quinta-feira, 22 de setembro de 2011

ECONOMIA: BC intervém no mercado e freia valorização do dólar; bolsas desabam

De O GLOBO

Daniel Haidar e Vinicius Neder, com agências (economia@oglobo.com.br)

RIO - Após ultrapassar a cotação de R$ 1,90, o dólar comercial amenizou a valorização depois da intervenção do Banco Central com a venda de contratos de swap tradicional, que corresponde a uma venda de dólares no mercado futuro para tentar frear a valorização da moeda americana. A última vez que o BC vendeu dólares com esse tipo de operação foi em 26 de junho de 2009. Dos 112.290 contratos que poderiam ser oferecidos pelo BC, foram vendidos 55.075 contratos (US$ 2,75 bilhões). A operação foi anunciada por volta de 10h e os lances foram feitos até 11h. A partir daí, a valorização perdeu força. Por volta de 13h03m, a moeda americana apresentava valorização de 0,80% ante o real, a R$ 1,880 na venda e a R$ 1,878 na compra. Na máxima do dia, em pouco mais de uma hora de negociação, a moeda americana chegou a R$ 1,963, alta de 5,25% no dia.
O dólar turismo, referência em casas de câmbio, ultrapassou nesta quinta-feira R$ 2,00 no Rio Grande do Sul (R$ 2,05) e em São Paulo (R$ 2,07). No Rio, o dólar turismo estava cotado a R$ 1,96.
- O desespero do mercado fez com que o BC atuasse, mas não precisava de tanto dólar. Teve muito especulador nos últimos dias - diz o gerente da mesa de câmbio da corretora Icap Brasil, Ítalo Abucater.
O Ibovespa, índice de referência do mercado, acompanhava mercados internacionais e desabava 4,21%, aos 53.622 pontos. Petrobras PN caía 4,17%, a R$ 19,74, Vale PNA tombava 4,34%, a R$ 41,56, e OGX Petróleo ON desabava 5,16%, a R$ 11,76.
O dólar não termina a sessão negociado acima de R$ 1,90 desde 1º de setembro de 2009. Na quarta-feira, a moeda americana fechou cotada em R$ 1,865, alta de 4,25% sobre o dia anterior, o que foi a maior expansão em termos percentuais desde 22 de outubro de 2008. O dólar não fechava acima de R$ 1,80 desde 30 de junho de 2010.
Para analistas, o dólar valorizou mais sobre o real do que em relação a outras moedas, porque havia mais capital financeiro do exterior concentrado no país.
- Estrangeiros tinham mais aplicações em real do que em outras moedas, porque o Brasil foi o queridinho do mercados nos últimos anos. Quando é pra liquidar, aquilo que foi mais comprado é o que mais cai - disse o economista Tony Volpon, diretor de pesquisa econômica nas Américas do banco japonês Nomura, em entrevista ao GLOBO por telefone de Nova York.
A escalada do dólar desta quinta-feira foi precipitada pelo comunicado do Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) divulgado na quarta-feira, que anunciou a injeção de US$ 400 bilhões para reativar a economia. A decisão fez investidores fugirem de investimentos mais arriscados em países emergentes como o Brasil, avalia Volpon. No documento, um trecho particularmente pessimista foi o Fed dizer que "existem riscos de deterioração significativa para a perspectiva econômica, incluindo feridas nos mercados financeiros globais".
Isso contribuiu para investidores venderem ativos mais arriscados em países emergentes e se refugiarem em investimentos mais seguros como títulos do tesouro americano e ouro. Só em setembro, das 16 principais moedas acompanhadas pelo mercado, o real tinha a maior desvalorização ante o dólar.
Essa aversão ao risco de estrangeiros só agravou a tendência de desvalorização do real inspirada pelo corte de 0,5 ponto da taxa básica de juros para 12% ao ano e pela cobrança de 1% de IOF sobre o saldo líquido de posições vendidas em dólar futuro. Essa taxação dos contratos de derivativos que apostam na valorização do real foi instituída em julho quando o governo queria frear a desvalorização do dólar. Mas os tempos mudaram e a tendência atual é de valorização do dólar, só agravada pela tributação do dólar futuro e juros menores.
- O feitiço voltou contra o feiticeiro. Até o fim do ano, o governo vai acabar abrindo mão do IOF no dólar futuro. E não vai mais reduzir o juro para trazer o gringo de volta e reduzir a inflação - avalia Abucater, da Icap Brasil.
Mercado externo
As bolsas americanas e europeias despencavam nesta quinta-feira após o anúncio na véspera de injeção de US$ 400 bilhões na economia pelo Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) e a divulgação de indicadores de desaceleração na China e na Alemanha.
Em Wall Street, o Dow Jones tombava 3,82%, S&P 500 recuava 3,51% e Nasdaq perdia 3,23%.
As bolsas europeias fecharam em forte queda. O Euro Stoxx 50, índice com 50 ações das principais empresas da zona do euro, tombou 4,90%. Em Londres, o FTSE 100 desabou 4,67%. Em Paris, o CAC 40 perdeu 5,25%. Em Frankfurt, o DAX derreteu 4,96%. Em Madri, o IBEX 35 retrocedeu 4,62%. Em Milão, o FTSE MIB teve forte queda de 4,52%.
A preocupação aumentou nesta quinta-feira depois que o índice PMI da China do HSBC mostrou que a indústria encolheu pelo terceiro mês consecutivo em setembro, indicando uma desaceleração na segunda maior economia do mundo. Também causou apreensão a divulgação de que a atividade econômica na Alemanha aumentou na taxa mais fraca em dois anos em setembro e encomendas caíram pelo terceiro mês consecutivo.
O BC americano informou na quarta-feira, em comunicado, que até o fim de 2012 vai comprar US$ 400 bilhões em títulos da dívida do Tesouro de longo prazo. Ao mesmo tempo, a autoridade monetária pretende vender o mesmo valor em títulos de curto prazo (três anos ou menos) para tentar estimular uma queda nas taxas de juros de empréstimos do setor privado, uma forma de estimular a economia.
As bolsas de valores asiáticas desabaram nesta quinta-feira, depois do alerta do Federal Reserve para os "riscos significativos" que a economia dos Estados Unidos enfrenta, enquanto dados mostraram evidência maior de desaceleração na China.
Em Tóquio, o índice Nikkei caiu 2,07%. O índice de Seul encerrou em baixa de 2,90%. O mercado tombou 4,85% em Hong Kong e a bolsa de Taiwan retrocedeu 3,06%, enquanto o índice referencial de Xangai perdeu 2,78%. Cingapura declinou 2,55% e Sydney fechou com desvalorização de 2,63%.

Comentários:

Postar um comentário

Template Rounders modificado por ::Power By Tony Miranda - Pesmarketing - [71] 9978 5050::
| 2010 |