sexta-feira, 19 de junho de 2015

CASO PETROBRAS: Ex-presidente da Camargo Corrêa apresentou prova contra Odebrecht e Andrade Gutierrez

OGLOBO.COM.BR
POR CLEIDE CARVALHO / GERMANO OLIVEIRA

Sérgio Moro citou e-mail endereçado às empreiteiras como prova de atuação no cartel
O diretor-presidente da construtora Camargo Corrêa, Dalton dos Santos Avancini, durante depoimento na CPI da Petrobras - Agência Brasil / Wilson Dias

SÃO PAULO — O ex-presidente da Camargo Corrêa, Dalton Avancini, que assinou delação premiada na Operação Lava-Jato, apresentou provas que ajudam a incriminar executivos da Odrebrecht e da Andrade Gutierrez. Entre essas provas está uma mensagem por e-mail encaminhada aos participantes do cartel da Petrobras em 3 de setembro de 2011, agendando um encontro no escritório da construtora Andrade Gutierrez, em São Paulo. A PF prendeu os presidentes das duas construtoras na manhã desta sexta-feira, durante a 14ª fase da Operação Lava-Jato.
Entre os destinatários do e-mail estão Márcio Farias da Silva, membro do conselho de administração da Odebrecht e diretor da área de Engenharia Industrial, e Elton Negrão de Azevedo Júnior, da Andrade Gutierrez. Farias também foi preso preventivamente na nova etapa da Lava-Jato, batizada de "Erga Omnes", e Elton Negrão prometeu se apresentar à PF ainda hoje.
"Não só há prova oral da existência do cartel e da fixação prévia das licitações entre as empreiteiras, com a participação da Odebrecht e da Andrade Gutierrez, mas igualmente prova documental consistente nessas tabelas, regulamentos e mensagens eletrônicas", afirmou o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, no despacho em que determinou a prisão de representantes das duas empreiteiras.
Segundo despacho de Moro, também foi encontrado pelo menos um depósito, no valor de US$ 300 mil, feito sem setembro de 2013 na conta da off-shore Canyon View Assets, controlada por Pedro Barusco e no qual consta expresso o nome da Odebrecht como responsável pela transação.
Durante a coletiva da Polícia Federal nesta sexta-feira, a força-tarefa também justificou a prisão dos executivos:
— Os presidentes das empresas sabiam de tudo. Apareceram indícios concretos comprovando que eles tiveram contato ou participações diretas em atos que levaram a formação de cartel — disse o procurador Carlos Fernando Lima.
A Odebrecht, segundo as investigações da PF e do Ministério Público Federal, efetuava pagamentos no exterior. Moro lembra que a existência de contas no exterior já foram comprovadas, com a localização de 20 milhões de euros em contas secretas do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque no Principado de Mônaco, além dos valores em contas do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa (US$ 23 milhões) e do gerente Pedro Barusco Filho (US$ 97 milhões). As contas identificadas em nome do ex-diretor da Àrea Internacional da estatal Nestor Cerveró estavam zeradas.
A participação de representantes da Odebrecht e da Andrade Gutierrez no cartel e a atuação deles como responsáveis pelo pagamento de propinas foram alvo de depoimentos de vários delatores da Lava-Jato. Paulo Roberto Costa apontou Márcio Faria da Silva e a Rogério Santos de Araújo, diretores da Odebrecht. O doleiro Alberto Youssef citou especificamente Márcio Faria. Na Andrade Gutierrez, Costa indicou Paulo Roberto Dalmazzo, que era diretor da empreiteira.
O empresário Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, do Grupo Setal Óleo e Gás, também confirmou a participação no cartel da Odebrecht e da Andrade Gutierrez, e apontou como representantes no cartel por Márcio Faria e Elton Negrão de Azevedo Júnior.
O empresário Gerson de Mello Almada, acionista e dirigente da Engevix, que não assinou delação premiada, também confirmou que a Odebrecht e a Andrade Gutierrez participavam do cartel, apontando Márcio Faria e Paulo Dalmazzo como representantes.
Propinas da Odebrecht eram controladas por operador suíço
"Pelas provas até o momento colhidas, a Odebrecht pagaria propina de maneira geral de forma mais sofisticada do que as demais empreiteiras, especialmente mediante depósitos em contas secretas no exterior", disse o juiz Moro em seu despacho.
As propinas a Costa teriam sido pagas por Rogério Araújo, Diretor da Odebrecht, e intermediada por Bernardo Schiller Freiburghaus, dono da Diagonal Investimentos, que exercia papel similar ao de Youssef. Freiburghaus já havia trabalhado em bancos das Suíça e há informações que ele teria se formado em economia naquele país. Costa e Freiburghaus se reuniam a cada dois meses para controle dos saldos das contas no exterior e depósitos de propinas pela Odebrecht. Freiburghaus se responsabilizava, até mesmo, por por aplicar os valores em fundos de investimentos nos bancos Suíços. Para não deixar rastro, ele apresentava os valores a Costa e destruía os extratos bancários. De tempos em tempos, o dono da Diagonal mudava inclusive as contas e os bancos, para apagar vestígios. Segundo despacho do juiz Moro, várias das contas de Costa tinha Freiburghaus como procurador.
Freiburghaus também consta como procurador em contas mantidas na Suíça por Pedro Barusco. De nacionalidade suíça, o empresário morava no Brasil e, em setembo de 2014, apresentou declaração de saída definitiva do Brasil junto à Receita Federal.
"A fuga do intermediador de propinas e de lavagem de dinheiro que prestava serviços para a Odebrecht prejudicou as investigações em relação a referida empreiteira", disse Moro.

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