terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

COMENTÁRIO: Bochicho pró-impeachment cresce, mas Dilma consolida aposta na retranca

Por Mário Magalhães - UOL.COM.BR
Blog do Mário Magalhães

O ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas, apelou a metáfora para interpretar as consequências do 7 a 1 que o governo levou na eleição para presidente da Câmara, agora comandada pelo peemedebista Eduardo Cunha: “Um jogo de futebol tem carrinho, puxão na camiseta e até canelada. Quando termina, os amigos sentam e tomam uma cervejinha. É isso”.
Ignoro se o ex-prefeito torce pelo Caxias ou pelo Juventude, se tem mesmo intimidade com o antigo esporte bretão, como o ex-presidente Lula, ou dá chutes metafóricos somente orientado por assessores, como parece ser o caso da presidente Dilma Rousseff.
A imagem desenhada pelo ministro omite o essencial: uma partida de futebol tem vencedor e vencido.
Numa competição de longo curso, quem ganha fica mais forte, e quem perde fica mais fraco.
Em torneio mata-mata, derrota equivale a eliminação.
A goleada do domingo é grave para o governo porque demonstrou que a base confiável da presidente eleita pela maioria dos brasileiros é rigorosamente minoritária na casa dos deputados.
O candidato de Dilma, Arlindo Chinaglia, amargou uma sova de votos em começo de governo, quando se descortinam quatro anos de agrados a quem costuma gostar de agrados.
O revés na Câmara, se o governo Dilma Reloaded mantiver a rota de momento, significará o reforço na - eis, ministro, outra metáfora futebolística - retranca estabelecida até agora.
Qualquer cidadão intelectualmente honesto - e não fanático ou com interesses muito particulares - sabe que a presidente se elegeu com discurso de esquerda, mas implementa uma administração com acentuados tons de direita.
Convocou ministros conservadores, sacrificou conquistas dos trabalhadores, punindo assalariados, e impôs um arrocho que prejudica sobretudo os mais pobres.
Ao seguir nesse rumo, Dilma destruirá o pacto social e político que a empurrou à vitória no segundo turno.
Em vez de amansar seus oponentes, incentiva-os a buscar o que semanas atrás era inominável para alguns, mas vem deixando de ser: a sugestão de abreviar o mandato conferido soberanamente pelo sufrágio popular.
No início, apenas boçais descomprometidos com a democracia acorriam à avenida Paulista para propor intervenção militar ou  - o resultado é igual - impeachment.
Depois, figuras caricaturais principiaram a falar. Um exemplo é o ex-candidato presidencial Levy Fidelix, na festa que celebrou o triunfo de Eduardo Cunha: “A vida da Dilma vai ser um inferno. vai vir impeachment''; “quem vai assumir é o [Michel] Temer, em nove meses''.
Voltando ao futebol, o jogo está sendo jogado.
Inexiste prova ou indício de envolvimento da presidente com a roubalheira na Petrobras.
Ao abrir mão da plataforma que a impulsionou ao segundo mandato, Dilma Rousseff frustra parcela dos seus eleitores e fortalece seus adversários.
E para os adversários, como evidencia a amostra de opiniões acima, o impeachment deixa de ser assunto para sussurros constrangidos e ganha pompa de discurso.
Por enquanto, mobilizações golpistas pela saída da presidente constitucional não levarão massas às ruas.
Mas a política recessiva e avessa aos interesses de quem vive de salário - em suma, a retranca - pode atrapalhar Dilma.
Ainda mais com seu inimigo Eduardo Cunha à frente da Câmara.

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