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POR JULIANA CASTRO
Othon Luiz Pinheiro da Silva pediu licença do comando da Eletronuclear em abril
Othon LuizPinheiro da Silva, presidente licenciado da eletronuclear - Gustavo Miranda (11/03/2014) / Agência O Globo
RIO - Preso nesta terça-feira durante a 16ª fase da Operação Lava-Jato, o presidente licenciado da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva, recebeu em 1978 a incumbência de iniciar os primeiros estudos para um submarino nuclear brasileiro e liderou o Programa Nuclear Paralelo entre 1979 e 1994. Executado sigilosamente pela Marinha, o projeto resultou no desenvolvimento da tecnologia 100% nacional de enriquecimento do urânio pelo método de ultracentrifugação. Engenheiro e vice-almirante reformado, Othon disse em entrevista ao GLOBO, em março do ano passado, que o objetivo inicial do projeto foi desenvolver a tecnologia de propulsão nuclear e admitiu que o governo militar da época tinham interesse bélico no programa.
O Brasil desenvolveu na década de 1970 dois ambiciosos planos nucleares - um público e outro secreto. O projeto oficial foi anunciado em 1974 a partir de um acordo com a Alemanha. Em face dos resultados não satisfatórios, os militares brasileiros desenvolveram a partir de 1979 o Programa Nuclear Paralelo, que foi mantido durante um longo período fora do conhecimento público e fora do alcance dos inspetores da Agência Internacional de Energia Nuclear (AIEA). Em setembro de 1987, o então presidente José Sarney anunciou o domínio do enriquecimento do urânio, alcançado pelos pesquisadores envolvidos no projeto. No ano seguinte, o programa foi incorporado às pesquisas oficiais.
O nome de Othon Luiz Pinheiro da Silva já havia aparecido na Lava-Jato. O ex-presidente da Camargo Corrêa Dalton Avancini afirmou que coube à UTC, com participação do empreiteiro Ricardo Pessoa, convocar uma reunião para acertar propina ao PMDB e a dirigentes da Eletronuclear, entre eles Othon Luiz Pinheiro da Silva. O depoimento de Pessoa, da UTC, reforçou o teor da delação de Avancini. A construção de Angra 3, alvo das investigações da Lava-Jato porque teria havido ajuste prévio de licitações nas obras, e a operação de Angra 1 e 2 ficam a cargo da Eletronuclear.
Othon pediu licença do cargo de presidente da Eletronuclear em abril, após notícias veiculadas na imprensa de que teriam sido feitas negociações para pagamento de supostas propinas a ele nas obras da usina nuclear de Angra 3. Enquanto isso, a presidência interina é exercida por Pedro José Diniz de Figueiredo, que estava na Diretoria de Operações da estatal. Othon estava à frente da Eletronuclear desde outubro de 2005.
Nascido em 25 de fevereiro de 1939 em Sumidouro, no interior do Rio, Othon é engenheiro naval formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, com mestrado na área nuclear no Massachusetts Institute of Technology (MIT). De 1982 a 1984, acumulou com suas funções na Marinha do Brasil o cargo de diretor de Pesquisas de Reatores do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), ocasião em que foi construído o Reator IPEN-MB-01 (único reator de pesquisas projetado e construído com equipamentos nacionais).
Em 1994, foi para reserva na Marinha do Brasil no posto de Vice-Almirante do Corpo de Engenheiros e Técnicos Navais, o mais alto posto da carreira naval para oficiais engenheiros. Por seu trabalho, Othon recebeu em 2011 da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) o título de cidadão benemérito do Estado do Rio.
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