quarta-feira, 10 de maio de 2017

MUNDO: Protesto em Caracas tem 'repressão selvagem' e mais um jovem morto

OGLOBO.COM.BR
POR O GLOBO COM AFP

Diante de ataques de policiais, manifestantes jogam pedras e lançam bombas de fezes

Manifestantes se protegem de um caminhão da polícia que joga água durante protestos contra o presidente venezuelano, Nicolás Maduro - JUAN BARRETO / AFP

CARACAS — Forças de segurança da Venezuela entram em confronto com manifestantes que participam de uma marcha na avenida Francisco Fajardo, uma das principais de Caracas, num novo dia de protestos que teve mais um jovem assassinado. Enquanto os policiais tentavam dispersar os protestos com jatos d’água e gás lacrimogêneo, manifestantes lançaram pedras contra os agentes. Alguns dos jovens prepararam bombas de fezes, que chamam de “puputov”, para jogar nos policiais. O líder opositor Henrique Capriles afirmou que a polícia fazia uma "repressão selvagem" à manifestação.
Com escudos improvisados e os rostos escondidos atrás de panos e máscaras, jovens manifestantes resistiam a bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água lançados pela polícia antimotim que tenta dispersar o protesto na estratégica avenida de Caracas. Os opositores saíram de sete pontos de Caracas e marcharam pacificamente até que encontraram com as forças de segurança.
Segundo o jornal venezuelano “El Nacional”, um grupo de coletivos — milícias armadas leais ao chavismo — emboscou a tiros uma concentração opositora em La Candelaria, outro ponto de Caracas, que tentava se reunir com a marcha principal. O ataque não deixou feridos inicialmente, segundo o diário.
— Quando fecham todas as portas democráticas a um povo, o que resta? Ir às ruas. Estamos em uma fase de resistência — declarou o líder da oposição Henrique Capriles, encorajando manifestações em todo o país.
Na altura do bairro Las Mercedes, uma área nobre da capital, o jovem Miguel Castillo Bracho, 26 anos, foi baleado nas costas e morreu antes mesmo de chegar a uma policlínica local. O Ministério Público confirmou a morte, sem precisar de onde ou quem teria partido o tiro.
Indignado, um grupo de manifestantes foi à clínica de Las Mercedes, para onde foi levado o jovem, após ter sido ferido mortalmente.
— Estão nos matando, sejam crianças, idosas, jovens. Estão nos matando, p*! — gritou um jovem.
— Até quando? Hoje é um garoto de 27 anos — protestou uma mulher.
Gerardo Blyde, prefeito do município de Baruta - cuja região administrativa abriga Las Mercedes -, assegurou que o jovem morreu vítima de um ferimento intercostal, mas não informou o tipo de artefato que o provocou.
"Miguel era filho da funcionária administrativa do governo municipal de Baruta. Exigimos justiça verdadeira, promotora", manifestou-se o prefeito no Twitter, ao dirigir a mensagem à titular do Ministério Público, Luisa Ortega, chavista confessa, que tem se mostrado em desacordo com a ação das forças de segurança.
Onda de manifestantes tomou a autopista Francisco Fajardo - JUAN BARRETO / AFP

A oposição venezuelana tentava chegar nesta quarta-feira ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), no centro de Caracas, cujas decisões contra o Parlamento fizeram iniciar os protestos. Policiais foram mobilizados para diversas ruas da capital venezuelana. Desde que os protestos iniciaram, as forças de segurança impedem os manifestantes opositores de chegar ao centro de Caracas, onde ficam a sede do governo e alguns ministérios.
Nesta quarta-feira, também foi confirmada mais uma morte, de um homem que foi baleado na cabeça durante um protesto na segunda-feira em Mérida. Anderson Enrique Dugarte, um mototaxista de 32 anos, permanecia hospitalizado no CTI do Hospital Universitário de Los Andres há três dias. As manifestações contra o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, já deixaram mais de 40 mortos em 40 dias, apesar de a morte do jovem nesta quarta-feira ser avaliada como a 38ª oficial.
A crise venezuelana ganhou um novo capítulo quando Maduro convocou, em 1º de maio, uma Assembleia Nacional Constituinte. A oposição chamam as decisões do governo de Maduro de golpe de Estado e insistem em exigir eleições gerais para tirá-lo do poder.
Homem se protege com um escudo durante confrontos entre manifestantes e forças de seguranças, na Venezuela - JUAN BARRETO / AFP

Parte dos manifestantes preparou os coqueteis “puputovs” para jogar nos agentes de segurança. Os “puputov” foram usados no fim de semana passado em um protesto em Los Teques, capital do estado Miranda, e depois disso a variedade da bomba tornou-se viral nas redes sociais. Alguns jovens explicaram que decidiram usar essa nova tática após o aumento da repressão da polícia.
— É uma maneira de nos ajudar, já que eles nos lançam gás lacrimogêneo. Como não temos gás lacrimogêneo, então usamos gás 100% natural — disse um dos manifestantes à imprensa.
As marchas têm sido alimentadas pelo descontentamento popular com a crise econômica que atinge o país rico em petróleo, bem como uma grave escassez de alimentos e medicamentos e uma inflação, a mais alta do mundo, que segundo o FMI será de 720% este ano.

Comentários:

Postar um comentário

Template Rounders modificado por ::Power By Tony Miranda - Pesmarketing - [71] 9978 5050::
| 2010 |