sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

EDITORIAL: Tiroteio eleitoral

Do blog do NOBLAT
Deu em o globo

Mais uma inauguração serviu de precário biombo para um mal dissimulado comício da candidata Dilma Rousseff, fora de todos os prazos estabelecidos pela legislação eleitoral.
A entrega de uma barragem em Jenipapo de Minas, no pobre Vale do Jequitinhonha, na terça, foi apenas mais uma da série de viagens aproveitadas pelo presidente Lula, sob o pretexto de visitar ou entregar obras, a fim de pedir votos — de maneira também mal disfarçada — para a ministra-chefe da Casa Civil substituí-lo em 1 de janeiro no Planalto.
O mesmo deplorável desvio de recursos públicos para fins privados acontece quando o governador José Serra, de São Paulo, provável tucano a concorrer com Dilma, usa artifício semelhante. Ou inunda os meios de comunicação de propaganda do seu governo.
O passeio da comitiva presidencial pelo interior de Minas serviu de prévia do que poderá ser a campanha. A julgar pelo discurso de Dilma, os papéis de tucanos e petistas em 2010 serão o inverso daqueles de 2002 e idênticos aos de 2006.
Se, na campanha de 2002, o fantasma do salto no escuro se chamava Lula, agora o PT deverá exercitar ao máximo o discurso de que tudo considerado positivo pela população no governo Lula correrá riscos num eventual retorno do PSDB ao poder.
Convenhamos, avizinha-se uma campanha não apenas enfadonha, mas dessintonizada da agenda estratégica do país. O bate-boca travado em seguida ao comício de terça, a partir de uma nota do PSDB acusando a ministra de usar a “retórica do medo e da mentira” — como em 2006, quando Geraldo Alckmin apareceu em pronunciamentos petistas como o futuro responsável pela privatização do Banco do Brasil e da Petrobras —, deu o tom do que pode estar por vir.
Os tucanos deverão jurar que não extinguirão o Bolsa Família — cujo embrião, por sinal, surgiu na gestão FH — nem o PAC, petistas responderão com as mesmas acusações, e o país perderá oportunidade preciosa para saber como os candidatos pretendem resolver questões graves.
Por exemplo, como, sem desestabilizar a economia, manter programas sociais e, ao mesmo tempo, promover o salto de qualidade de que o ensino básico necessita com urgência; acelerar os investimentos numa infraestrutura acanhada e sem a devida manutenção há tempos, assim como definir o caminho do aumento da eficiência do sistema de saúde, sem precisar ampliar gastos, já elevados.
Para a nação, é melhor debater esta agenda do que converter a campanha num evento bélico em que a verdade será a primeira vítima.

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