Por Sandro Vaia - Do blog do NOBLAT
Como disse o renomado filósofo contemporâneo Wagner Love, quem nunca capotou
com o carro?
Tomando-se como ponto de partida essa profunda e dilacerante reflexão
existencial, poderíamos replicá-la para outros cenários onde se desenvolve a
penosa e enriquecedora experiência humana em busca de uma explicação para o
sentido da vida.
Se nos debruçarmos , por exemplo, sobre o desenrolar de uma das mais
populares e rumorosas experiências políticas deste começo de século-a Comissão
Parlamentar Mista de Inquérito que investiga o contraventor Carlinhos Cachoeira-
podemos estender a indagação filosófica de Wagner Love a outros ramos da
atividade humana.
Por exemplo:
Quem nunca mandou um torpedo carinhoso e tranquilizador a um aliado político
de peso assegurando-lhe que “você é nosso e nós somos teu”?
Quem nunca emudeceu diante de uma comissão de inquérito exercendo o direito
constitucional de não testemunhar contra si próprio, tendo ao lado a montanha de
sabedoria jurídica de um ex-ministro da Justiça pronto a comprovar quanto o
silêncio pode ser de ouro - ou quanto de ouro pode valer um siêncio?
Quem nunca foi dono de uma empreiteira de obras públicas com contratos em 24
estados da federação e que, depois de dizer que políticos são amaciados com
dinheiro e de dançar na boquinha da garrafa com um de seus contratantes,
desaparece de cena e entrega de graça sua empresa que fatura 3 bilhões aos donos
de um frigorífico que por acaso passavam por perto?
(Como até Wagner Love sabe, há uma grande sinergia entre vender carne de boi
e construir estádios e obras públicas em geral).
O fato é que, com ou sem a filosofia Wagner Love, entre equívocos e
silêncios, a CPMI caminha para um impasse que pode definir a sua irrelevância
absoluta.
Gerada artificialmente por um cálculo político equivocado, ela começou sem um
roteiro claro e definido, e não dá mostrar de estar perto de encontrar a sua
porta de saída.
Ao partido do governo interessava encalacrar Demóstenes Torres, desafeto de
tantos anos, e Marconi Perillo, governador de Goiás.
Sonhou que o turbilhão dos escândalos novos encobriria o impacto dos
escândalos velhos, como o do Mensalão.
A oposição entrou de cabeça sonhando envolver os governadores do DF, Agnelo
Queiroz, e do Rio, Sérgio Cabral.
Nada deu certo. Os governadores continuam blindados e as ações da construtora
Delta, se circunscritas ao Centro-Oeste, não prometem grandes emoções. Ou se vai
à Delta nacional ou a CPI morre por inanição antes do tempo.
Se tudo continuar assim, Carlinhos Cachoeira terminará a história do mesmo
tamanho que começou, como o único vilão, tendo como consolação não só a teoria
Wagner Love, como a de sua namorada, a romântica Andressa: “Afinal, quem está
livre se ser preso”?
Assim, montar esquemas para enriquecer com dinheiro público continuarão sendo
coisas normais da vida, como capotar o carro ou ser preso.
Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor
do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação
da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do
livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani
Sanchez. E.mail: svaia@uol.com.br
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