Do ESTADAO.COM.BR
Eugênia Lopes, de O Estado de S. Paulo
Relator apoia estender investigação à direção nacional da empresa e a Cavendish
BRASÍLIA - O PT e o PMDB estão em pé de guerra depois de o relator da
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira, deputado Odair Cunha
(PT-MG), ter defendido a quebra do sigilo bancário da Delta Construções em nível
nacional e de seu principal acionista, Fernando Cavendish.
Diante da crise, Cunha optou nesta quarta-feira, 23, pela cautela. Mas o
deputado confidenciou a correligionários que fez uma reavaliação da blindagem da
empreiteira e que, diante das evidências, não tem como evitar que as
investigações recaiam sobre a Delta nacional e seu proprietário.
A decisão irritou o PMDB, em especial a ala ligada ao governador do Rio,
Sérgio Cabral. Ele é amigo de Cavendish, com quem viajou para o exterior. Os
peemedebistas alegam que a quebra de sigilo da Delta é uma reivindicação da
oposição para tirar o foco do governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo, que
estaria envolvido com o esquema do contraventor Carlos Augusto Ramos, o
Carlinhos Cachoeira.
Com a provável aprovação da quebra dos sigilos da Delta, os peemedebistas
estão certos de que a oposição terá munição para pedir a convocação de
Cabral.
Em represália, o PMDB passou nesta quarta a trabalhar com a ideia de não se
aliar ao PT para convocar Perillo. Dizem que é mais fácil, agora, não aprovar a
convocação de nenhum dos governadores alvo de denúncias.
‘Não é nosso’. Por ora, a cúpula do PMDB tenta manter postura de
distanciamento. A alegação é que Cabral nunca foi “nosso” - ou seja, do PMDB - e
não haveria motivos para o partido se empenhar na sua defesa. O líder da sigla
na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), avisou que não pretende trocar seus
titulares na CPI - Luiz Pittman (DF) e Íris Araújo (GO). Eles prometem votar a
favor da quebra do sigilo.
Segundo integrantes da CPI, Cunha cogitou tornar a sessão de hoje em
administrativa, para aprovar a quebra dos sigilos da Delta nacional e de
Cavendish. O relator teria sido demovido da ideia pelo próprio PT. “Não se pode
fazer uma reunião administrativa nas coxas”, disse o ex-líder Cândido Vaccarezza
(PT-SP), ao garantir que apoia a decisão de pedir a quebra dos sigilos.
Para os aliados, Cunha mudou sua postura e resolveu contrariar a blindagem à
Delta porque está preocupado com sua imagem. O petista sonha em ser candidato ao
governo de Minas, em 2014, e não quer “queimar” sua biografia. Ele estaria
passando por processo semelhante ao que ocorreu na CPI dos Correios, quando o
presidente Delcídio Amaral (PT-MS) e o relator Osmar Serraglio (PMDB-PR) também
mudaram de comportamento ao longo das investigações e denunciaram a existência
do “mensalão” no governo Lula.
Cunha decidiu ampliar a apuração após documentos da Operação Saint-Michel -
deflagrada pelo Ministério Público do Distrito Federal após a Monte Carlo -
apontaram que os ex-diretores da Delta no Centro-Oeste, Cláudio Abreu, e no
Sudeste, Heraldo Puccini, tinham procuração para movimentar dinheiro em contas
nacionais da empreiteira.
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