sexta-feira, 9 de outubro de 2015

DENÚNCIA: PF: Montadora pagou por 'vantagens' em ministério

OGLOBO.COM.BR
POR EDUARDO BRESCIANI E JAILTON DE CARVALHO

Caoa teria feito pagamentos e Fernando Pimentel seria o beneficiário

O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), em reunião dos governadores do Sudeste para discuir a crise econômica - Gabriel de Paiva / Agência O Globo / Arquivo 30/06/2015

BRASÍLIA — Relatório da Polícia Federal na Operação Acrônimo afirma que a empresa Caoa (fábrica da Hyundai no Brasil) fez pagamentos de “vantagens indevidas” a empresas de fachadas do empresário Benedito Rodrigues, o Bené, em troca da “intermediação de interesses privados” da empresa no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Os atos mencionados no relatório foram assinados por Mauro Borges, ex-ministro e atual presidente da Cemig. Ele sucedeu Fernando Pimentel (PT-MG), atual governador, que é apontado pela PF como beneficiário de recursos que passavam pelas empresas de Bené. Foi com base em registros obtidos no celular do empresário que a PF faz a relação entre as decisões e os repasses. Bené é amigo de Pimentel e foi preso na Operação.
Em fevereiro de 2014 Bené fala ao mesmo tempo com Borges e o presidente da Caoa, Antonio Maciel Neto, por meio de mensagens de texto. No dia 27 daquele mês, Bené diz a Maciel Neto que seu “amigo” está em Brasília. Na madrugada do dia 28 manda outra mensagem afirmando que tratou com o “substituto dele” sobre o tema que interessa ao presidente da montadora. Para a PF, o amigo é Pimentel e o substituto é Mauro Borges, que tinha assumido o ministério dias antes.
No dia 28, Maciel Neto manda mensagem para Bené dizendo que está mandando um “portador” ao ministério às 13h30 e pede ajuda ao empresário para que a “assinatura” ocorra ainda nesse dia. Por volta das 16 horas, Bené responde afirmando para que a entrega seja feita para Rubens Gama, que foi chefe de gabinete de Borges, ou para o próprio ministro. Quatro horas mais tarde, Maciel Neto afirma que “seu pessoal” está desde as 13h30 no escritório do ministro e pede ajuda novamente a Bené. Minutos depois, o empresário aciona diretamente o ministro:
“Opa! Se você puder botar pra andar aquele assunto q te falei ontem. Abs (sic)”, escreveu Bené para Borges.
O ministro responde apenas com um “Ok”. Bené, então, envia mensagem a Maciel garantindo a assinatura. Às 22h27, o ministro manda para Bené uma mensagem: “Assinei”. O empresário agradece e informa ao presidente da montadora. Somente no dia 12 de março de 2014 há o registro de nova troca de mensagens entre Bené e Maciel Neto. O empresário pede para o presidente da montadora “dar uma checada pois não apareceu nada até o momento”. Meia hora depois, Maciel Neto responde para Bené que o assunto foi resolvido. Nesse dia, a Caoa faz um repasse de R$ 450,4 mil para a Bridge Participações, uma das empresas de fachada de Bené.
Bené e Maciel Neto trocaram mais mensagens entre março e maio de 2014. O presidente da montadora repassa informações e pede que o empresário lhe telefone para falar do “segundo projeto”. Em maio, a Caoa faz mais dois repasses a empresas de Bené totalizando R$ 469,2 mil. No mesmo mês, portaria assinada por Borges habilitou a Caoa em um programa de incentivo do ministério, o Inovar Auto.
RELATÓRIO TRAZ CONVERSAS AO TELEFONE
Outros registros no celular do empresário tratam de uma portaria do programa. Um e-mail de 4 de agosto de 2014 tem como título “portaria que Mauro precisa ver”. O resumo diz que se trata de rastreabilidade de autopeças. No mês seguinte, portaria assinada pelo ministro faz regulamentação complementar ao Inovar Auto e trata da rastreabilidade. No dia seguinte à publicação da portaria, há o registro de que Bené se registrou em uma rede com o título “Dr. Caoa”.
O relatório trata ainda de outros registros de conversas de Bené que mostrariam encontros de Pimentel com Carlos Alberto de Oliveira Andrade, dono da Caoa. A PF fala também da proximidade de Bené com Pimentel. Cita registro de uma mensagem em que o empresário afirma que vai almoçar no apartamento de Fernando na “114 sul”. Carolina Oliveira, primeira-dama de Minas Gerais, morava em um apartamento nessa quadra em Brasília na época. A PF destaca que as empresas de Bené receberam ao todo R$ 2,1 milhões da Caoa para serviços de consultoria. Para os investigadores, as empresas são de fachada e não teriam qualquer condição de prestar os serviços descritos nos contratos com a montadora.
O advogado José Luiz de Oliveira Lima, que defende Bené, disse que o o processo é sigiloso e “no momento oportuno todos os esclarecimentos serão prestados”. O GLOBO também procurou os advogado José Roberto Battochio, que defende a Caoa, e Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que defende Pimentel, mas não houve retorno às ligações. Mauro Borges não foi localizado.

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