operação Monte Carlo, da PF, Garcez disse que ele mesmo comprou a casa de Perillo, providenciando e entregando três cheques a Lúcio Fiúza, assessor do governador.
Em declarações anteriores, o tucano disse ter vendido a casa para o
empresário Walter Paulo, dono da Faculdade Padrão, e que Garcez teria sido
apenas intermediário. Em 20 minutos, Garcez, que se negou a responder às
perguntas dos parlamentares, contou que Perillo lhe disse estar vendendo a
mansão e aceitou receber R$ 1,4 milhão. “Comprei a casa e pedi um prazo”, disse.
“O pagamento ocorreu depois.”
Cheques. Interessado, mas sem dinheiro, Garcez chegou a
oferecê-la a Walter Paulo, que disse que só poderia arcar com o negócio meses
depois. Com isso, Garcez recorreu a Cachoeira e ao ex-diretor-geral da Delta
Construções no Centro-Oeste Cláudio Abreu, que forneceu os três cheques para ele
quitar a mansão. “Pedi ao Cláudio, meu patrão, e ao Carlinhos que me
emprestassem o valor, para eu repassar ao governador. O Cláudio me deu 3
cheques, um de R$ 500 mil, outro de R$500 mil e outro de R$400 mil, para março,
abril e maio”, disse Garcez. Conforme o delegado da PF Matheus Mella Rodrigues,
os cheques eram de Leonardo Almeida Ramos, sobrinho de Cachoeira, que seria o
real comprador.
Moda Jovem. Após o depoimento, o advogado de Garcez, Ney
Moura Teles, disse que os cheques eram da Babioli, empresa de roupas para
adolescentes em Anápolis (GO), cujo nome fantasia é Excitante.
A informação reforça a conexão da venda do imóvel ao bicheiro. Segundo a PF,
a Babioli é dos empresários José Vieira Gomide Júnior e Rosane Aparecida Puglise
da Costa. Os dois são citados no inquérito da Monte Carlo. A empresa deles
recebeu R$ 250 mil da conta bancária da Alberto e Pantoja Construções e
Transportes Ltda., empresa fantasma ligada ao esquema.
A empresa também aparece em conversas da quadrilha de Cachoeira na operação
Vegas. Além de Carcez, os arapongas Idalberto Matias de Araújo, conhecido como
Dadá, e Jairo Martins de Souza, também participaram da sessão, mas permaneceram
em silêncio durante o depoimento.
Perillo diz que não se ateve, à época, a quem emitiu os cheques. Em 29 de
fevereiro deste ano, Cachoeira foi preso na casa, onde vivia com a mulher,
Andressa Mendonça.
O ex-vereador explicou que seu objetivo era ficar com o imóvel ou passá-lo
adiante. Como não conseguiu vendê-lo com lucro ou comprá-lo, começou a ser
pressionado por Abreu para devolver o empréstimo. “Com medo de perder o emprego,
resolvi procurar o professor Walter. Eu a vendi pelo mesmo valor de R$1,4
milhão. Recebi em dinheiro e repassei ao Cláudio, quitando, assim, a dívida dos
três cheques.” O ex-vereador disse ter recebido de Walter Paulo R$ 100 mil de
comissão pela venda e negou que o empresário tenha participado da transação para
ocultar a compra por Cachoeira.
“Dizem por aí que o professor Walter seria ‘laranja’ do Carlinhos. O
professor é dono de uma universidade e de vários imóveis, e uma das pessoas mais
ricas de Goiás. Daria para comprar dez, 20 vezes Carlinhos e a Delta.”
Garcez relatou que pediu ao empresário que emprestasse a mansão a Andressa,
recém-separada, até que uma casa no mesmo condomínio fosse reformada. Depois
disso, Andressa passou a viver com Cachoeira, que mudou para a mansão de
Perillo.
O governador negou, por meio de sua assessoria, contradição entre sua versão
e a de Garcez. Segundo ele, a venda foi feita, de fato, a Walter Paulo. “Garcez
queria comprar a casa e não conseguiu o dinheiro. O imóvel foi vendido a Walter
Paulo.”
Procurado pelo Estado, Walter Paulo não foi
localizado, mas a assessoria de Perillo divulgou documento, entregue ontem pelo
empresário à CPI, no qual explica que foi procurado por Garcez em fevereiro de
2011 e manifestou interesse em comprar a mansão, pagando em julho.
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