quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

MUNDO: Trípoli é palco de tiroteios; opositores tomam diversas cidades

Da FOLHA.COM
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Intensos tiroteios foram registrados nesta quarta-feira em Trípoli, enquanto forças leais ao ditador da Líbia, Muammar Gaddafi, apertam o cerco na capital do país. Manifestantes antigoverno também dizem terem assumido o controle de diversas cidades, um dia depois de o mandatário ter afirmado, em discurso, que morrerá em solo líbio como "mártir".
Enquanto moradores de cidades na região leste do país celebravam, levantando bandeiras da antiga monarquia, o clima em Trípoli era de desânimo. Habitantes estavam com medo de sair de casa, afirmando que forças pró-Gaddafi estavam abrindo fogo aleatoriamente nas ruas.
A indignação internacional aumentou um dia depois de o ditador ter prometido defender seu regime e pedir para partidários que reprimam os manifestantes de oposição. Mesmo antes da ameaça, a retaliação de Gaddafi já era a mais forte no mundo árabe, desde que começaram a tomar as ruas revoltas antigoverno no Oriente Médio.
O ministro de Relações Exteriores da Itália, Franco Frattini, afirmou que estimativas de que cerca de 1.000 pessoas foram mortas na Líbia era "crível", apesar de sublinhar que informações sobre vítimas são incompletas. A ONG baseada em Nova York Human Rights Watch põe o número de mortos em quase 300, de acordo com uma contagem parcial.
Os confrontos em Trípoli ocorreram no momento em que relatos indicam que a oposição teria assumido o controle de Misrata, com testemunhas afirmando que pessoas buzinavam e levantavam bandeiras da monarquia pré-Gaddafi para celebrar.
Misrata seria a primeira grande cidade no oeste a ser tomada por forças antigoverno, que têm se concentram principalmente no leste. Faraj al Misrati, um médico local, afirmou que seis moradores foram mortos e 200 ficaram feridos desde 18 de fevereiro, quando manifestantes atacaram escritórios e prédios ligados ao regime.
Segundo ele, moradores formaram comitês para proteger a cidade, limpar as ruas e tratar dos feridos. "A solidariedade entre as pessoas aqui é incrível, até mesmo os inválidos estão ajudando", afirmou por telefone à agência de notícias Associated Press.
Novos vídeos postados pela oposição líbia no Facebook também mostram vários manifestantes levantando a bandeira da monarquia em um prédio em Zawiya, nas proximidades de Trípoli. Outras imagens mostraram diversas pessoas alinhando blocos de cimento e ateando fogo a pneus para fortificar posições em uma praça na capital.
As imagens não puderam ser confirmadas de forma independente.
Em um discurso televisionado na terça-feira, Gaddafi mostrou-se desafiador, prometeu lutar até sua "última gota de sangue" e gritou para que seus partidários contra-ataquem para defender seu regime. O discurso serviu como uma chamada para que líbios pró-Gaddafi controlem a capital e tomem de volta outras cidades.
Após uma semana de revolta, manifestantes apoiados por unidades do Exército que desertaram reivindicaram o controle de quase toda a parte leste da costa líbia, incluindo diversas áreas produtoras de petróleo.
"Vocês, homens e mulheres que amam Gaddafi, saiam de suas casas e lotem as ruas", afirmou o ditador. "Saiam de suas casas e os ataquem em suas tocas."
Tiros de celebração foram disparados por partidários do mandatário em Trípoli após o discurso, enquanto em Benghazi --a segunda maior cidade do país e controlada por opositores-- pessoas jogaram sapatos em uma tela que exibia o pronunciamento.
Uma mulher que vive perto do centro de Trípoli disse que intensos tiroteios ocorreram na manhã de quarta-feira quando partidários de Gaddafi, armados, e mercenários estrangeiros abriram fogo nas ruas. Ela afirmou que seu sobrinho está desaparecido desde terça-feira.
"Ele foi participar dos protestos e não voltou. A família inteira está surtando", contou, acrescentando que as ruas estão vazias e que os feridos não podem ir a hospitais por medo de serem baleados.
PERDENDO APOIO
Gaddafi aparenta ter perdido o apoio de ao menos uma importante tribo do país, de diversas unidades militares e de seus próprios diplomatas --incluindo o embaixador líbio em Washington, Ali Adjali, e o vice-embaixador na ONU (Organização das Nações Unidas), Ibrahim Dabbashi.
Oficiais do Exército líbio na zona de Al Jabal al Akhdar, no nordeste do país, anunciaram nesta quarta-feira que já fazem parte da "revolução do povo", em um vídeo divulgado pelas emissoras de televisão árabes Al Jazeera e Al Arabiya. O apoio mostra que a revolta popular contra o regime do ditador Muammar Gaddafi continua ganhando força, apesar da violenta repressão e confrontos que deixaram ao menos 300 mortos.
"Nós, os oficiais e os soldados das forças armadas na zona de Al Jabal al Akhdar, anunciamos nossa união total à revolução popular", disse um porta-voz militar das Forças Armadas líbias na região. O porta-voz anunciou ainda o compromisso desses militares em trabalhar para proteger as instalações públicas e privadas na região.
Fontes citadas pela cadeia Al Jazeera na terça-feira já anunciavam que os opositores do regime tinham tomado o controle de Al Baida, situada entre Benghazi e a fronteira com o Egito.
Já o responsável de relações gerais do Ministério do Interior líbio, Naji Abu Hrus, advertiu que em Al Baida foi proclamada a criação de "um emirado islâmico".
A embaixada líbia na Áustria condenou o uso de "excessiva violência contra manifestantes pacíficos" e disse em um comunicado nesta quarta-feira que está representando o povo líbio.
A crise soou o alarme internacional após os preços do petróleo terem atingido o nível mais alto em mais de dois anos na terça-feira e iniciaram uma corrida em diversos países para retirar seus cidadãos da nação do norte da África.
O Conselho de Segurança da ONU realizou uma reunião de emergência ontem que terminou com um comunicado condenando a repressão, expressão "séria preocupação" e pedindo por um "fim imediato da violência" e passos para atender as legítimas demandas do povo líbio.
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, também pressionou a União Europeia nesta quarta-feira para aplicar sanções contra o regime líbio, levantando a possibilidade de cotar todos os laços econômicos e de negócios entre o bloco e o país.
"A repressão brutal e sangrenta contra a população civil líbia é revoltante", Sarkozy afirmou em um comunicado. "A comunidade internacional não pode continuar como espectadora dessas massivas violações de direitos humanos."

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